(continuação do mesmo artigo de Coluna – parte I)
5. Domínio transpessoal da psique
O segundo maior domínio que tem que ser acrescentado à cartografia da psique humana dominante quando trabalhamos com estados holotrópicos é hoje conhecida com o nome de transpessoal, querendo dizer, literalmente, além do pessoal ou transcendendo o pessoal. As experiências que se originam nesse nível envolvem a transcendência dos limites normais do indivíduo (seu corpo e ego), e das limitações do espaço tridimensional e do tempo linear que restringem nossa percepção do mundo no estado normal da consciência. A melhor maneira de definir as experiências transpessoais é contrastá-Ias com a experiência cotidiana de nós mesmos e do mundo – como devemos vivenciar a nós mesmos e ao ambiente, para que passemos por "normais" de acordo com os padrões de nossa cultura e da psicopatologia contemporânea (Grof, 1975; 1988).
No estado ordinário ou "normal" da consciência, nos vivenciamos como objetos newtonianos, existindo dentro dos limites de nossa pele. Como mencionei anteriormente, Alan Watts referiu-se a essa experiência de nós mesmos como associada ao ego encapsulado pela pele. Nossa percepção do ambiente é restrita pelas limitações fisiológicas de nossos órgãos sensoriais e pelas características físicas do ambiente.
Não podemos ver objetos de que estejamos separados por uma parede sólida, ou navios que estejam além do horizonte, ou o outro lado da lua. Se estivermos em Praga, não poderemos ouvir o que nossos amigos estão conversando em São Francisco. Não podemos sentir a maciez de uma pele de cordeiro a não ser que a superfície de nosso corpo esteja em contato direto com ela. Além disso, só podemos sentir vividamente, e com todos nossos sentidos, os eventos que estão acontecendo no momento presente. Podemos nos lembrar do passado e antecipar eventos futuros ou fantasiar sobre eles; no entanto, essas são experiências muito distintas da experiência imediata e direta que temos do momento presente. Nos estados transpessoais da consciência, no entanto, nenhuma dessas limitações é absoluta e qualquer uma delas pode ser ultrapassada.
As experiências transpessoais podem ser divididas em três grandes categorias.
A primeira delas envolve primordialmente a transcendência das barreiras espaciais comuns, ou das limitações do ego encapsulado pela pele. A esta categoria pertencem as experiências de fusão com outra pessoa em um estado que pode ser chamado de unidade dual, em que se assume a identidade da outra pessoa, identificando-se com a consciência de todo um grupo de pessoas (ex. todas as mães do mundo, toda a população da Índia, ou todos os internos dos campos de concentração), ou até mesmo vivenciando uma ampliação da consciência que parece abranger toda a humanidade. Experiências desse tipo já foram descritas inúmeras vezes na literatura espiritual mundial.
Da mesma maneira, podemos transcender os limites da experiência especificamente humana e identificar-nos com a consciência de vários animais, plantas ou até uma forma de consciência que parece ser associada com objetos e processos inorgânicos. Nos casos extremos, é possível sentir a consciência de toda a biosfera, de nosso planeta, ou de todo o universo material. Por mais incrível e absurdo que isso possa parecer a um ocidental envolvido com o materialismo monístico, essas experiências sugerem que tudo que nós vivenciamos em nosso estado de consciência cotidiano como sendo um objeto tem, nos estados não-ordinários da consciência, uma representação subjetiva correspondente. É como se tudo no universo tivesse seu aspecto objetivo e seu aspecto subjetivo, como é descrito nas grandes filosofias espirituais orientais (por exemplo, no hinduísmo, tudo que existe é uma manifestação de Brahma, ou, no taoísmo, uma transformação do Tao).
A segunda categoria de experiências transpessoais caracteriza-se, sobretudo pela ultrapassagem de limites temporais em vez de limites espaciais, através da transcendência do tempo linear. Já falamos sobre a possibilidade de uma revivência vívida de memórias da primeira infância e do trauma do nascimento. Essa regressão histórica pode ir mais além e envolver memórias autênticas fetais e embriônicas, de períodos distintos da vida intra-uterina. Tampouco é incomum vivenciar, no nível de consciência celular, uma identificação total com o espermatozóide e o óvulo no momento da concepção.
Mas a regressão histórica não pára aqui, e é possível ter experiências de vida de nossos antepassados humanos ou animais, ou até aquelas que parecem vir do inconsciente coletivo e racial como foi descrito por C.G. Jung (Jung, 1956; 1959). Com bastante freqüência, as experiências que parecem estar ocorrendo em outras culturas e períodos históricos são associadas com uma sensação de lembrança pessoal. Nesse caso, as pessoas falam que estão revivendo memórias de vidas passadas, de encarnações anteriores.
Nas experiências transpessoais descritas até aqui, o conteúdo reflete vários fenômenos que existem no espaço-tempo. Elas envolvem elementos da realidade cotidiana familiar – outras pessoas, animais, plantas, materiais e eventos do passado. O que é surpreendente aqui não é o conteúdo dessas experiências e sim o fato que podemos observar ou nos identificarmos plenamente com algo que normalmente não é acessível a nossa experiência. Sabemos que existem baleias grávidas no mundo, mas não deveríamos ser capazes de ter uma experiência autêntica de ser uma delas. O fato de a Revolução Francesa ter existido é facilmente admissível, mas não deveríamos poder ter uma experiência vívida de estar lá, deitados e feridos nas barricadas de Paris. Sabemos que há muitas coisas acontecendo no mundo em lugares onde não estamos presentes, mas é normalmente considerado impossível vivenciar algo que está ocorrendo em localidades remotas (sem a mediação da televisão e de um satélite). Podemos também ter a surpresa de encontrar a consciência associada com animais inferiores, plantas e com a natureza inorgânica.
