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A Análise do Comportamento e as Políticas Públicas: o Analista do Comportamento como um agente político formal

Muitas críticas já foram feitas á utopia skinneriana e ao modelo de expansão de sua filosofia política: Walden Two.

Walden Two foi apresentada como projeto ético e político para toda humanidade em 1948 e Skinner defendeu isso até o final de sua vida. Mas até hoje apesar de vários filósofos, cientistas políticos, sociólogos, antropólogos e psicólogos terem tomado conhecimento da proposta política de Skinner para o mundo (mesmo que precariamente…) e milhares de exemplares de Walden Two terem sido comercializados, 60 anos depois de o livro ter sido escrito existe apenas uma comunidade nos moldes skinnerianos e que conta apenas com 4% do total de habitantes que Skinner idealizou como número ideal.

Fundada em 1973 no México Los Horcones (http//:www.loshorcones.org.mx/) apresenta-se como única comunidade que segue os princípios de uma comunidade nos moldes skinnerianos e o principal deles, inclusive: a experimentação contínua das práticas culturais.

“Se Walden II pretende-se um projeto universal, é natural investigar as possibilidades desta universalização – mesmo por que, caso cheguemos á conclusão que a expansão do modelo Walden II é impraticável, teremos descobertos sérios limites ao Behaviorismo Radical enquanto filosofia política” (DITTRICH, 2004).

A existência de comunidades como a de Los Horcone se baseia na crença, que foi introduzida por Skinner, de que se está “… criando uma nova sociedade ao se oferecer uma alternativa á sociedade atual ao invés de destruí-la. Essa estratégia para a mudança social é uma extensão da estratégia de eliminar um comportamento reforçando aquele que seja incompatível com o mesmo. (…) A solução não é responder com pacifismo á agressão, mas, ao invés disso, construir uma sociedade onde a agressão não será reforçada. (…) Não queremos controlar a economia ou a política de qualquer país” (Comunidade Los Horcones, 1986 apud Dittrich, 2004).

No entanto a maneira que Skinner idealizou de mudança social talvez não seja tão eficaz quanto o mesmo tenha imaginado.

O fato de Los Horcones ter somente 4% do total de habitantes que Skinner idealizou como número ideal é um dado bem representativo das dificuldades que esse modelo nos impõe á sua adesão.

Dittrich (2004) afirma que a ação política do exemplo pode não ser tão eficaz quanto Skinner imaginava.

“A julgar, por exemplo, por Los Horcones (embora seja sempre arriscado argumentar a partir de um único caso). A falta de recursos humanos é um sério problema para a comunidade. No entanto, seus membros, expõem em seu site, uma lista de motivos bastante plausíveis para justificar o baixo número de adesões: 1)julgamentos equivocados sobre o behaviorismo radical e a análise do comportamento; 2) o egoísmo ou falta de espírito comunitário daqueles que buscam juntar-se ao grupo; 3)o pequeno tamanho da comunidade (já que muitas pessoas estão habituadas a viver em grandes cidades); 4) o fato de a comunidade estar situada no México, ou de ter um clima quente; 5) a falta de recursos financeiros, e mesmo; 6) a falta de propaganda sobre o empreendimento (atribuída á escassez de recursos financeiros). Evidentemente, seria precipitado concluir, a partir do caso Los Horcones pela ineficácia do exemplo sob todas as circunstâncias. A dinâmica de expansão de uma modelo de convivência social deve ser explicada, pela interação de diversos fatores, como mostra a própria lista de motivos elaborada pelos membros de Los Horcones. Além disso, romper com um certo padrão de vida e juntar-se a um experimento comunitário é,certamente, uma decisão difícil para qualquer ser humano. Talvez Los Horcones seja um experimento inspirador e empolgante para muitos analistas do comportamento. Por que tão poucos juntam-se á comunidade?Por que são produtos de suas culturas, e – mesmo que as critiquem – encontram nela seus reforçadores.” (DITTRICH, 2004).

