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Revisão: Alterações da Cognição – (a) Raciocínio – parte II

(continuação)

Concretismo

Trata-se de uma modalidade especial de alteração do pen­samento, que consiste na incapacidade do indivíduo pa­ra fazer a distinção entre o simbólico e o concreto. Em muitas pessoas, esta manifestação não representa algo de anormal, sendo com freqüência, o re­sultado de incultura. Em outros, porém, a sua apresentação adquire um cará­ter nitidamente patológico.

Diz Goldstein que a atitude abstrata é fundamental, entre outras condi­ções, para "recordar simultaneamente vários aspectos de uma situação, rea­gir diante dos estímulos que não aparecem intrinsecamente unidos". O ato de captar, rapidamente, os vários aspectos de uma situação simbólica requer não somente um elevado nível intelectual, como também um bom nível cultu­ral. Pessoas incultas revelam de imediato dificuldades na compreensão do sim­bólico. No labor cotidiano ou no exercício de tarefas profissionais não há exi­gência de uma atitude abstrata, visto que se trata da execução de atos apren­didos de antemão. O comportamento abstrato tem o mesmo significado da­quilo que Henri Head chamou de comportamento simbólico em relação à lin­guagem.

O conceito de concreto exprime um objeto particular, determinado. Por isso, o pensamento concreto expressa intuições e conceitos concretos, uma referência imediata ao sensorialmente percebido. O pensamento concreto se opõe à abstração, razão pela qual atribui-se ao pensamento primitivo o fato de ser concreto e sempre referido ao sensível. Segundo C.G. Jung, "ao pen­samento primitivo falta independência estando sempre associado ao fenômeno material. Tudo mais ascende ao plano da analogia". Admite, em conseqüên­cia, que o concretismo é um arcaísmo, no sentido de resquícios ou resíduos, que aparecem como traços psicológicos próprios da mentalidade primitiva. "O primitivo não conhece experimentalmente o pensamento da divindade co­mo conteúdo subjetivo, pois para ele traduz-se na árvore sagrada que é o do­micílio de Deus." Para Jung, o concretismo é um conceito que se inclui no conceito mais geral de participation mystique, que representa a fusão do in­divíduo com o objeto exterior, uma fusão do pensamento com a percepção. O concretismo implica em que o objeto do pensar seja sempre, ao mesmo tempo, objeto da percepção. Por esta razão, o pensamento se encontra en­clausurado na esfera da percepção, isto é, referido ao sensorial, de maneira que o mesmo não chega a ascender ao plano do pensamento abstrato, uma vez que está a reboque da percepção. "Ocorre, pois, uma hegemonia do fa­tor perceptivo na orientação psicológica." Esclarece Jung que a desvanta­gem do concretismo reside em sua vinculação à função perceptiva. "Como a percepção depende de estímulos fisiológicos, o concretismo mantém a fun­ção no "âmbito do sensorial ou devolve-a sempre a este. Decorre assim uma vinculação sensível das funções psicológicas que, favorecendo os fatos sen­sorialmente dados, constitui um obstáculo à autonomia do indivíduo." Isto contribui, evidentemente, para perturbar a interpretação dos fatos e suas re­lações com o indivíduo. Desse modo, o concretismo determina o predomínio da significação dos fatos e, assim, a repressão da individualidade e de sua liberdade, em favor do processo subjetivo. Em virtude dos atos intencionais não serem apenas determinados pelos fatos fisiológicos, o concretismo reali­za uma projeção dos fatores íntimos no fato exterior, ocasionando a superva­lorização supersticiosa do fato simples, sendo isso o que acontece, precisa­mente, na mente dos primitivos (Jung).

A expressão participation mystique foi empregada por Lévy-Bruhl para caracterizar um modo peculiar de vinculacão psíquica ao objeto. Consiste no fato do indivíduo não poder diferenciar-se nitidamente do objeto, vinculando­-se a ele em virtude de uma relação direta que pode ser denominada de identi­dade parcial. Essa identificação baseia-se em uma unidade a priori do objeto e do sujeito. Não abrange a totalidade das relações entre sujeito e objeto, mas manifesta-se em determinados casos nos quais se verifica o fenômeno dessa curiosa relação. É observada em sua pureza original na mentalidade primitiva.

É fácil verificar que os indivíduos que apresentam a alteração do pensa­mento denominada concretismo revelam certa dificuldade na compreensão dos conceitos abstratos, dos significados e das categorias que não se refi­ram a situações concretas. Goldstein cita alguns exemplos clínicos de en­fermos que apresentavam déficit da atitude abstrata: "O paciente pode acom­panhar e tomar parte numa conversação que se refira a um tema a respeito de sua família ou a uma situação imediata, porém, se a conversação passa a outro assunto, já não pode acompanhá-Ia e se revela inteiramente perdi­do". Nesses casos, a compreensão também está alterada.

Considero que o termo concretismo serve para designar a incapacidade de compreender o simbólico, ou de transformar o simbólico em concreto.

