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Estudo dos Impactos do Indivíduo Acometido por LER/DORT no Ambiente Familiar

Resumo

Este estudo que está na linha de pesquisa Trabalho, Ergonomia da Atividade e Saúde, tem como objetivo estudar os impactos do indivíduo acometido por LER/DORT no ambiente familiar, a fim de contribuir com a melhoria das práticas do psicólogo no auxílio ao indivíduo lesionado. Para tal, foi feito uma revisão de literatura, a fim de abordar os aspectos teóricos e conceitos que contribuíram para esta pesquisa. O trabalho vem se tornando cada vez mais essencial na vida das pessoas, tem-se notado o crescente número de pessoas afetadas por doenças ocupacionais, dentre as mais conhecidas situa-se a LER/DORT, procedente de fatores dentro e fora do ambiente de trabalho, caracterizando o ser humano e sua fragilidade pessoal, familiar e social. Os resultados mostram que a relação entre saúde e trabalho constitui-se como importante espaço de atuação do psicólogo no auxílio ao indivíduo acometido pelas LER/DORT.

Palavras-chave: trabalho; ambiente de trabalho; doença ocupacional.

As doenças ocupacionais tornaram-se tema amplamente estudado e esse interesse decorre da influência que as mesmas podem exercer sobre o trabalhador, afetando sua saúde física e mental, atitudes, comportamento profissional, social, tanto com repercussões para a vida pessoal e familiar do indivíduo como para as organizações. Dentre essas doenças merecem destaque as LER/DORT, que são procedentes de fatores dentro e fora do ambiente de trabalho.

As Lesões por Esforço Repetitivo (LER) ou Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT) são os nomes dados às afecções dos músculos, tendões, sinóvias, nervos, fáscias e ligamentos, isolados ou combinados, com ou sem degeneração de tecidos. Elas atingem principalmente os membros superiores, região escapular e região cervical. Têm origem ocupacional, e decorrem do uso repetido ou forçado de grupos musculares e da manutenção de postura inadequada. (MENDES RIBEIRO, 1986).

Atualmente os estudos sobre o processo saúde-doença dos grupos humanos e sua relação com o trabalho se constitui num objeto do campo da Psicologia da Saúde do trabalhador, onde o papel dos trabalhadores é fundamental na produção de conhecimento a respeito desse processo. Deste modo, a saúde do trabalhador, ao compreender o trabalho como espaço de submissão e dominação do trabalhador pelo capital, mas também de resistência e luta por melhores condições de vida e trabalho, busca entender o processo de adoecimento ao qual estão submetidos os trabalhadores (MENDES & DIAS, 1991).

As diferentes formas de adoecimento no trabalho emergem como respostas que o ser humano dá aos sofrimentos, conflitos, desafios e contradições a que é submetido. Instalam-se quando não existe mais nenhuma possibilidade de se defender contra o sofrimento, o estresse, o esgotamento profissional, resultantes da precariedade das condições de trabalho e de vida. A ocorrência de síndromes dolorosas associadas às condições ocupacionais está relacionada, em grande parte, a determinadas formas de organização da produção e do trabalho, bem como às condições físicas e objetivas em que esse trabalho é realizado (TAMAYO, 2004).

A discussão sobre as implicações entre saúde e trabalho não é um assunto recente. O que é denominado historicamente de condições de saúde no trabalho representa um código por meio do qual diversas disciplinas das áreas de conhecimento das ciências biomédicas, humanas e sociais direcionam seus esforços de pesquisa e avanços metodológicos, buscando descrever e demonstrar a existência de um nexo fundamental entre o processo de produção e de saúde das pessoas.
           
Sob variadas denominações tem-se procurado investigar os problemas psicossociais e psicopatológicos associados ao trabalho: estresse laboral, tensão decorrente da vida laboral, fadiga mental, fadiga patológica, burnout, síndrome neurótica do trabalho, neurose do trabalho. São várias as denominações e contribuições teóricas, e sendo o maior problema investigar o papel real que o trabalho tem com a saúde do trabalhador.

Provavelmente os indivíduos acometidos por LER/DORT expressam sentimentos de desvalia, insegurança quanto ao futuro profissional, conformismo frente a algumas limitações, incerteza e morosidade no processo terapêutico e de reabilitação, medos e fantasias inconscientes, manifestações depressivas e de revolta, associadas, em geral, a incorporação de toda uma ideologia de culpabilização.

Diante das considerações acima expostas, entendemos que o aumento significativo na incidência das LER/DORT, chama a atenção para uma maior conscientização dos trabalhadores a partir do momento em que emerge o que causa o problema e as conseqüências deste problema. Sendo assim, faz-se necessário a atuação do psicólogo junto aos indivíduos lesionados, bem como, a construção de estratégias que possam melhorar a intervenção deste profissional.
 

Metodologia

Neste enfoque, este estudo que se insere no campo da Psicologia Organizacional busca através de uma discussão teórica, elementos que possam auxiliar na intervenção de sujeitos acometidos por esta patologia. Para tal, buscamos apresentar metodologicamente as abordagens trazidas pelos diversos autores, a fim de ultrapassar a visão do tratamento clínico tradicional junto a trabalhadores acometidos de doenças ocupacionais, visto a abrangência das implicações de tais quadros patológicos.
 

Discussão dos resultados

Para Merleau-Ponty (1991), o trabalho é uma forma de expressão e afirmação do homem no mundo físico e social, criando condições satisfatórias para a sua existência, para a realização dos seus projetos e metas e para a construção da sua sociedade. O trabalho é a atividade pela qual o homem projeta em torno de si um meio humano e supera os dados naturais da sua vida.

