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Em algum lugar do passado

Nome de filme, do qual fez parte o ator Cristopher Rieve. Se me lembro bem, existia um medalhão, o qual servia de "ponte" entre o presente e o passado.

Pensando bem, este é um filme que poderia servir como a história da vida de qualquer pessoa. O que significam, para nós, as palavras PASSADO, PRESENTE E FUTURO.

Há muito tempo, uma pessoa conhecida passando férias na praia com a família, começou a ter um pensamento recorrente de que  sua esposa e um sobrinho, estavam se insinuando mutuamente.

Num dado momento, a pressão se tornou insustentável e estando sozinho com a esposa começou por agredi-la verbalmente, passando em seguida para a agressão física, tendo feito um "estrago" considerável.

Passados vários anos deste fato, ao encontrá-lo casualmente, o mesmo me disse que havia se reconciliado com a esposa, mas que tinha a sensação de que a "briga" tinha ocorrido, no máximo ontem.

O que nos leva a pensar no conceito de atemporalidade. Freud nos falou insistentemente da atemporalidade inconsciente, o que, em termos muito simplistas, significaria que o funcionamento inconsciente não é regido pelo tempo cronológico, ao qual estamos habituados no nosso dia a dia ao marcarmos nossos compromissos, ou mesmo quando nos lembramos de fatos inerentes à nossa infância, etc.

Além disso, nos surpreendemos fazendo planos para o futuro. Assim, desde a ótica da consciência, temos o exato sentido sobre onde estamos localizados, ou seja no passado, no presente ou fazendo planos para o futuro.

Também, desde a mesma ótica, vivemos a realidade do "ou", sendo que uma pessoa pode estar viva OU morta, o que não ocorre desde a ótica da inconsciência, onde temos como imperativo, a realidade do "e".

Um dos fenômenos emblemáticos do funcionamento inconsciente seria o sonho, e partindo desse fenômeno, podemos verificar que nos sonhos muitas vezes conversamos com pessoas as quais temos consciência, ainda no sonho, que já estão mortas.

Ou seja, no sonho, a pessoa pode estar morta e viva simultaneamente. Em nossa vida cotidiana, pode-se "esquecer" do que almoçamos, e ao mesmo tempo lembrarmos do nosso lanche na escola da infância, com uma sensação de extrema presença, com uma "vividez sensorial": cheiro do lanche, textura do pão, umidade do alimento, etc. Uma outra coisa que pontua o filme, em toda a sua extensão é uma música, por sinal muito linda, da qual, infelizmente não me lembro o nome. Aqui temos um outro aspecto importante, a saber: quantas vezes nos dias atuais de nossas vidas, ouvimos uma música, a qual nos toca sobremaneira e acabamos por verificar que a tal música nos embalava momentos de cunho afetivo muito intenso.

Era, por exemplo, a música que havia virado tema de fundo de um relacionamento afetivo que tivemos no passado, do qual se pode lembrar com carinho e saudade, ou mesmo com muito sofrimento pelo desenlace ocorrido na época.

O que me importa ressaltar é que as noções de passado, presente e futuro, devem, para o nosso próprio bem, ser relativizadas. Muitas pessoas acabam se recusando a revisitar seu próprio passado, afirmando que, uma vez que é passado de nada mais adianta ficarmos lembrando.

Muito pelo contrário, muitas vezes, não sabemos muito bem no momento, o porquê terminou esse ou aquele relacionamento que, aparentemente nos fazia tão bem. No entanto, enquanto a vida vai seguindo o seu curso, vamos, muitas vezes, absorvendo novos recursos interiores, os quais nos facultam a possibilidade de olharmos para traz, porém com outros olhos e dar uma nova dimensão para os fatos já ocorridos em nossas vidas e que, à época, não entendemos muito bem.

Esse acúmulo de recursos que vamos amealhando durante nossas vidas, envolvendo o passado e o presente, penso que podem nos tornar mais preparados, mais hábeis para projetarmos o futuro. Costumo dizer que não importa muito, pelo menos num primeiro momento, se a casa vai ser construída, o que não podemos é deixar de projetá-la com todo o entusiasmo de que formos capazes de colocar no projeto.

Penso que quando um ser humano perde a capacidade de sonhar, é como se perdesse a capacidade de viver. Viver sem sonhar é sobreviver, quase que vegetar. Aqui, não existe uma receita que possa ser tomada em dose única, mas sim de um "tratamento" de médio e longo prazo.

É preciso que seja cultivada diuturnamente a nossa história pessoal, com alegrias e dores, mas, de qualquer maneira é a nossa história e é o único caminho que temos para nos assenhorar de nós mesmos, ou seja, como se diz em psicanálise: o indivíduo deve se apropriar do próprio desejo, o qual, como sabemos, é absolutamente inalienável e intransferível.

Penso que não devemos engrossar as fileiras daqueles que acreditam no famoso "MACTUB", isto é, está escrito, uma vez que se assim for, nada nos resta a fazer senão esperarmos o tempo passar, até que se chegue ao final de nossas vidas. Se assim for, de que adiantou termos tido passado, ter o presente, se nada disso pode ser usado para planejarmos o futuro.

Atualmente, existe uma grande pressão para que tudo ocorra rápido, tipo fast-food, mas como diz o dito popular, "quem tem pressa, come cru e quente". Temos que estar ligados nas coisas que acontecem e nas mudanças e evoluções que ocorrem ao nosso redor. Mas me parece que seria uma grande pedida, se nós nos pudéssemos voltar mais para o nosso interior, olhar mais para dentro de nós, perguntarmos mais para nós mesmos o que se quer fazer, em vez de irmos simplesmente fazendo por impulso, ou porque os elementos do grupo social ao qual pertencemos, parecem bater na bola "de primeira".

Acho que , via de regra, perdemos a excelente oportunidade de termos a nós mesmos como conselheiros e por que?, pra que?, por quem?.

Pretendo encerrar estas reflexões, deixando a mensagem que foi o título deste trabalho, ou seja, em meio as dificuldades e impasses na vida, por que não procurarmos as respostas EM ALGUM LUGAR DO PASSADO? Com certeza, se cultivarmos esse "tesouro", ele nos poderá ser útil, a qualquer momento que dele necessitemos.

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