A linguagem emocional pertence ao comportamento concreto. Nos exem­plos que serão citados, verifica-se que os indivíduos, ao revelar incapacidade para compreender o simbolismo de uma cena ou de trechos da Bíblia lidos do púlpito, comportaram-se de maneira tipicamente emocional. Diz Goldstein que a linguagem emocional tem estas características: depois de iniciada, con­tinua como um conjunto; se for interrompida, simplesmente não pode conti­nuar. Esse tipo de linguagem se encontra estreitamente ligado à personalida­de global.

A característica principal do concretismo é a incapacidade de compreen­der o significado das relações entre diversas partes de uma estrutura abstra­ta. Os indivíduos portadores dessa anomalia reagem de maneira concreta ape­nas diante de uma experiência sensorial imediata.


Exemplos

1) Em Congonhas do Campo, numa das capelinhas que representam, sim­bolicamente, a Via Sacra, o caminho percorrido por Jesus Cristo ao peso da cruz, um indivíduo, não identificado, decepou a mão de uma estátua com um tiro de revólver, simplesmente porque a mesma representava o papel alegóri­co de algoz, que segurava um chicote para fustigar o nazareno.

Isto é o que se pode chamar de concretismo, pois o autor da façanha revelou a sua incapacidade para distinguir o simbólico do concreto. É eviden­te que o indivíduo não compreende a essência da cena ou o simbolismo da representação teatralizada.

2) Antão, que a Igreja Católica santificou com o cognome de Santo An­tão, era um jovem egípcio que, na adolescência, herdara uma fortuna consi­derável com a morte dos pais. Nesta fase da vida ele adotou a doutrina de Cristo como algo que não podia sofrer contestação. Aos 20 anos, revelava­-se um jovem extremamente místico e, certa vez, ao ouvir na igreja lições tira­das da Bíblia, tomou-as como se fossem ordens emanadas do pai falecido. Ao ouvir este trecho do Evangelho segundo São Mateus: "Se queres ser per­feito, vai vender tudo o que tens e dá-Io aos pobres, e terás um tesouro nos céus, depois vem seguir-me", Antão tomou ao pé da letra as palavras do Evan­gelho: saiu da igreja e começou a vender os seus bens. Vendeu tudo o que havia herdado dos pais e distribuiu o dinheiro aos pobres da aldeia.

Trata-se neste caso de uma verdadeira manifestação de concretismo: o simbólico e o abstrato são entendidos como real e concreto.

3) "Indignaram-se (os habitantes de Macondo) com as imagens vivas que o próspero comerciante… projetava no teatro de bilheterias que imitavam bo­cas de leão, porque um personagem morto e enterrado no filme, e por cuja desgraça haviam derramado lágrimas de tristeza, reapareceu vivo e trans­formado em árabe no filme seguinte. O público, que pagava dois centavos para partilhar das vicissitudes dos personagens, não pôde suportar aquele lo­gro e quebrou as poltronas" (Gabriel García Márquez).

Os escritores têm o dom de captar com maior acuidade e sutileza fenô­menos psicológicos originais, que escapam muitas vezes à observação dos cientistas.


Reificação 

A reificação (de res, rei = coisa + ficar + ção) é um sintoma ligado à manifestação precedente. Consiste na ação ou efei­to de converter algo em coisa, ou de conceber algo por analogia com a natu­reza e estrutura das coisas. É, em muitos casos, concebido no mesmo senti­do de "coisificação". Denomina-se também "reificação" a tendência a en­carar os seres humanos como "coisas" o que leva a supor que se procede a uma desumanização e reificação do humano.

No plano normal, observa-se que na psicoterapia psicanalítica os pacien­tes são transformados em objetos ou "coisas" estabelecendo-se entre anali­sando e terapeuta "relações objetais".

M. Balint observou que a psicanálise estava se distanciando cada vez mais da técnica fundada na comunicação, nas relações de pessoa a pessoa, para transformar-se em "relações objetais", em que o paciente é transformado em uma "coisa" manipulada pelo analista. Rickman empregou a expressão one­body psychology, para caracterizar esse tipo de relação. A esse respeito, diz J. Laplanche: "É sabido que uma pessoa, na medida em que é visada pelas pulsões, é qualificada de objeto: isso nada tem de pejorativo (?), nada em es­pecial que implique que a qualidade de sujeito seja por esse fato recusada à pessoa em causa."

No plano patológico, a reificação é observada como manifestação da es­quizofrenia. Em alguns enfermos, os conceitos abstratos e os simbólicos são empregados como se fossem questões concretas de significação privada e pessoal.

Honório Delgado cita este exemplo de reificação:

"Para um esquizofrênico, tomar o leite representava, em certas ocasiões, violar o amor que havia dedicado a uma jovem chamada Branca; a carne era a idéia de um seu conterrâneo; comer o pão francês significava uma ofensa ao idioma francês, comer queijo (queso) correspondia à destruição do sr. Que­sada; temia falar sobre a causa que identificava o ar que respirava com a ener­gia para a ação, a qual não desejava gastar em vão."