Entretanto, Guérin et al., (2001), numa abordagem psicossocial, aponta que
“trabalhar não é somente ganhar a vida; é também e, sobretudo ter um lugar, desempenhar um papel.   Desse ponto de vista, não ter trabalho é um drama, mas ter um trabalho no qual as possibilidades de   investimento pessoal são exíguas não deixa de ter conseqüências graves. Interessar-se pela atividade de trabalho é saber discernir, no seu resultado, esse esforço permanente do trabalhador para dar sentido à sua tarefa…”  

O trabalho é abordado como um fenômeno complexo e multidimensional, considerando a sua articulação com a dinâmica da sociedade e como objeto de representações diferenciadas. Nesse contexto, existe uma emergência de um novo olhar sobre a relação do homem com o trabalho que considere também o ambiente de trabalho e a repercussão para as organizações e também para a vida do trabalhador.

De acordo com Verdussen (1978), um ambiente de trabalho é o resultado de fatores materiais ou subjetivos, e devem prevenir acidentes, doenças ocupacionais, além de proporcionar melhor relacionamento entre a empresa e o empregado. Entretanto, Tamayo (2004), descreve sobre as características psicológicas e psicossociais que integram o ambiente de trabalho, para o autor, é possível observar que elas convergem para o apontamento dos fatores intrínsecos ao trabalho, para os papéis interpessoais desempenhados pelo indivíduo na organização e para a natureza das relações interpessoais que ele mantém, assim como os aspectos inerentes à própria organização, como importantes da saúde no trabalho.

Supondo que um ambiente organizacional é interpretado como fonte geradora de injustiças de várias ordens, sejam elas reais ou imaginárias, vivenciadas ou antecipadas, o trabalho e o ambiente em si mesmos passam a adquirir significados adicionais de desprazer, sofrimento, adoecimento e tensão, com sérios prejuízos para o ajustamento e o bem-estar dos trabalhadores em sua vida pessoal e profissional.

Conforme Dejours (apud TAMAYO 2004), a organização do trabalho, que anula os comportamentos livres e criativos, empobrece a atividade mental e expõe o corpo a conversões somáticas e a sofrimento psíquico. Estes decorrem da ausência de proteção ao aparelho mental que medeia as necessidades internas e as exigências do meio. Dessa forma, percebe-se que a execução de uma tarefa prescrita, isto é, sem investimento material ou afetivo, exige a produção de esforço e vontade, que sobrecarregam a atividade psíquica do trabalhador, causando um adoecimento. Já para Laurel e Noriega (l989), o mal-estar no trabalho e o incremento das indicações clínicas de síndromes dolorosas crônicas de natureza musculoesquelética representam o efeito mais visível e marcante do sofrimento físico e psicológico no trabalho.

Assim vários indicadores teóricos e empíricos demonstram que a relação objetiva entre a consciência de realizar trabalho e a obtenção de satisfação pessoal passou a ser cada vez mais filtrada pelas relações sociais produzidas na situação de trabalho. As atuais transformações no mundo do trabalho e os impactos da reestruturação produtiva parecem ter aumentado as proporções dessas implicações sobre a saúde dos trabalhadores, ampliando e tornando mais complexa a avaliação dos sintomas de dor e desconforto físico e psicológico.
 

Considerações finais

A ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos e sua repercussão sobre a capacidade de resposta eficaz do organismo à atividade de trabalho pode ser considerada uma variável de incidência contínua sobre a base da organização do trabalho e relativamente independente dos processos de modernização da gestão do trabalho e das transferências tecnológicas. As repercussões mais significativas apontam para os fatores psicossociais diretamente ligados ao processo de trabalho e à cultura organizacional, dentre os quais destacamos o conteúdo e o significado da tarefa, a construção e a manutenção de contratos sociopsicológicos saudáveis, a capacidade de negociar com as diferentes formas de pressão produtiva, a inabilidade para desenvolver atitudes afiliativas e sentimentos de engajamento na organização (TAMAYO, 2004).

Assim, a trajetória das relações entre a produção do conhecimento psicológico sobre as condutas de trabalho e sobre condições sociotécnicas, construídas pelas organizações tem-se constituído como história de afirmações ideológicas acerca de determinantes individuais da conduta e dos determinantes da estrutura dos comportamentos organizacionais sobre a conduta dos indivíduos.
          
Provavelmente os indivíduos acometidos por doenças ocupacionais, expressam sentimentos de desvalia, insegurança quanto ao futuro profissional, conformismo diante de inúmeras limitações, medos e fantasias inconscientes, manifestações depressivas e de revolta, associadas, em geral, a incorporação de toda uma ideologia de culpabilização.

Portanto, consideramos de fundamental importância abordar as relações entre a ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos, processos de trabalho, ambiente de trabalho, apreciando as contribuições dos diversos conceitos, sobre as diferentes caracterizações sintomáticas e psicossociais desses distúrbios e os aspectos mediadores da cultura organizacional sobre as condutas saudáveis e patológicas no ambiente de trabalho.            

Tendo o intuito de melhor entender esse momento de transição demográfica e epidemiológica, se fazendo necessário identificar o perfil sócio-demográfico dos indivíduos acometidos pelas LER/DORT, bem como, identificar e analisar os impactos das LER/DORT nos indivíduos e seus reflexos no ambiente familiar.  Estudando ainda, quais são as percepções dos indivíduos acometidos pelas LER/DORT e seus impactos no ambiente familiar, no sentido de contribuir com a melhoria das práticas do psicólogo no auxílio ao indivíduo lesionado.

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