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Sobre o significado do termo "radical" no behaviorismo de B.F. Skinner

O Behaviorismo Radical e a Análise do Comportamento foram criticados inúmeras vezes ao longo da história como sendo propostas extremistas de psicologia. De fato, para muitos psicólogos e estudantes de psicologia, a abordagem comportamental já demonstraria radicalismo em seu próprio nome, Behaviorismo Radical, termo compreendido pela crítica na acepção de extremista, inflexível, radicalista. Assim, o objetivo deste texto é apontar que esta é uma visão errônea do emprego da palavra “radical” e elucidar o real significado do termo no sistema skinneriano de psicologia. Inicialmente, é importante observar a distinção entre Behaviorismo Radical e Análise do Comportamento.
O Behaviorismo Radical é uma filosofia da ciência preocupada com o objeto de estudo e os métodos da psicologia, enquanto que a Análise do Comportamento é uma prática científica, experimental e aplicada que, orientada pelas concepções filosóficas do Behaviorismo Radical, tem como objetivo investigar os processos básicos que permitem explicar, prever e controlar o comportamento (SKINNER, 1963/1969). Skinner propõe o Behaviorismo Radical em contraposição a várias propostas de entendimento da psicologia, determinando o comportamento como o objeto de estudo da psicologia, ao invés da mente ou da psique, como tradicionalmente vinha sendo feito. É nesse sentido que o termo "radical" se aplica: essa palavra tem origem no latim radix, que significa raiz, ou seja, aquilo que é básico e essencial.

O Behaviorismo Radical só é radical porque entende que o objeto de estudo fundamental da psicologia é o comportamento. Nas palavras de Kohlenberg e Tsai (2001), "(…) o behaviorismo é uma teoria rica e profunda, que procura chegar às raízes do comportamento humano" (p. 3). Ao afirmar que o objeto de estudo da psicologia é o comportamento – compreendido como toda e qualquer interação do organismo com o ambiente – o Behaviorismo Radical inclui os eventos abertos e encobertos, ou seja, não afasta qualquer ação humana do escopo de sua análise, como alguns supõem. Portanto, apesar dos eventos subjetivos serem acessíveis apenas pela pessoa que os experiencia, eles não deixam de ser objeto de investigação, assim como o são os comportamentos publicamente observáveis (SKINNER, 1974/1995).

Dessa forma, andar, comer, escutar Mozart, calcular equações matemáticas, ler Dostoievski, ter consciência de que existe, pensar sobre a própria finitude e amar são exemplos de comportamentos que podem ser estudados por um behaviorista radical. Em suma, todo e qualquer fenômeno dentro do âmbito psicológico pode se constituir como objeto de análise. Em conclusão, "o verdadeiro radical é aquele que tenta chegar à raiz das coisas, que não se distrai pelo superficial, vendo floresta no lugar de árvores. É bom ser radical. Qualquer pessoa que pense com profundidade será um deles" (PECK, 1987, citado por KOHLENBERG & TSAI, 2001). É nesse sentido, e somente nesse, que o Behaviorismo Radical é, de fato, radical.

Referências

KOHLENBERG, R. J., TSAI, M. (2001). Psicoterapia analítica funcional: criando relações terapêuticas intensas e curativas. Santo André: ESETec.

SKINNER, B.F. (1963/1969). Contingencies of reinforcement: a theoretical analysis. New York: Appleton-Century-Crofts.

SKINNER, B.F. (1974/1995). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix.

* Agradeço ao Prof. Dr. Marcelo Frota Benvenuti pela revisão deste texto.

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