Em tais enfermos é possível verificar aquilo que se denomina reificação do tempo, que consiste em vivê-Io como entidade concreta, ou referi-Io aos fatos exteriores.

A reificação do tempo é assim exemplificada por Honório Delgado:

"Que hora é? – 'Falta pouco para o almoço.' A que hora costuma levantar-se? – 'A hora que toca a sineta do Pavilhão.' A que hora toma o seu café? 'Depois de ter arrumado as camas na enfermaria.' A que hora almoça? 'Depois que ajudo na limpeza.' A que hora vai dormir? 'Depois de tomar o comprimido.' A que hora lhe dão o comprimido? 'Isso é dado pelo enfermeiro.' A que hora o o enfermeiro? 'À hora de comprimido'."

Eugène Minkowski admite que a reificação esquizofrênica tem uma rela­ção plausível com a perda de contato com a realidade. J. Gabel tentou en­contrar esta correlação em um trabalho intitulado La réification Essai d'une psychopathologie de Ia pensée dialectique.

Em pacientes com perturbações afásicas, Kurt Goldstein verificou uma espécie de "reificação das entidades abstratas", que adquirem um caráter estritamente pessoal. Não se trata, segundo o autor citado, de "um déficit da atitude abstrata, senão da invasão do abstrato pelo concreto". Alonso-Fer­nandez admite que o concretismo reificante é um produto próprio da instala­ção autística no mundo, que, dada a sua desvinculação da realidade, equiva­le a um não estar-em-o-mundo".

A temporalidade perde, na reificação, o seu caráter qualitativo, cambiante, fluido, transformando-se em um contínuo rígido, bem delimitado, cheio de "coisas", quantitativamente mensuráveis. A temporalidade do mundo reifi­cado se transforma então em uma verdadeira temporalidade esquizofrênica. Disso resulta a incompreensibilidade da consciência reificante.


Idéias prevalentes

O conceito foi criado por Wernicke, mas a definição nin­guém sabe a quem pertence.

Considera-se como idéias prevalentes um conjunto de idéias que, em vir­tude de sua tonalidade afetiva, adquirem predominância sobre todos os de­mais pensamentos e se conservam por longo tempo ou indefinidamente. Nem todas as idéias prevalentes podem ser consideradas como patológicas. Em muitos indivíduos e em determinadas épocas encontramos o predomínio de um grupo limitado de idéias, em defesa das quais os seus defensores colo­cam em jogo a própria vida. Em torno dessas idéias, existe um conjunto de recordações, convicções, temores que os mantêm estáveis e adquirem gran­de força de convicção na formação do proselitismo. "A educação, a tradição familiar, as concepções das idéias básicas em matéria política, religiosa e so­cial determinam um círculo de crenças e idéias predeterminadas, com base nas quais são julgados os diversos acontecimentos isolados que na vida se apresentam (em relação a esses campos) e que dificilmente podem ser modi­ficados" (Bumke). Apesar disso, alguns juízos isolados, predileções e capri­chos, assim como certas inclinações e antipatias, muitas vezes incompreen­síveis, se devem à ação indireta de tais idéias prevalentes.

Em relação ao seu conteúdo, dificilmente se pode estabelecer uma nítida diferenciação entre as idéias prevalentes e as idéias originais de certos indiví­duos.

Bumke admite que as idéias prevalentes podem exercer uma poderosa ação sobre a vida mental, mas esse caráter não contribui para diferençá-Ias quando se manifestam nos indivíduos mentalmente sãos e nos enfermos psí­quicos. Para caracterizá-Ias como patológicas é indispensável examinar o seu conteúdo, a intensidade da tonalidade afetiva, a personalidade de quem as defende, e principalmente, a oportunidade de sua apresentação.

Entre os exemplos característicos de indivíduos portadores de idéias pre­valentes, consideradas nos limites da normalidade, se incluem os artistas, in­telectuais especializados em determinado assunto, inventores, coleciona­dores, pesquisadores, comerciantes sedentos de fortuna e aqueles indivíduos que, em determinadas épocas, saem em busca de minas de ouro e diaman­tes. Podem não descobrir as minas ambicionadas, mas o fracasso em suas tentativas não os desanima nem diminui a força de sua idéia prevalente.

As idéias prevalentes têm, como as idéias obsessivas, a característica de surgir e se impor à consciência do paciente. Também nesses casos o en­fermo experimenta o sentimento de ser dominado subjetivamente, de ter per­dido a liberdade espiritual.

Da mesma maneira como as pessoas sãs procuram livrar-se de suas preo­cupações, assim também os enfermos desejam que os seus pecados, os cas­tigos de que se julgam merecedores desapareçam. As idéias prevalentes do­minam a consciência por motivos compreensíveis e a sua única anormalida­de consiste na tonalidade afetiva e na debilidade volitiva ou na perturbação da capacidade de julgamento que impede a elas de serem corrigidas ou abandonadas.