A terceira categoria de experiências transpessoais é, no entanto, ainda mais estranha que as duas anteriores. Aqui a consciência parece estender-se a domínios e dimensões que a cultura industrial ocidental não considera "reais". A essa categoria pertencem as inúmeras visões de seres arquetípicos e paisagens mitológicas, encontros ou até identificação com divindades e demônios de várias culturas e comunicação com seres desencarnados, guias espirituais, entidades supra-humanas, extraterrestres e habitantes de universos paralelos. Nos seus casos extremos, a consciência pode se identificar com a Consciência Cósmica, ou com a Mente Universal, conhecida sob muitos nomes diferentes – Brahma, Buda, o Cristo Cósmico, Keter, Alá, o Tao, o Grande Espírito e muitos outros. A experiência máxima parece ser a identificação com o vazio supracósmico ou metacósmico, o vazio misterioso e primordial e o nada que é consciente de si mesmo e é o berço último de toda existência. Ele não tem um conteúdo concreto e, no entanto, parece conter tudo que existe em uma forma germinal e potencial.
As experiências transpessoais têm muitas características estranhas que rompem todas as premissas metafísicas mais básicas do paradigma newtoniano-cartesiano e da visão materialista do mundo. Os pesquisadores que estudaram esses fenômenos fascinantes – ou os vivenciaram pessoalmente – compreendem que as tentativas da ciência oficial de menosprezá-Ios considerando-os produtos irrelevantes da fantasia e imaginação humanas ou como alucinações – produtos erráticos de processos patológicos no cérebro – são ingênuas e inadequadas. Um estudo não preconceituoso da esfera transpessoal da psique tem de chegar à conclusão de que essas observações representam um desafio crucial, não só para a psiquiatria e para a psicologia, mas também para toda a filosofia da ciência ocidental.
Embora as experiências transpessoais ocorram no processo de profunda auto-exploração individual, não é possível interpretá-Ias simplesmente como fenômenos intrapsíquicos no sentido convencional. Por um lado, elas aparecem no mesmo contínuo experiencial das experiências biográficas e perinatais e, portanto, vêem de dentro da psique individual. Por outro lado, elas parecem ser capazes de recorrer, diretamente e sem a mediação dos sentidos, a fontes de informação que estão claramente muito além do alcance convencional do indivíduo. Em algum lugar no nível perinatal da psique, um estranho estremecimento como o do matemático Moebius parece ocorrer e aquilo que até então era uma investigação intrapsíquica passa a ser uma vivência do universo como um todo através de meios extra-sensoriais.
Essas observações indicam que podemos obter informações sobre o universo de duas maneiras radicalmente diferentes: além da possibilidade convencional de aprender através da percepção sensorial e da análise e síntese de dados, podemos também descobrir a respeito de vários aspectos do mundo através de uma identificação direta com eles em um estado holotrópico da consciência. Cada um de nós, portanto, parece ser um microcosmo contendo, de uma maneira holográfica, a informação sobre o macrocosmo. Nas tradições místicas, isso era expresso por frases tais como "tudo o que está em cima é igual a tudo o que está embaixo" ou "tudo o que está fora, é igual a tudo o que está dentro".
Relatos de sujeitos que vivenciaram episódios de existência embriônica, o momento da concepção, e elementos de consciência celular, tecidual e dos órgãos, abundam em insights médicos apurados sobre os aspectos anatômicos, fisiológicos e bioquímicos dos processos envolvidos. Da mesma forma, memórias ancestrais, raciais e coletivas e experiências de encarnações passadas nos dão muitas vezes detalhes muito específicos sobre arquitetura, costumes, armas, formas artísticas, estrutura social e práticas religiosas e rituais das culturas e períodos históricos envolvidos, ou até mesmo sobre eventos históricos concretos.
As pessoas que vivenciam experiências filogenéticas ou identificação com formas de vida existentes não só acham que elas são extraordinariamente autênticas e convincentes, mas também adquiriram nessa experiência insights extraordinários relacionados com a psicologia, a etologia, hábitos específicos ou ciclos reprodutivos pouco comuns de animais. Em alguns casos, isso era acompanhado por inervações musculares arcaicas não características dos seres humanos, ou mesmo comportamentos tão complexos como o desempenho de uma dança de "fazer a corte".
O desafio filosófico associado com as observações já descritas, por mais extraordinário que possa ser em si mesmo é ainda maior pelo fato de que as experiências transpessoais que refletem corretamente o mundo material, muitas vezes aparecem no mesmo contínuo e intimamente emaranhadas com outras que contêm elementos que o mundo ocidental industrial não considera verdadeiros. Aqui pertencem, por exemplo, as experiências que envolvem divindades e demônios de várias culturas, domínios mitológicos tais como céus e paraísos, e seqüências lendárias ou de contos de fadas.
Podemos, por exemplo, ter uma experiência do céu de Shiva, do paraíso de Tlaloc, o deus da chuva asteca, do submundo sumeriano, ou de um dos infernos quentes budistas. É possível também sentirmos como se fôssemos Jesus na cruz, ou termos um encontro surpreendente com a deusa hindu Kali, ou identificar-nos com Shiva Dança. Esses episódios podem até fornecer novas informações corretas sobre simbolismo religioso e temas míticos que eram anteriormente desconhecidos pela pessoa envolvida. Observações desse tipo confirmam a idéia de C.G. Jung de que, além do inconsciente freudiano individual, podemos também acessar o inconsciente coletivo que contém o patrimônio cultural de toda a humanidade (Jung, 1959).
