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A Transferência sob a óptica da psicanálise

Insistimos com esse trabalho, em apresentar a temática da Transferência, uma vez que a mesma se constitui no eixo principal por onde transita uma psicanálise, ou mesmo o que a torna possível. Na verdade, entendo que buscando um rigor técnico, seria muito importante que considerássemos a díade transferência-contratransferência.
Sabemos que vários autores, assim como o próprio Freud e Ferenczi ressaltaram por inúmeras vezes que o termo "transferência" não se constituia num fenômeno próprio da psicanálise. Tratava-se, isso sim, de um fenômeno mais geral. Admite-se que, em estando em análise, esse fenômeno se intensificaria. Portanto, podemos distinguir as "transferências analíticas", das "transferências extra-psicanalíticas", usualmente também denominada de "transferência lateral".

Entendemos que a transferência é, num sentido mais estrito, um deslocamento do afeto para a pessoa do analista.

Segundo H.C.Warren,em Dictionary of Psychology, Boston,1934: " O desenvolvimento de uma atitude emocional por parte do paciente em direção ao analista, sob a forma ora de uma reação afetuosa(positiva), ora de uma reação hostil(negativa), derivando a atitude, nos dois casos, das relações pregressas do paciente com um ou ambos os pais e, não própriamente da situação analítica como tal".

Pensamos que convém observar que a atitude transferencial é, de caráter geralmente ambivalente.

Podemos notar que vários psicanalistas, dentre eles E. Glover e Melanie Klein, fizeram questão de assinalar que o que era transferido não era só o afeto, mas sim toda uma forma de comportamento.

Segundo L.S.Kubie, em "Practical and theoretical Aspects of psychoanalysis", Nova Iorque, 1950, deixa muito claro, junto com M.Klein, de que não existe análise de qualquer criança sem transferência e a análise da transferência. Apenas para colocarmos uma posição que se contrapõe a esta, citamos os trabalhos de Anna Freud, sobre "O ego e os mecanismos de defesa", onde podemos notar claramente uma tendência a que a análise possa proporcionar ao sujeito uma vida mais adaptativa.

O termo "neurose de transferência":

Esse termo possui dois sentidos: um nosográfico e um técnico:


sentido nosográfico:

é a neurose na qual a transferência é possível (histeria, neurose obsessiva), por oposição à neurose narcísica, na qual a transferência psicanalítica é impossível, ou no mínimo, difícil (melancolia, esquizofrenia)


sentido técnico:

é a neurose terapêutica, a qual numa análise, substitui a neurose clínica: processo no qual os sintomas da neurose clínica são transpostos para a relação do analisando com o analista.

Nota Importante:

O termo "resistência de transferência", conota a transferência na medida em que opõe a repetição pela ação ao reconhecimento pela lembrança. "Essa resistência não deve ser contrastada com a resistência do recalcamento. É verdade que as ações transferenciais têm freqüentemente a aparência de pulsões do Id, mas o fato de que tais pulsões são resistências deve-se à destruição de seu contexto, ao lugar incorreto em que aparecem e o caráter de compromisso que recebem pela intervenção da defesa do ego" (O.Fenichel – "Problemas de técnica psicanalítica").

No entendimento de Daniel Lagache, seria um erro de interpretação considerar a resistência de transferência, como uma resistência à transferência e, mais precisamente à transferência positiva, assim como fizeram Jury e Fraenkel, em sua tradução francesa de "Inibição, Sintoma e Angústia".

Note-se que a mesma definição de transference resistance nos é dada por Berg, em Clinical Psychology (1948):

"A resistência que um analisando opõe ao processo analítico normal de transferência dos afetos filhos-pais para a imagem do analista". Acrescente-se que Berg nos lembra que o sentido clássico acima citado, não deve ser esquecido. Assim, a noção de "resistência à transferência" não fica isenta de interesse clínico, como ocorre, por exemplo, nas "neuroses de caráter". Contudo, devemos observar que não se trata de uma noção teoricamente muito sólida: trata-se de uma defesa do ego, sendo freqüentemente possível mostrar que se trata de uma "transferência de defesa".

Bibliografia:

Fenichel, Otto "Problemas de técnica psicanalítica".

Lagache, Daniel "A Transferência".
Etchegoyen, Horácio "Estudos sobre Técnica psicanalítica".

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