Os pacientes que se encontram identificados com as suas idéias preva­lentes colocam, voluntariamente, todo o poder de sua mente a serviço das mesmas. Em alguns casos, ocorreu uma ofensa real ou surgiu a convicção de algum direito, fundada em determinado princípio, algumas vezes correto, por isso o paciente tenta por todos os meios obter uma reparação. Diz Lange a esse propósito: "Repelido reiteradamente por autoridades, fiscais, juízes, tribunais, ministérios, chega por último ao erro incorrigível de que os juízes e os próprios advogados estão subornados, que os testemunhos foram fal­sos e que o oprimem porque não querem correr o perigo de que chegue ao conhecimento público o lodaçal da justiça". O trabalho mental desfigurou os pensamentos do paciente, porém não os transformou em idéias delirantes.

O paciente portador de idéias prevalentes se encontra impossibilitado para se subtrair à sua influência e revela uma tendência a associá-Ias a novas vi­vências. De modo geral, a idéia prevalente reflete os traços dominantes da personalidade do indivíduo, daí a razão pela qual ele se identifica de modo completo com o seu conteúdo: não se trata de uma idéia estranha ao eu.

De modo geral, as idéias prevalentes exercem uma influência nefasta so­bre o pensamento, orientando-o de maneira inflexível em determinada dire­ção. Essas idéias podem ser consideradas patológicas quando estão em opo­sição ao meio ambiente. A idéia prevalente só adquire caráter patológico quan­do impulsiona a conduta do indivíduo por caminhos contrários à lógica e à razão. A essas idéias faltam os traços característicos das idéias delirantes: a certeza subjetiva, a ininfluenciabilidade, a impossibilidade de conteúdo e ser estranha ao eu.

Exemplo – "O.L., com 42 anos de idade, advogado. Trata-se de um paciente inteligente, que domina vários idiomas, possui ampla cultura geral e profundo conhecimento de Direito. Na primeira entrevista causou estranheza a sua exagerada cortesia e amabilidade. Os traços fisionômicos revelam ten­são e o seu olhar é evidentemente inquisitorial. Cada palavra que pronuncia é fortemente acentuada e deixa a impressão de ter sido previamente pesada e medida. Ocupa-se de maneira persistente de trabalhos científicos no cam­po do Direito e parece querer com isso distrair o seu pensamento, afastan­do de sua mente por algumas horas as suas idéias prevalentes, bastante incômodas.

"Até a idade de 26 anos trabalhou no escritório de um célebre advogado de sua cidade natal. Quando o referido advogado se dedicou à política, a sua clientela diminuiu de maneira considerável e, por isso, o paciente foi dispen­sado. Este fato contribuiu para que ele organizasse o seu próprio escritório. Para isso começou a entrar em contato de maneira digna e delicada com a clientela que havia abandonado o escritório do seu chefe. Apesar do extre­mo cuidado com que conduziu esses contatos, o filho do citado advogado propalou na cidade que ele havia "roubado" os clientes do seu pai. Ao tomar conhecimento deste fato sentiu-se fortemente ofendido em sua dignidade e, com o objetivo de esclarecer a ocorrência, solicitou, espontaneamente, a for­mação de um tribunal de honra para julgar a sua conduta. Isto durou mais de dois anos e contribuiu para ocasionar-lhe constantes aborrecimentos. Por fim o tribunal chegou à conclusão de que o paciente tinha procedido de ma­neira correta e que nada havia de repreensível em seu comportamento. Ape­sar disso, ele não se considerou satisfeito e sentia-se molestado quando al­guém mencionava o referido julgamento. Com efeito, uma das testemunhas tinha declarado que o paciente lhe escrevera uma carta, no curso do proces­so, oferecendo os seus serviços. Não era verdade. As coisas ficaram com­pletamente esclarecidas quando um amigo da testemunha relembrou-Ihe que havia sido ele que escrevera a carta recomendando os serviços profissionais do paciente. A própria pessoa voltou à sala do tribunal para esclarecer o seu equívoco. Apesar disso, o paciente admite que não está livre de suspeitas, pois o tribunal de honra não fez referência a este detalhe ao proferir a sua sentença. Acossado por estas idéias que o dominam de modo completo, ad­mite que no julgamento ou no sentido geral da sentença não ficou perfeita­mente esclarecida a sua inculpabilidade e inocência. Por isso, sente-se o pa­ciente inteiramente dominado por essa concepção mórbida que domina a sua mente no decurso de mais de dez anos" (Bumke).


Pensamento obsessivo

K. Westphal foi quem primeiro estudou o pensa­mento obsessivo, deixando-nos uma descrição completa e ainda atual. Segundo Westphal, o pensamento obsessivo se cons­titui de "representações que, sem que a sua tonalidade afetiva o explique, aparecem na consciência com o sentimento subjetivo de sua obrigatória per­sistência, não podem ser afastadas dela pelos esforços voluntários de quem as padece e, conseqüentemente, dificultam e entorpecem o curso ordinário das representações, ainda que o indivíduo se dê conta de sua falta de funda­mento e,também, reconheça, na maioria dos casos, a falsidade de seu con­teúdo e o caráter francamente patológico do fenômeno".