A existência e natureza das experiências transpessoais violam algumas das premissas mais básicas da ciência mecanicística. Envolvem noções tão aparentemente absurdas como a relatividade e a natureza arbitrária de todos os limites físicos, as conexões não-locais no universo, a comunicação através de meios e canais desconhecidos, a memória sem um substrato material, a não-linearidade do tempo, ou a consciência associada com todos os organismos vivos, e até com a matéria inorgânica. Muitas experiências transpessoais envolvem eventos do microcosmo e do macrocosmo, domínios que normalmente não podem ser atingidos pelos sentidos humanos sozinhos, ou de períodos históricos que precedem a origem do sistema solar, a formação do planeta Terra, a aparição de organismos vivos, o desenvolvimento do sistema nervoso e a emergência do Homo sapiens.
A pesquisa dos estados holotrópicos, portanto, revela um paradoxo desconcertante com relação à natureza dos seres humanos. Ela claramente demonstra que, de uma maneira misteriosa e ainda inexplicável, cada um de nós contém a informação sobre o universo inteiro e sobre toda a existência, tem acesso experiencial potencial a todas suas partes e, em certo sentido, na medida em que somos apenas uma parte infinitesimal da rede cósmica e uma entidade biológica separada e insignificante, somos também a rede cósmica em sua totalidade. A nova cartografia reflete esse fato e retrata a psique individual humana como sendo essencialmente equivalente ao cosmos inteiro e à totalidade da existência. Por mais absurda e implausível que possa parecer essa idéia a um cientista qualificado e ao nosso sentido comum, ele pode ser reconciliado, sem muita dificuldade, com os novos desenvolvimentos revolucionários que são normalmente chamados de o novo ou emergente paradigma (Bohm, 1980; Sheldrake, 1981; Laszlo, 1994).
A cartografia ampliada esboçada acima é de importância crucial para qualquer abordagem a fenômenos tais como o xamanismo, os ritos de passagem, o misticismo, a religião, a mitologia, a parapsicologia, as experiências de quase-morte e estados psicodélicos. Esse novo modelo de psique não é apenas uma questão de interesse acadêmico. Como veremos nas sessões que se seguem, ele tem implicações profundas e revolucionárias para a compreensão de distúrbios emocionais e psicossomáticos, inclusive psicoses, e oferece perspectivas novas e excitantes para a terapia.
6. A natureza e a arquitetura das doenças emocionais e psicossomáticas
A psicologia clínica e a psiquiatria tradicionais usam, como explicação para os vários distúrbios que não têm uma base orgânica ("psicopatologia psicogênica") modelos explicativos que se limitam à biografia pós-natal e ao inconsciente freudiano individual. Esses modelos dão ênfase a fatores tais como influências traumáticas na primeira infância e na infância em geral e, da vida tardia, o potencial patogênico do conflito psicológico, a importância da dinâmica familiar e dos relacionamentos interpessoais e o impacto do ambiente social.
As observações do estudo de estados holotrópicos de consciência mostram que os distúrbios emocionais e psicossomáticos, inclusive muitos estados atualmente diagnosticados como psicóticos, não podem ser adequadamente compreendidos apenas através das dificuldades no desenvolvimento pós-natal. Segundo aos novos insights, essas condições têm uma estrutura multidimensional e de vários níveis, com raízes importantes adicionais no nível perinatal (trauma do nascimento) e no domínio transpessoal (memórias ancestrais, raciais e coletivas, experiências cármicas e dinâmica arquetípica). Levando esses elementos em consideração temos um quadro radicalmente novo muito mais amplo e completo da "psicopatologia".
O reconhecimento das raízes perinatais e transpessoais dos distúrbios emocionais não implica que os fatores biográficos pósnatais, descritos pela psicanálise, sejam irrelevantes para seu desenvolvimento. Os eventos na primeira infância e na infância em geral certamente continuam a desempenhar um papel importante no quadro geral. No entanto, em vez de representar a fonte desses distúrbios, eles passam a ser determinantes importantes para a emergência de material psicológico de níveis mais profundos do inconsciente.
O registro inconsciente das experiências associadas com o nascimento representam uma rede universal de emoções difíceis e sensações físicas que constituem uma fonte potencial para várias formas de psicopatologia. Se sintomas e síndromes manifestas irão realmente se desenvolver, e que forma irão tomar, depende, então, da influência reforçadora de eventos traumáticos na história pós-natal ou, ao contrário, dos efeitos mitigantes dos vários fatores biográficos. Além disso, os distúrbios emocionais e psicossomáticos podem ser co-determinados por vários fatores transpessoais, tais como elementos cármicos, arquetípicos ou filogenéticos. Eles são, assim, o resultado de uma rede complexa de influências recíprocas entre fatores biográficos, perinatais e transpessoais.
Assim, por exemplo, uma pessoa que sofre de asma psicogenética pode atribuir a origem desse distúrbio a uma situação de quase afogamento na idade de sete anos, memórias de ser quase estrangulado por um irmão mais velho, um episódio de coqueluche na primeira infância, asfixia durante o parto e experiências de vidas passadas envolvendo estrangulamento e enforcamento. Da mesma maneira, o material subjacente à claustrofobia pode incluir memórias infantis de ser trancado repetidamente em um armário ou em um porão na infância, o uso de cueiros, um parto difícil e episódios de vida passada de encarceramento em uma masmorra medieval e um campo de concentração nazista, e assim por diante.
