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Psicologia: uma “ciência exata”?

Resenha sobre o capítulo II do livro “Epistemologia da Psicologia” de Márcio Mariguela.

O capítulo dois trata objetivamente “da Psicologia como uma ciência historicamente construída”, ditando a história desta ciência ao longo dos séculos. Trazendo grandes filósofos como Kant, Bachelard, Nietzsche, Habermas, Wundt, Foucault, entre outros para dar sentido a este tema.

Com o passar dos séculos os experimentos foram se tornando cada vez mais questionáveis, a ciência necessitava de provas concretas e verdadeiras, estabelecendo limites e critérios verossímeis. No final do século XVII, com Kant afirmando que os cientistas da época “compreenderam que a razão só discerne o que ela mesma produz segundo seu projeto, que ela tem que ir a frente com princípios dos seus juízos segundo leis constantes e obrigar a natureza a responder às suas perguntas”, logo, o autor ressalta  que “ a razão científica é metódica, pois obedece a uma lógica construída segundo categorias matemáticas, (…) que o conhecimento da natureza deve seguir um caminho seguro, onde a razão possa guiar-se em direção à verdade”.

 

Com Kant a razão tornou-se mais metodológica, mais epistêmica, fundamentada na ciência. “A atividade filosófica tomou como objeto de análise o conhecimento cientificamente elaborado”, ou seja, buscou-se a experimentação criteriosa e ética no campo científico. Dentro deste contexto a Psicologia precisou tomar lugar no campo científico.

 

Foi a partir de Bachelard que a epistemologia tomou um rumo mais condizente com as práticas relacionadas à filosofia, propondo ao fazer científico um sentido mais humano, social e histórico fugindo em parte do pragmatismo. Em que pese a evolução da epistemologia ao longo do século XX, com seus teóricos e embates, para mim, estudante é mais relevante observar este texto relacionando-o à Psicologia enquanto Ciência.

 

Assim, foi com Wundt que a Psicologia tomou um rumo científico o qual defendia a tese de que “a Psicologia é a mediadora entre as ciências naturais e as humanas”, e afirmava que a Psicologia deveria estudar o funcionamento do cérebro e que conhecesse além dos fenômenos naturais, também a fisiologia humana.

Um dos principais veículos deste debate foi à publicação “Cahiers pour L’Analyser” de Bachelard, Canguilhem e Foucault na medida em que sugerem que a Filosofia passa a ser a base da epistemologia histórica, inserida contextualmente e de maneira alguma desvinculada das influências gerais do momento histórico em quem foi construída.

 

No que diz respeito à base epistemológica da Psicologia, segundo Canguilhem, o principal problema é a fundamentação da verificabilidade das hipóteses, dado a amplitude de sua subjetividade. Porque a Psicologia não é uma ciência exata, seu objeto de estudo é o homem e sua mutabilidade, suscetível, portanto à eterna dúvida que, em suma, é a razão de ser da própria Ciência. Ora, a Psicologia tem um objeto de estudo, faz uso de métodos, elabora suas hipóteses, relaciona-se com outras ciências, é um saber construído e elaborado, e como os demais campos científicos, não se arvora em verdade absoluta, muito antes pelo contrário, se estabelece sem a certeza da eternidade.

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