Bumke conceituou o pensamento obsessivo como "representações do­minantes, cuja inamovibilidade não pode ser suficientemente explicada pela ação de causas patológicas, que normalmente determinam a persistência das representações na consciência (estado de ânimo, tonalidade afetiva das mes­mas, incapacidade de chegar a uma conclusão), cujo conteúdo o próprio en­fermo chega a julgar como logicamente falso quando o examina em condi­ções de tranqüilidade".

O essencial do sintoma consiste no fato de o pensamento obsessivo se impor à consciência do enfermo, do qual não se pode livrar pelo esforço da vontade. A impossibilidade de reprimir o pensamento obsessivo não pode ser explicada pelos motivos ordinários. Störring admite que, nesse caso, há per­da da liberdade espiritual, uma impossibilidade de afastar os pensamentos "próprios" indesejáveis, que se impõem de modo poderoso à consciência do paciente.

Os tipos de pensamento obsessivo podem ser multiplicados ao infinito, porém entre os temas principais se destacam: pensar em sacrilégios, arquite­tar crimes, pensar em si mesmo de maneira depreciativa, pensar que se en­contra atacado de graves enfermidades.

O pensamento obsessivo se acompanha de certo grau de tensão, que pode "cristalizar" num estado de dúvida permanente. O estado afetivo permanen­te do enfermo é de apreensão e ansiedade.

O pensamento obsessivo se manifesta quase exclusivamente em neuró­ticos, constituindo o sintoma básico no quadro obsessivo. Pensamentos ob­sessivos discretos podem ser observados em casos de histeria e em determi­nadas psicopatias.

Exemplo – "A paciente já havia atravessado algumas fases depressi­vas. Na sua última estada no hospital, dois pacientes fizeram com ela algu­mas brincadeiras. Um deles segurou-a pela cabeça e o outro suspendeu-a pe­las axilas. Ela os repeliu, dizendo. ‘Não quero fazer amor no hospital'. Depois sobreveio-lhe o pensamento de que os dois homens poderiam ter feito algo com ela e que talvez estivesse grávida. Este pensamento, sem nenhum fun­damento, a dominava cada vez mais. Citamos as suas afirmações: 'Durante o dia todo, gira-me pela cabeça como tudo aconteceu: eles não teriam sido tão insolentes'. 'Algumas vezes me afasto do assunto, mas ele volta sem­pre ' Os seus pensamentos giram em torno do mesmo tema. Acredita com absoluta certeza que vai ter um filho, porém logo acrescenta: 'Não tenho cer­teza, ando sempre em dúvidas'. Conta o ocorrido à irmã e esta, como respos­ta, sorri e diz que ela deveria procurar o médico para tratar-se. Resistiu por­que o médico iria rir dela por causa de sua idéia "absurda". O médico não encontrou nada. Isto a tranqüilizou por um dia. Mas no dia seguinte já não acreditava no médico. Talvez quisesse apenas tranqüilizá-la. 'Não acredito em ninguém.' Pensa que a menstruação não apareceria. Ao sobrevir a mens­truação, sentiu-se no momento aliviada. Porém não estava segura nem con­vencida. 'Procuro esclarecer-me. Sento-me e reflito: ah, tudo aquilo não é ver­dade, não fui uma menina má. E logo penso que fui. Digo a mim mesma: um bom dia está para chegar.' 'E o dia todo penso nessas coisas. Sempre a luta dentro de mim: poderia ter sido assim e poderia ter sido também de outro modo, sempre a mesma coisa.' Pensa que já está grávida. 'Sempre penso que seria horrível se acontecesse.' Às vezes ri alto por causa dos seus pensamen­tos absurdos" (Jaspers).


Perseveração

 A perseveração do pensamento foi definida por A. Pick co­mo a "repetição automática e freqüente de representações (predominantemente verbais e motoras), que são introduzidas como material supérfluo nos casos em que existe um déficit na evocação de novos elemen­tos ideológicos". Revela-se através da linguagem pela dificuldade que o en­fermo apresenta para abandonar o tema que inutilmente procura desenvolver e, também, pela dificuldade de encontrar as palavras necessárias à expres­são do pensamento. Na opinião de Bumke, não se trata de um sintoma pri­mário, que perturbe o funcionamento normal, mas de um sintoma secundá­rio, que baseado em uma tendência fisiológica ao automatismo, se manifesta sempre que faltem novas representações na consciência. O sintoma foi des­crito pela primeira vez por Lissauer, em um trabalho que publicou sobre "ce­gueira psíquica".

Esta paciente de Stengel revela dificuldade para encontrar as palavras e tendência à perseveração:

"Todos se sentam juntos para comer, homens e mulheres. É um lugar bem grande. A quantidade que me dão para comer, não poderia comer. Ten­tei ser apresentável, exemplar. O que me deram para comer, eu me sentava e comia devidamente, procurava fazer o certo. O material da comida que dão, parecia não estar bem depois do tempo; era velho. Todas as outras mulheres receberam muita comida ou comidas e comeram tudo. Então pensei que tal­vez alguma outra coisa estivesse errada com vocês."