A abrangência deste trabalho não me permite demonstrar quão profundamente as novas observações mudam nossa compreensão de um espectro amplo de distúrbios emocionais e psicossomáticos específicos. Tenho de sugerir ao leitor interessado que leia uma publicação anterior minha onde fiz essa demonstração com um detalhamento considerável (Grof, 1985). Neste contexto, posso apenas enfatizar que o novo modelo conceitual nos oferece explicações, muito mais completas e convincentes para muitas formas de "psicopatologias" e seus vários aspectos, que não poderiam ser adequadamente explicados pelas escolas existentes de psicologia profunda.
7. Mecanismos terapêuticos e o processo de cura
O novo entendimento das dimensões da psique humana e da arquitetura dos distúrbios emocionais e psicossomáticos descritos acima tem implicações profundas para a terapia. A psicoterapia tradicional conhece apenas mecanismos terapêuticos que operam no nível do material biográfico, tais como a lembrança de eventos esquecidos, a remoção da repressão, a reconstrução do passado através de sonhos, a revivência de memórias traumáticas da infância e a análise de transferência. O trabalho com estados holotrópicos revela muitos outros mecanismos importantes adicionais para a cura e a transformação da personalidade que se tornam disponíveis quando nossa consciência atinge os níveis perinatais e transpessoais.
Essa abordagem pode ser denominada de estratégia holotrópica de psicoterapia. Ela representa uma alternativa importante às técnicas de várias escolas de psicologia profunda, que enfatizam o intercâmbio verbal entre o(a) terapeuta e o paciente, assim como àquelas terapias experienciais que são levadas a cabo em estados ordinários da consciência. O princípio básico da terapia holotrópica é que os sintomas dos distúrbios emocionais representam uma tentativa do organismo de se livrar de impressões traumáticas antigas, de se curar, e de simplificar seu funcionamento. Portanto, não são unicamente um incômodo e complicação na vida, mas também uma oportunidade importante.
A terapia eficaz, portanto, consiste em ativação temporária, intensificação e subseqüente resolução dos sintomas. Esse é um princípio que a terapia holotrópica compartilha com a homeopatia. Um terapeuta homeopata tem a tarefa de identificar e utilizar o remédio que, em pessoas saudáveis, durante os chamados testes, produz exatamente os sintomas manifestados pelo paciente (Vithoulkas, 1980). O estado holotrópico da consciência tende a funcionar como um remédio homeopático universal no sentido de que ele ativa quaisquer sintomas existentes e exterioriza os sintomas que estão latentes.
Esse entendimento não se aplica unicamente a neuroses e distúrbios psicossomáticos, mas também a muitas condições que clínicos psi da corrente oficial diagnosticariam como psicótico e considerando como sendo manifestações de doença mental séria (mas, na verdade, são crises psicoespirituais ou "emergências espirituais"). A incapacidade de reconhecer o potencial de cura dessas condições extremas reflete a estreiteza do modelo conceitual da psicopatologia ocidental que é limitada à biografia pós-natal e ao inconsciente individual. As experiências para as quais esse modelo não fornece uma explicação lógica são então atribuídas a um processo patológico de origem desconhecida.
Uma análise cuidadosa da fenomenologia das emergências espirituais demonstra que elas constituem várias combinações de experiências perinatais, transpessoais e biográficas. Como a nova cartografia ampliada inclui os elementos de todos esses domínios, um modelo conceitual que o incorpora não tem de explicar a origem do conteúdo desses episódios. Seus elementos experienciais pertencem a níveis profundos da psique humana per se, compreendidos dessa forma abrangente (a anima mundi de Jung).
A explicação teórica só deve explicar o fato de que algumas pessoas necessitam envolver-se em práticas espirituais sistemáticas, respirar mais rápido ou ingerir uma substância psicodélica para atingir esses níveis da psique, enquanto que para outras o conteúdo mais profundo emerge no meio de sua vida cotidiana. Os padrões específicos das experiências que constituem esses episódios podem ser entendidos através dos princípios gerais que governam a dinâmica da psique (coex) (sistemas, matrizes perinatais, dinâmica arquetípica, etc.).
8. A estratégia da psicoterapia e da auto-exploração
O objetivo na psicoterapia tradicional é alcançar uma compreensão intelectual de como a psique funciona e por que os sintomas se desenvolvem e extrair dessa compreensão uma técnica e uma estratégia que tornaria possível corrigir o funcionamento emocional dos pacientes. Um sério problema com essa abordagem é a falta extraordinária de acordo entre os psicólogos e psiquiatras sobre questões fundamentais, o que resulta em um número surpreendente de escolas de psicoterapia que competem entre si. O trabalho com estados holotrópicos nos mostra uma alternativa radical surpreendente – a mobilização da inteligência interna profunda dos próprios pacientes que guia o processo de cura e transformação.
Uma premissa importante da estratégia holotrópica é que em nossa cultura uma pessoa média opera de um modo muito abaixo de seu real potencial e capacidade. Esse empobrecimento ocorre porque elas se identificam apenas com um aspecto de seu ser, o corpo físico e o ego. Essa falsa identificação leva a um modo de vida inautêntico, pouco saudável e insatisfatório e contribui para o desenvolvimento de distúrbios emocionais e psicossomáticos de origem psicológica. O surgimento de sintomas que não têm qualquer base orgânica pode ser considerado como uma indicação de que o indivíduo que opera com premissas falsas chegou a um ponto onde ficou óbvio que sua antiga maneira de ser no mundo não funciona mais e tornou-se insustentável.