Como se pode ver na fala de Dittrich os motivos que podem levar a falência dos projetos baseados na utopia skinneriana não são irrelevantes.

A situação não seria tão complexa se o Analista do Comportamento não fosse um agente político.

“Se a análise do comportamento possui certos objetivos éticos e se o analista do comportamento, busca concretizá-los, então o analista do comportamento é um agente político. Na verdade o analista do comportamento é um agente político pelo simples fato de produzir mudanças sociais com conseqüências éticas. Assim como uma metafísica, uma ética não é, necessariamente, um conjunto de regras que escolhemos antes de agir. A ética, como vimos, trata primordialmente das conseqüências do comportamento. Assim, a ética está intrinsecamente presente na atuação profissional, como controla esta atuação. Para o analista do comportamento, não se trata, portanto, de escolher entre ser ou não um agente político no simples ato de aplicar a ciência.” (DITTRICH, 2004).

De acordo com a falação de Dittrich todos que agem baseados em uma ética provocam mudanças no nosso mundo. Como seria impossível viver num mundo sem um controle ético repassado de geração a geração é de se supor que todos nós agimos politicamente perante o nosso ambiente, nosso mundo. Não gostar de discutir política é gostar de alguma coisa, por exemplo. A delimitação da ação de cada pessoa de dá por si só. O cético tem somente mais uma postura assim como o crente em Deus. O ateu e o agnóstico também. Mesmo o Analista do Comportamento “neutro” produz conseqüências que influenciam as práticas culturais durante a sua intervenção.

Claro que o fato de nossas ações provocarem mudanças no mundo do ponto de vista político e ético não significa dizer que todas essas ações têm qualidade. Que todas essas ações promovam o desenvolvimento ou sobrevivência da cultura, do grupo, do repertório verbal.

“Ação política é sempre uma questão de manipular contingências de reforçamento” (SKINNER, 1969 apud DITTRICH). Todos manipulam contingências de reforçamento.Atém mesmo aqueles que nossa cultura considera como “desprovidos de consciência”, na verdade as pessoas que não têm a capacidade como os demais membros de nossa cultura de falar deles mesmos, de discriminar uma parte das contingências que os controlam.

Dittrich (2004) afirma que o aspecto importante da definição do conceito de política, refere-se obviamente, ao fato de esta ser qualificada como um conjunto de ações com certas conseqüências assim “o behaviorismos radical é necessariamente uma filosofia política, e o analista do comportamento, um agente político”. (DITTRICH, 2004)
O presente texto partido da conclusão acima busca propor uma alternativa efetiva de ação política para o Analista do Comportamento comprometido com a sobrevivência da cultura.

Skinner (1971, apud Dittrch, 2004) afirma que talvez agora nós não possamos agora, planejar uma cultura bem sucedida como um todo, mas nós podemos planejar práticas melhores de maneira gradual. Em suma ”podemos lidar com práticas culturais como um todo, tal como no pensamento ‘utópico’, gradualmente, modificando uma técnica de contracontrole de cada vez”.

A posição de Skinner em 1971 é muito mais factível do que o comprometimento pessoal de Analistas do Comportamento e outras pessoas com projetos utópicos. Mas mesmo que o Analista do Comportamento ainda esteja descomprometido com projetos utópicos ele é um agente político.

“Uma opção produtiva para o analista do comportamento eticamente comprometido […] é assumir vigorosamente se papel enquanto agente político fortalecendo a influência da comunidade dos analistas do comportamento sobre as decisões que moldam as políticas públicas” (DITTRICH, 2004).

Mas por que as Políticas Públicas?
Praticamente todas as práticas culturais dos seres humanos na sociedade ocidental sofrem influência direta e indireta de Políticas Públicas internacionais, nacionais, estaduais e municipais.

E o que seriam Políticas Públicas?
Políticas Públicas é um conjunto de objetivos que informam determinado programa de ação governamental – estatal – e condicionam a sua execução.