Prolixidade

A prolixidade consiste na incapacidade que o doente revela para selecionar as representações essenciais das acessórias. Co­mo resultado, o pensamento do enfermo não desenvolve o tema principal; ao contrário, perde-se a todo instante em uma série de pormenores desneces­sários, dando ao raciocínio um aspecto pegajoso, arrastado e difícil. Quando se interrompe o paciente em sua narrativa, ele retoma-a no mesmo ponto de interrupção, ou começa tudo de novo, sempre utilizando as mesmas palavras, as mesmas imagens e a mesma argumentação. O enfermo prolixo não tem a necessária agilidade intelectual para dar colorido e variedade à sua lingua­gem. As expressões são pomposas e cansativas, em virtude do uso freqüen­te de termos enfáticos e proposições gramaticais tautológicas.

Exemplo clínico de Ludwig Lippmann:

"Hoje faz oito dias que me encontro aqui e digo ao senhor que não posso encontrar palavras de louvor suficientes para dizer, sem exagero, quanto tem feito por mim, especialmente no curto espaço de tempo que aqui me encon­tro. Porque quando vim me encontrava de tal modo que me parecia impossí­vel, em tão pouco tempo, melhorar desse modo. É possível que para isso te­nha contribuído em grande parte a minha extraordinária força de vontade e também os seus excelentes métodos de cura. Porém, de qualquer modo, sua conduta para comigo é tão digna de apreço, que não posso encontrar pala­vras suficientes para louvá-Ia, e por isso eu desejo dar-lhe os meus mais ex­pressivos agradecimentos, assim como ao Dr. Luzitano, que tanto insistiu para que eu viesse para aqui. Pelo que se refere a minha pessoa, penso louvar ca­lorosamente os resultados que se obtêm nesta clínica, cuja obra é digna de todo louvor, ainda que para o senhor se torne financeiramente prejudicial. Por isso, o senhor merece por seus esforços não só o reconhecimento financeiro, como também o agradecimento e o elogio moral mais manifesto, e posso assegurar-lhe que farei o possível para dar a conhecer sua grandiosa obra nos jornais desta capital."


Incoerência

A incoerência é um sintoma de perturbação do pensamento, que acompanha as enfermidades onde se observam alterações da consciência. O pensamento incoerente é confuso, contraditório e ilógico. Nos casos de incoerência do pensamento, verifica-se que os conceitos estão representados por símbolos, como no sonho, e o raciocínio não leva em con­ta as leis da lógica, razão pela qual o pensamento se manifesta em franca discordância com a realidade objetiva. Distingue-se a incoerência da fuga de idéias, porque nesta há uma ligação compreensível entre um e outro termo. Por esse motivo, é possível compreender de algum modo o enfermo que apre­senta fuga de idéias, o que não acontece com um incoerente.

Exemplo clínico de Karl Leonhard:

"Não se deve perguntar a ninguém, que miséria! O que se vê aí fora. Vou morrer, já uma vez estive nesta clínica de doentes nervosos, não foi um so­nho. (- Que dia é hoje?) Tenho de vomitar, sim vou responder, tenho de me vestir. (- Sente alguma dor?) Sim, sonhei tudo isto nesta semana. (- Em que mês, estamos?) Nesta casa da Senhora Sachs eu caí, e que eu saiba, gritei muito. (- E o mês?) Não sei, então dormia, não estava consciente, quan­do fui no automóvel senti muitas dores. (- Sente alguma dor?) Não, porém estou muito feia. Precisamente ontem falamos e tínhamos dito: aí vem o sol­dadinho, é o espírito mau que anda aí fora. (- Como passou desde que lhe deram alta na última vez?) Me vesti bem, porque queria estar bonita. Com certeza aí fora está um espírito mau. Procuro o dinheiro, isto quer dizer agora mesmo."


Pensamento demencial

Nos estados demenciais o pensamento se mos­tra empobrecido. O defeito não é linear, como nos deficientes mentais, ao contrário, o enfermo demonstra um rendimento irre­gular, pois o processo demenciante não destrói as capacidades intelectuais de maneira uniforme. O déficit do pensamento é adquirido e desigual na de­mência. Por esse motivo, é possível, verificar que em alguns aspectos e em certos momentos, o pensamento demencial pode revelar elaborações supe­riores, apesar da falta de unidade e coerência: conceitos abstratos, juízos bem diferenciados, raciocínios complexos e demonstrativos, nos quais persistem resíduos da experiência e compreensão geral da vida. A pobreza de entendi­mento é relativa à quebra dos elementos próprios das atitudes e reações diante dos problemas da realidade. Na deterioração pouco avançada, persistem mais ou menos íntegros os recursos necessários à ação habitual e até ao trabalho profissional, principalmente aos que servem à satisfação das necessidades de rotina" (Honório Delgado). Muitos enfermos, que demonstram dificulda­des no entendimento de situações novas, podem apresentar reações adequa­das às circunstâncias.