À medida que a orientação com relação ao mundo externo entra em colapso, o conteúdo do inconsciente começa a emergir na consciência. Esse colapso pode ocorrer em certa área limitada da vida – tal como o casamento, a vida sexual, a orientação profissional e a busca de realização de várias ambições pessoais – ou afligir simultaneamente a totalidade da vida do indivíduo. A abrangência e profundidade dessa situação correlaciona-se, aproximadamente, com a seriedade da doença resultante – desenvolvimento de fenômenos neuróticos ou psicóticos. Uma situação como essa representa uma crise ou até uma emergência, mas também uma grande oportunidade.
O objetivo principal da estratégia holotrópica de cura é ativar o inconsciente e libertar a energia presa aos sintomas emocionais e psicossomáticos, que converte esses sintomas em uma corrente de experiência. A tarefa do facilitador ou terapeuta na terapia holotrópica, então, é dar apoio ao processo experiencial com total confiança em sua natureza curadora, sem tentar direcioná-Io ou modificá-lo. Esse processo é orientado pela própria inteligência curadora do paciente. O termo terapeuta é usado aqui no sentido do grego therapeutes, que significa a pessoa que ajuda no processo de cura, e não um agente ativo cuja tarefa é "consertar o paciente".
Algumas experiências curadoras e transformadoras poderosas podem não ter qualquer conteúdo específico; consistem de seqüências de construção intensa de emoções e de tensão física e subseqüente libertação e relaxamento profundo. Com freqüência, os insights e conteúdos específicos emergem mais tarde no processo ou mesmo nas sessões seguintes. Em alguns casos a resolução ocorre no nível biográfico, em outras em conexão com o material perinatal ou com vários temas transpessoais. Curas dramáticas e transformações pessoais com efeitos duradouros muitas vezes resultam de experiências que totalmente eludem a compreensão racional. É importante que o terapeuta apóie o desdobramento experiencial, mesmo se ele ou ela não o entendem racionalmente. Naturalmente, com mais experiência, o terapeuta acumula um conhecimento significativo dos princípios gerais que servem de base ao processo, mas isso não evita que ele, ou ela, tenha surpresas. A dinâmica da psique é maravilhosamente criativa e não pode ser capturada em um conjunto de fórmulas rígidas aplicáveis de forma rotineira.
9. O papel da espiritualidade na vida humana
Na visão do mundo da ciência materialista ocidental só a matéria existe realmente e não há lugar para qualquer forma de espiritualidade. Ser espiritual é visto como um sinal de falta de instrução, de superstição, de um pensamento mágico primitivo, de fantasias ambiciosas e imaturidade emocional. Experiências empíricas das dimensões espirituais da realidade são consideradas como manifestações de doença mental séria, de psicoses. A pesquisa sobre estados holotrópicos da consciência trouxe evidências de que, se propriamente compreendida e praticada, a espiritualidade é uma dimensão natural e importante da psique humana e do esquema universal das coisas.
Para evitar a confusão e o desentendimento que no passado atormentou as discussões sobre a vida espiritual e criou um falso conflito entre religião e ciência é essencial deixarmos bem clara a diferença entre espiritualidade e religião. A espiritual idade é baseada em experiências diretas de dimensões da realidade que normalmente estão ocultas. Ela não exige, necessariamente, um lugar especial, ou uma pessoa especial mediadora do contato com o divino, embora os místicos possam certamente se beneficiar de uma orientação espiritual e de uma comunidade de pessoas que buscam a mesma coisa. A espiritualidade envolve um relacionamento especial entre o indivíduo e o cosmos e é em sua essência algo pessoal e privado. No advento de todas as grandes religiões ocorreram as experiências visionárias (perinatais e transpessoais) de seus fundadores, profetas, santos e até mesmo seguidores comuns. Todas as grandes escrituras espirituais – os Vedas, o Canon Pali Budista, o Alcorão, o Livro dos Mórmons e muitas outras – são baseadas em revelações em estados holotrópicos.
Por comparação, a base da religião organizada é uma atividade grupaI institucionalizada que ocorre em um local designado (templo, igreja, sinagoga, mesquita), e envolve um sistema de mediadores oficiais. Idealmente, as religiões deveriam dar a seus membros acesso a experiências espirituais diretas, e apoio durante essas experiências. No entanto, o que ocorre muitas vezes é que, tão logo a religião se torna organizada, ela mais ou menos perde a conexão com sua fonte espiritual e passa a ser uma instituição secular explorando as necessidades espirituais humanas sem satisfazê-Ias. Em vez disso, ela cria um sistema hierárquico que tem como foco a busca do poder, do controle, da política, do dinheiro e outras possessões. Nessas circunstâncias, a hierarquia religiosa tende a desencorajar ativamente, e até a suprimir, as experiências espirituais diretas de seus membros, porque elas estimulam a independência e não podem ser controladas de maneira eficaz.