As Políticas Publicas interferem em vários contextos e se interligam direta e indiretamente: Saúde Pública, Segurança Pública, Educação Pública, políticas de geração de renda e emprego, políticas econômicas, políticas de desenvolvimento tecnológico e científico, políticas de desenvolvimento sustentável microrregional, macrorregional e regional, políticas habitacionais,etc.

As Políticas Públicas têm caráter necessariamente abrangente, geral.
Skinner (1956, apud Dittrch, 2004) afirma que é mais efetivo mudar a cultura do que o indivíduo, por que qualquer efeito sobre o indivíduo enquanto tal será perdido quando ele morrer. Dado que culturas sobrevivem por períodos mais longos, qualquer efeito sobre elas é mais reforçador.

Enquanto isso Fawcett e cols. (1988, apud Dittrch, 2004) afirma que os analistas do comportamento terão mais influência sobre as práticas culturais se trabalharem na arena das políticas públicas do que se trabalharem como clínicos individuais ou como analistas aplicados do comportamento.

A Força Tarefa em Políticas Públicas da Associação Internacional de Análise do Comportamento (ABA) composta por Fawcett, Seekins e colaboradores afirma que, falta-nos, [aos Analistas do Comportamento] contudo uma cultura de atuação profissional junto ao poder público, que contemple, entre outros temas, 1) a coleta e apresentação de dados experimentais relevantes para a formação de políticas públicas junto aos fóruns adequados de discussão; 2) a formação de parcerias colaborativas entre analistas do comportamento e formadores de políticas públicas, agentes comunitários e institucionais, a partir da identificação de objetivos comuns.

Ademais acrescentaria à discussão alguns temas necessários para que essa inexistente cultura de atuação profissional junta ao poder público exista em nosso meio: 1) a necessidade da existência de uma instituição científica e profissional de Análise do Comportamento, de preferência autônoma em relação ao poder público, para que possa representar os anseios dos Analistas do Comportamento junto á Sociedade e ao Estado além de expor publicamente o desejo do Analista do Comportamento de se inserir no planejamento de práticas culturais; 2) a capacitação dos Analistas do Comportamento com base em outros paradigmas de atuação que contrariem os ensinados nos cursos de Psicologia 3) a conscientização dos profissionais Analistas do Comportamento para a necessidade de participação em concursos público visando adentrar o ambiente de trabalho estatal e garantir espaço de atuação 4) uma mudança do foco na pesquisa aplicada que deve se preocupar em analisar comportamentos socialmente importantes ao invés de estabelecer procedimentos tecnológicos para somente promover a satisfação do consumidor. Cabe ressaltar que as três últimas temáticas podem e devem ter suas discussões iniciadas e encabeçadas pela entidade representante dos Analistas do Comportamento no Brasil que poderá existir. A autonomia de uma instituição representativa da Análise do Comportamento no Brasil se faz necessário para que os objetivos éticos da Análise do Comportamento brasileira não se confundam com os objetivos de gestões governamentais e sim com o sistema de leis e normas que garante um contexto razoavelmente democrático na atual conjuntura brasileira.
Cabe ressaltar que existe o perigo dos Analistas do Comportamento inseridos oficialmente nas Políticas Públicas se comprometerem estritamente com objetivos partidários e não com a evolução das práticas culturais. Na verdade é impossível um servidor público não reforçar direta ou indiretamente uma determinada gestão. O cuidado deve ser tomado para que exista um compromisso mínimo com uma administração pública séria, responsável e comprometida eticamente.
A efetividade máxima da atuação da Análise do Comportamento somente será conhecida quando atuarmos na arena das Políticas Públicas.

Referências Bibliográficas

DITTRICH, Alexandre. Behaviorismo radical, ética e política: aspectos teóricos do compromisso social. Tese de Doutorado. São Carlos: UFSCar, 2004, 480 p.

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