A limitação dos conceitos, a diminuição dos elementos representativos e dificuldade de encontrar as palavras contribuem para que os enfermos per­maneçam limitados a um círculo restrito de interesses.

Nos casos mais graves, há diminuição da compreensão, que se torna evi­dente, por exemplo, pela incapacidade de apreender o sentido de uma gravu­ra, permanecendo o paciente preso aos pormenores sem condições para uma visão de conjunto. A narrativa é pobre, transcorrendo lentamente e com difi­culdade para passar de um assunto a outro. O raciocínio é de tipo egocêntrico.

Os enfermos vão manifestando, de maneira progressiva, dificuldade na compreensão e insegurança na execução de atos de conjunto. Por isso, não têm condições para julgar o comprometimento de sua capacidade para a apreensão dos números e sua ordenação. Tornam-se incapazes de apreender o sentido dos argumentos lógicos e de agir corretamente diante de proble­mas que necessitem de reflexão. Perdem, de maneira definitiva, a capacida­de para adquirir novos conhecimentos, para compreender e explicar, por exem­plo, os acontecimentos políticos. "Unidas à falta geral de espontaneidade psí­quica eficaz, tornam-se patentes a impossibilidade de concentrar a atenção, a deterioração da memória e da expressão verbal, em proporção variável, se­gundo os casos, com uma acentuada tendência à repetição. Por isso, freqüen­temente, o demente chega a desconhecer os objetos e as pessoas mais ínti­mas" (Honório Delgado).

Exemplo de pensamento demencial, extraído de uma observação de Mal­ford Thewlis: "Com a memória debilitada, o seu poder de raciocínio decres­cia; no entanto, com grande esforço podia despertar sua capacidade de orga­nização e seus dotes de orador brilhante. Em tais ocasiões não dava mostras de alteração mental, porém, se continuasse mantendo certo esforço prolon­gado, tornava-se confuso e parava no meio do discurso. Mais tarde também não percebia a sua confusão mental e, enquanto a fase inicial de seus discur­sos ainda era razoável, caía num palavreado sem sentido sobre vários assun­tos, ordinariamente reminiscências ou elogios a si próprio. Em um Congresso de Medicina Legal dissertou sobre a loucura como atenuante nos casos de homicídio. Durante alguns minutos falou com a eloqüência de orador experi­mentado, citando textos e oferecendo argumentos irretorquíveis. Fez refe­rência a um assassinato em um trem de estrada de ferro e descreveu o va­gão. Perdeu o fio do raciocínio e começou a divagar sobre companhias de es­tradas de ferro. A sua mente estava agora concentrada sobre si mesmo e no resto do discurso tratou apenas de sua pessoa. O discurso resvalou para o auto-elogio, tornou-se confuso e foi chamado à ordem. O chamamento do presidente com a campainha o devolveu momentaneamente à realidade; sentou-se e permaneceu monologando durante o resto da sessão".


Valor semiológico

Transtornos Mentais Afetivos

A inibição do pensamento é observada nos estados que se acompanham de depressão, principalmente na melancolia, onde o sintoma se revela com a má­xima intensidade. A expressão fisionômica do paciente é triste, abatida e con­traída, com grande expressão de sofrimento. O pensamento é lento, difícil, arrastado e penoso, assim como a linguagem. Os movimentos são lentos e limitados. A inibição do pensamento faz parte integrante da síndrome de de­pressão dos sentimentos vitais, especialmente como expressão do "comple­xo sintomático de inibição", na qual se destacam: "lentidão ou inibição do pensamento e da psicomotilidade, assim como de todas as funções vitais (psí­quicas e somáticas); alteração da vivência do tempo no sentido de lentifica­ção do presente e de um futuro fechado, que obriga o enfermo depressivo a olhar constantemente para o passado; desinteresse por todas as atividades habituais, mesmo em relação àquelas que eram agradáveis; astenia vital; vi­vência de alteração da atividade do eu, no sentido de encontrar-se esta inibi­da ou em estado de hipoatividade" (Goás).

A inibição do pensamento não é um sintoma isolado, mas, na depressão endógena, sempre se manifesta unida à tristeza vital e à angústia vital.

Na mania, observa-se a fuga de idéias em sua forma pura. Acompanha­-se de excitação psicomotora, logorréia e desviabilidade da atenção.


Esquizofrenia

Na esquizofrenia, verifica-se com freqüência a compulsão a pensar e a interceptação do pensamento. Alguns enfermos esquizofrênicos se queixam de que são forçados a pensar. Provavelmente, como se trata de pensamentos de conteúdo desagradável, os doentes procu­ram encontrar uma causa que os justifiquem, referindo que alguém os está obrigando a pensar desta maneira". Essa perturbação se acompanha de uma sensação de esgotamento. Bleuler considera que, nesses casos, quando o sen­timento compulsivo se acha ausente, o paciente acredita que está cumprin­do uma missão importante.