As observações do estudo dos estados holotrópicos confirmam as idéias de C.G. Jung referentes à espiritualidade. Segundo ele, as experiências de níveis mais profundos da psique (em minha terminologia, experiências perinatais e transpessoais) têm certa qualidade que Jung denominou de numinosidade (conforme Rudolph Otto). Os sujeitos que estão tendo essas experiências sentem que estão encontrando uma dimensão que é sagrada, santa, radicalmente diferente da vida cotidiana, pertencente a uma outra ordem da realidade. O termo numinosidade é relativamente neutro e com isso preferível a outros, tais como "religioso", "místico", "mágico", "santo", "sagrado", "oculto", e outros mais, que foram usados muitas vezes em contextos problemáticos e podem facilmente levar a erro.
As pessoas que têm experiências de dimensões numinosas da realidade abrem-se à espiritualidade encontrada nas ramificações místicas das grandes religiões do mundo ou em suas ordens monásticas, não necessariamente em suas organizações oficiais.
A verdadeira espiritualidade é universal e abrange tudo e baseia-se em uma experiência mística pessoal, e não em um dogma ou nas escrituras religiosas. As religiões oficiais organizadas unem as pessoas localizadas na área de seu raio, mas tendem a ser divisoras porque colocam seu próprio grupo contra todos os demais e muitas vezes tendem a convertê-Ios ou a erradicá-Ios.
Não pode existir nenhum conflito entre a verdadeira espiritualidade e a ciência entendida corretamente. As experiências transpessoais são uma manifestação natural da psique humana e não há nada não-científico em submetê-Ias a um estudo sério.
10. A natureza da realidade
As revisões necessárias que discutimos até este momento foram relacionadas com a teoria e a prática da psiquiatria, da psicologia e da psicoterapia. No entanto, o trabalho com estados holotrópicos traz desafios de uma natureza muito mais básica. Muitas das experiências e observações que ocorrem durante esse trabalho não podem ser compreendidas no contexto da abordagem materialista
monística da realidade e, com isso, solapam as premissas metafísicas mais fundamentais da ciência ocidental.
O mais sério desses desafios conceituais refere-se à afirmação, por parte da ciência materialista, de que a matéria é a única realidade e de que a consciência é seu produto. Essa tese já foi apresentada muitas vezes com grande autoridade como um fato científico que já está comprovado sem qualquer dúvida razoável (Dennett, 1991; Crick, 1994). No entanto, quando o submetemos a um exame mais minucioso, fica claro que essa afirmação não é e nunca foi uma declaração científica séria e sim uma premissa metafísica disfarçada de afirmação científica. A brecha entre matéria e consciência é tão radical e tão profunda que é difícil imaginar que a consciência possa simplesmente surgir como um epifenômeno da complexidade de processos materiais no sistema nervoso central.
Temos ampla evidência clínica e experimental que mostra correlações profundas entre a anatomia, a fisiologia e a bioquímica do cérebro e os processos conscientes. No entanto, nenhuma dessas descobertas nos dá uma indicação clara de que a consciência é verdadeiramente gerada pelo cérebro. A origem da consciência na matéria é simplesmente presumida como um fato óbvio e auto-evidente, com base na crença do primado da matéria no universo. Em toda a história da ciência, ninguém jamais ofereceu uma explicação plausível sobre a geração da consciência através de processos materiais, ou até mesmo sugeriu uma abordagem viável para o problema.
A idéia de que a consciência é um produto do cérebro naturalmente não é totalmente arbitrária. Seus proponentes normalmente se referem aos resultados de muitos experimentos em neurociência e psiquiátricos, e a um corpo vasto de observações clínicas específicas oriundas da neurologia, neurocirurgia e psiquiatria para sustentar sua posição. Quando questionamos essa crença tão profundamente enraizada, estaremos querendo dizer que duvidamos da veracidade dessas observações? A evidência para uma forte conexão entre a anatomia do cérebro, a neurofisiologia e a consciência é inquestionável e avassaladora.
O que é problemático não é a natureza da evidência apresentada, e sim a interpretação de seus resultados, a lógica do argumento e as conclusões que são extraídas dessas observações.
Embora esses experimentos mostrem claramente que a consciência está intimamente ligada aos processos neurofisiológicos e bioquímicos do cérebro, eles têm pouca relação com a natureza e a origem da consciência. Examinemos mais detalhadamente as observações clínicas relevantes e os experimentos de laboratório, bem assim como as interpretações da evidência fornecida pela ciência tradicional. Não há dúvida de que os vários processos no cérebro estão intimamente associados e correlacionados com mudanças específicas na consciência. Um golpe na cabeça que provoque uma concussão cerebral ou uma compressão das artérias carótidas limitando assim o fornecimento de oxigênio para o cérebro pode causar perda de consciência. Uma lesão ou tumor no lobo temporal do cérebro é freqüentemente associado com mudanças muito características da consciência que são surpreendentemente diferentes daquelas observadas nas pessoas com um processo patológico no lobo pré-frontal.
Os sintomas associados com as várias lesões do cérebro são muitas vezes tão diferentes que podem ajudar o neurologista clínico e/ou cirurgião a identificar a área afetada pelo processo patológico. Às vezes uma intervenção neurocirúrgica bem-sucedida pode corrigir o problema e a experiência consciente volta ao normal. Esses fatos são normalmente apresentados como evidência conclusiva de que o cérebro é a fonte da consciência humana. À primeira vista, essas observações podem aparecer impressionantes e convincentes. No entanto, elas não se sustentam se as submetermos a um exame mais minucioso. Para ser mais preciso, tudo o que esses dados demonstram inequivocamente é que mudanças no funcionamento do cérebro estão intimamente e bem especificamente relacionadas com mudanças na consciência. Mas eles dizem muito pouco com relação à natureza da consciência e sobre sua origem. Na verdade, deixam essas questões totalmente em aberto. É certamente possível pensar em interpretações alternativas que usariam os mesmos dados, mas chegariam a conclusões diferentes.
Isso pode ser ilustrado se examinarmos o relacionamento entre o aparelho de TV e a programação. A situação aqui é muito mais clara, já que envolve um sistema que é feito pelo homem e incomparavelmente mais simples. A recepção final do programa de TV, a qualidade da imagem e do som dependem de uma maneira muito crítica do funcionamento adequado do aparelho e da integridade de seus componentes. Mau funcionamento de suas várias partes terá como resultado mudanças muito diferentes e específicas na qualidade do programa. Algumas delas levam a distorções na forma, na cor, no som, outras à interferência entre os canais. Como o neurologista que usa mudanças na consciência como uma ferramenta para ajudar o diagnóstico, um mecânico de televisão pode inferir, pela natureza das anomalias, que partes do aparelho e que componentes específicos estão funcionando mal. Quando o problema é identificado, o conserto ou a substituição desses elementos corrigirá as distorções.
Como conhecemos os princípios básicos da tecnologia da televisão, é óbvio para nós que o aparelho simplesmente intermedeia o programa, e que ele não o cria, nem contribui em nada para ele. Nós riríamos de alguma pessoa que tentasse examinar e esmiuçar todos os transístores, relés, e circuitos do aparelho de televisão e analisar todos os seus fios na tentativa de descobrir como ele cria os programas. Mesmo se estendermos esse esforço mal-orientado até os níveis molecular, atômico ou subatômico, ainda assim não teremos a menor idéia de por que, em um determinado momento, um desenho animado do camundongo Mickey, ou um capítulo do Star Trek, ou um clássico de Hollywood aparecem na tela. O fato de que existe uma correlação assim tão próxima entre o funcionamento do aparelho de televisão e a qualidade do programa não significa necessariamente que todos os segredos do programa estão no próprio aparelho. No entanto, é exatamente esse tipo de conclusão que a ciência materialista tradicional extraiu de dados comparáveis a respeito do cérebro e sua relação com a consciência.
Portanto, a ciência materialista ocidental ainda não foi capaz de produzir nenhuma evidência convincente de que a consciência é um produto de processos neurofisiológicos no cérebro. Aliás, ela só foi capaz de manter sua posição atual resistindo, censurando e até ridicularizando um corpo vasto de observações indicando que a consciência pode existir e funcionar independentemente do corpo e dos sentidos físicos. Essa evidência vem da parapsicologia, da antropologia, da pesquisa sobre LSD, da psicoterapia experiencial, da tanatologia e do estudo de estados holotrópicos da consciência que ocorrem espontaneamente.
Todas essas disciplinas colecionaram dados impressionantes que demonstram claramente que a consciência humana é capaz de fazer muitas coisas que o cérebro (como ele é entendido pela ciência oficial) não poderia fazer de jeito algum. Há, por exemplo, ampla evidência sugerindo que a consciência tem acesso à informação que não está – e nem poderia estar – armazenada no cérebro. Ao discutir as características das experiências transpessoais, referi-me a várias situações nas quais estados visionários davam acesso a aspectos precisos do universo que eram anteriormente desconhecidos do sujeito e que não poderiam ter sido adquiridos por meio dos canais convencionais. Estudos de caso específicos ilustrando esse fenômeno podem ser encontrados em muitos de meus livros (Grof, 1975; 1985; 1988; 1992; 1998).
No entanto, deixem-me focalizar em evidência ainda mais surpreendente que sugere que a consciência pode, em certas circunstâncias, desempenhar funções que vão muito mais além das capacidades do cérebro. O que tenho em mente é a existência de experiências fora-do-corpo (Obes) com percepção exata do ambiente. Essas experiências podem ocorrer espontaneamente, ou em uma variedade de situações facilitadoras que incluem o transe xamânico, sessões psicodélicas, hipnose, psicoterapia experiencial e particularmente experiências de quase-morte (NDE) (Moody, 1975; Ring, 1982; 1985; Sabom, 1982). Em todas essas situações a consciência pode se separar do corpo e manter sua capacidade sensorial, ao mesmo tempo em que se movimenta livremente para lugares próximos ou distantes.
De interesse especial são as OBE verídicas em que verificação independente prova a exatidão da percepção do ambiente nessas circunstâncias. Recentemente os tanatólogos Ring & Cooper (1997) publicaram um estudo fascinante indicando que tais experiências podem ocorrer até mesmo em pessoas que são congenitamente cegas. Inúmeros relatos que confirmam a possibilidade dessa "aparente visão sem olhos", como Ring a chamou, deve, por si só, dar aos cientistas oficiais razões suficientes para questionar seriamente suas crenças referentes ao relacionamento entre a consciência e o cérebro e, em geral, entre a consciência e a matéria. [indico aos meus leitores da RedePsi o "IPPB", localize no Google, onde trabalhamos exatamente com Experiências fora do corpo]
Conclusões
Neste trabalho, tentei fazer um breve sumário de algumas das observações mais surpreendentes e desafiadoras dos mais de quarenta anos de minha pesquisa sobre os estados holotrópicos da consciência, focalizando, primordialmente, três áreas: terapia psicodélica, trabalho de respiração holotrópica e trabalho clínico com indivíduos passando por crises psicoespirituais espontâneas ("emergências espirituais"). O escopo deste artigo não me permitiu incluir exemplos específicos e histórias de caso para sustentar minha posição. No entanto, espero que, mesmo nessa forma sintética, eu tenha conseguido demonstrar que os estados holotrópicos merecem a séria atenção de pesquisadores e teóricos.