Examinada de maneira superficial, essa perturbação pode parecer opos­ta à interceptação do pensamento, quando, em geral, os dois fenômenos cos­tumam aparecer simultaneamente.

A interceptação do pensamento tem uma importância fundamental na sintomatologia e no diagnóstico da esquizofrenia. Bleuler cita uma série de exemplos em que os pacientes procuravam descrever o fenômeno com as mais diferentes denominações. Uma de suas doentes dizia que era forçada a permanecer sentada e quieta durante várias horas "para poder encontrar seus pensamentos". Um enfermo queixava-se de que sentia "obstáculos pa­ra pensar". Uma paciente descreveu a interceptação "como se alguém colo­casse algo sobre o meu rosto, é como se apertassem com força a minha bo­ca, como se alguém gritasse: cala a boca!" Com freqüência, os enfermos fa­zem referência à perturbação como devida a uma influência estranha. Um en­fermo de Jung disse que experimentava subjetivamente o distúrbio como uma "privação de pensamento". Bleuler considera essa expressão tão adequada que, em sua opinião, os enfermos esquizofrênicos compreendem perfeitamen­te o seu significado.

Além dessas alterações do pensar, verificadas na esquizofrenia, encon­tram-se ainda o pensamento vago, os pensamentos feitos, inspirados e sub­traídos, o pensamento derreísta e o concretismo.

As idéias prevalentes raramente se manifestam em enfermos esquizo­frênicos, sendo mais comum observá-Ias em personalidades fanáticas e nos querelantes.


Quadros neuróticos

O pensamento obssessivo é observado em quase to­dos os quadros neuróticos, constituindo o sintoma fundamental do transtorno obsessivo-compulsivo e em alguns enfermos epilé­ticos.


Epilepsia

Nesta enfermidade, encontram-se em sua forma característica a perseveração e a prolixidade.

A perseveração é o sintoma mais importante no psiquismo epilético e abrange não só os processos intelectuais, mas também os afetivos e voliti­vos. Fato singular, a perseveração se atenua de modo considerável nos doen­tes demenciados e, em geral, quase não é percebida nos epiléticos com de­ficiência mental. Empregando o Teste de Rorschach como método de investi­gação, Stauder chegou à conclusão de que o traço fundamental do psiquis­mo epilético é a perseveração, derivando-se daí, de uma forma ou de outra, os demais sintomas psíquicos da enfermidade.

Na narrativa dos epiléticos destaca-se, com freqüência, a prolixidade. Por essa razão, o pensamento desses enfermos não consegue desenvolver um assunto único, ao contrário, perde-se a todo instante em particularidades destituídas de importância, em pormenores sem significação, tornando a nar­rativa extremamente fatigante.

Vejamos estes exemplos de perseveração e prolixidade, retirados da observação de uma enferma epilética:         

"Faz tanto tempo que não tenho uma boa consulta, que eu não tenho um bom médico. Faz tanto tempo que eu não tomo um bom fortificante, nun­ca pensei em arranjar uma boa consulta desta santa mãozinha do senhor, gra­ças a Deus ganhei a boa sorte, graças a Deus ganhei a boa misericórdia de ter uma boa consulta, de vir para a boa mãozinha do senhor." "Eu sou uma criatura, graças a Deus meu Pai celestial, que nunca fui de linha que não sejam linhas retas, sempre fui uma criatura sempre amável, sem­pre fui uma criatura muito educada, não sou uma criatura errada, nunca fui uma criatura errada, graças a Deus."


Deficiência mental

Na deficiência mental a atividade intelectual está na dependência do grau da deficiência. Nos graus leves e intermediários, a estrutura do pensamento é elementar: os conceitos são pobres e ligados ao concreto: os juízos e o raciocínio, limitados e imprecisos ou, pelo contrário, "dogmáticos e sem plasticidade em sua aplicação". Nes­ses casos, "o pensamento intuitivo manifesta a mesma pobreza do discursi­vo. Assim, tanto a compreensão como a explicação dos fatos, por mais sim­ples que estes sejam, são inalcançáveis ou vagas. Não é possível a distinção clara de categorias: o essencial e o acidental, a causa e o efeito, o real é o imaginário não se apresentam ao espírito com diferenças precisas. Compre­ende-se que a previsão e o tino não se revelam, salvo na limitada esfera em que se exercita a habilidade prática do deficiente mental" (Honório Delgado).


Transtornos mentais orgânicos

Nos estados deficitários adquiridos (de­mências), o pensamento é improdutivo. O déficit não é linear e homogêneo, como na deficiência mental. Em certos as­pectos e em determinadas situações, "o pensamento demencial pode reve­Iar elaborações superiores, mesmo que, ordinariamente, sem unidade e con­gruência: conceitos abstratos, juízos bem diferenciados, raciocínios compli­cados e demonstrativos de que persistem restos dos resultados da experiên­cia e a compreensão geral da vida" (Honório Delgado).


Transtornos mentais sintomáticos

No delírio oniróide, na amência, nos estados crepusculares, na confusão mental por doenças tóxico-infecciosas, observa-se in­coerência do pensamento.

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