Os fenômenos associados com os estados holotrópicos são verdadeiramente extraordinários, e não há dúvida de que eles não podem ser explicados em termos das teorias atuais de psiquiatria e psicologia. Além disso, eles também questionam seriamente as premissas filosóficas básicas da ciência ocidental, especialmente seu materialismo monístico. Os círculos acadêmicos ignoraram ou não levaram a sério a evidência que foi coletada por várias vertentes da pesquisa moderna sobre consciência a esse respeito. Foram assim capazes de evitar a crise conceitual radical que teria sido provocada por uma avaliação crítica e não preconceituosa dos dados existentes. Creio firmemente que essa avaliação levaria a uma mudança radical em nosso entendimento da natureza humana e da natureza da realidade, que se assemelharia, em sua profundidade e significância, aos efeitos da revolução na física que ocorreu no começo do século vinte.
Observação: Dou fé e assino tudo o que Stanislav Grof escreveu. É o primeiro cientista, como o foram JB Rhine, Ian Stevenson, Edmundo Guimarães Andrade, a demonstrar coragem suficiente para expor "as boas novas". O "IPPB" (Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas) vem mostrando e ratificando todo esse material aqui explanado, há anos aqui em São Paulo-SP-BR.
Referências bibliográficas
BOHM, D. (1980). Wholeness and the implicate order. Londres: Routledge & Kegan Paul.
CAMPBELL, J. (1968). The hero with – A thousandfaces. Princeton: Princeton University Press.
____ – (1984). The way of the animal powers. Nova Iorque: Harper and Row.
CRICK, F. (1994). The astonishing hypothesis: The scientific search for the soul. Nova Iorque: Scribner's Sons.
DENNETT, D.C. (1991). Consciousness explained. Boston: Little, Brown Company.
ELlADE, M. (1964). Shamanism: The archaic techniques of ecstasy. Nova Iorque: Pantheon Books.
GREEN, E.E. & GREEN, A.M. (1978). Beyond biofeedback. Nova Iorque: Delacorte.
GROF, C. & GROF, S. (1990). Stormy search for the self: A guide to personal growth through transformational crisis. Los Angeles: J. P. Tarcher.
GROF, S. (1975). Realms of the human unconscious: Observations from LSD
research. Nova Iorque: Viking.
____ – (1980). LSD Psychotherapy. Pomona, CA: Hunter House.
____ – (1985). Beyond the brain: birth, death and transcendence in psychotherapy. Albany, Nova Iorque: State University New York Press.
____ – (1988). The adventure of self-discovery. Albany, Nova Iorque: State University New York Press.
____ – (1992). The holotropic mind: The three levels of consciousness and how they shape our lives. São Francisco, CA: Harper Collins.
____ – (1998). The cosmic game: explorations of the frontiers of human consciousness. Albany, Nova Iorque: State University New York Press.
GROF, S. & Grof, C. (1989). Spiritual emergency: when personal transformation becomes a crisis. Los Angeles, CA.: Tarcher.
HARNER, M. (1980). The way of the shaman: A guide do power and healing. Nova Iorque: Harper & Row.
JUNG, C.G. (1956). Symbols of transformation. Princeton, New Jersey: Princeton University Press [Collected Works, voI. 5 – Bollingen Series XX].
____ – (1959). The archetypes and the collective unconscious. Princeton, Nova Jersey: Princeton University Press [Collected Works, voI. 9,1 Bollingen Series XX].
____ – (1960). A review of the complex theory. Princeton, New Jersey: Prince ton University Press [Collected Works, voI. 8 – Bollingen Series XX].
LA BERGE, S. (1985). Lucid dreaming: power of being awake and aware in your dreams. Nova Iorque: Ballantine.
LAZLO, E. (1994). The creative cosmos. Edimburgo: Floris Books.
LEUNER, H. (1962). Experimentelle psychose. Berlim: Springer Series, 95.
LILL Y, J.C. (1977). Deep self: profound relaxation and the tank isolation technique. Nova Iorque: Simon and Schuster.
MOODY, R.A. (1975). Life after life. Nova Iorque: Bantam.
RING, K. (1982). Life at death: A scientific investigation of the near-death experience. Nova Iorque: Quill.
____ – (1985). Heading toward omega: In search of the meaning of the near-death experience. Nova Iorque: Quill.
RING, K. & COOPER, S. (1997). Near-death and out-of-body experiences in the blind: A study of apparent eyeless vision. Journal of Near-Death Studies, 16, p. 101-147.
SABOM, Michael (1982). Recollection of death: A medical investigation. Nova Iorque: Harper & Row.
SCHULTES, R.E. & HOFFMANN, A. (1979). Plants oft he Gods: origins of hallucinogenic use. Nova Iorque: McGraw Hill Book.
SHELDRAKE, R. (1981). A new science of life. Los Angeles: J.B. Tarcher.
SHULGlN, A. & SHULGlN, A. (1991). PlHKAL: A chemicallove story. Berkeley, CA: Transform.
STAFFORD, P. (1977). Psychodelics Encyclopedia. Berkeley, CA: And/Or Press.
VITHOULKAS, G. (1980). The science of homeopathy. Nova Iorque: Grove Press.
WASSON, R.G. & cols. (1978). The road to eleusis: unveiling the secret of the mysteries. Nova Iorque: Harcourt, Brace Jovanovich.