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Dicionário

psicologia profunda (por Jung)

Em 1896 verificaram-se novas concepções na teoria e prática psicológicas que marcaram o início daquilo que hoje é denominado de psicologia profunda. Os significantes eventos da­quele ano foram a classificação das neuroses e a publicação de um artigo intitulado "Sobre a Etiologia da Histeria", por Freud (Ellen­berger, 1970). Este último evento, como se verificou, foi importante tanto por seus fracassos como por seu sucesso, levando, como acon­teceu posteriormente, à compreensão, por Freud, de que no inconsciente é muito difícil distinguir a fantasia da lembrança.

Daquela época em diante, ele e seus colegas íntimos (um dos quais foi Jung, durante os anos de 1907 a 1913) despenderam menos atenção à revelação de lembranças suprimidas que à exploração do material inconsciente.

As inovações de Freud assentaram as fundações daquilo que estava por vir, um fato bem reconhecido por Jung. Entre estas inovações no posicionamento e técnica com pacientes, foi de primordial importância a introdução da interpretação de sonhos como instrumento da psicoterapia. Isso se combinava com a afirmação de Freud de que os sonhos possuem um conteúdo latente e também um manifesto; com sua argumentação de que o conteúdo manifesto é uma distorção do conteúdo latente do sonho resultante da censura inconsciente; e com sua aplicação da associação livre como método na análise dos sonhos. A teoria dos sonhos, de Freud, e sua compreensão das parapraxias, que resul­taram na publicação de A Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901) foram formulações derivadas de sua obra sobre a histeria. Em 1897, iniciou trabalho sobre Os Chistes e Sua Relação com o Inconsciente (1905), livro em que ele é o primeiro a investigar a função psicoló­gica do lúdico. Todas essas mudanças pretendiam fornecer chaves para a investigação do inconsciente, com a finalidade de renovar a mente consciente, e todas estavam completas antes de ele e Jung se encontrarem.

Jung iniciou um verbete de en~iclopédia sobre a psicologia pro­funda, escrito em 1948 e publicado em 1951, com as palavras: "'Psicologia Profunda' é um termo derivado da psicologia médica, cunhado por Eugen Bleuler para denotar aquele ramo da ciência psicológica relacionado com o fenômeno do inconsciente" (CW 18, parág. 1.142).

Nesse artigo Jung acha dificuldade em estabelecer as fontes das idéias principais, porém fala sobre Freud como o "verdadeiro fun­dador da psicologia profunda que traz o nome de psicanálise". Ele identifica a psicologia individual de Alfred Adler como uma continuação de uma parte das pesquisas iniciadas por seu mestre, Freud. Confrontando-se com o mesmo material empírico, Jung con­cluiu que Adler o havia considerado de um ponto de vista diferente do de Freud, sendo sua premissa a de que o fator etiológico primor­dial não era a sexualidade, mas o impulso de poder.

No que concerne a si próprio, Jung reconhece sua própria dí­vida para com Freud, enfatizando que seus primeiros experimentos com o Teste de Associação de Palavras confirmavam a existência das repressões encontradas por Freud e as conseqüências características, achando que, nas chamadas pessoas normais, bem como em neuróticos, as reações eram perturbadas por complexos emocionais dissociados (isto é, reprimidos). Iden­tifica suas diferenças de ponto de vista como relacionadas à teoria sexual da neurose que ele achava limitada e uma concepção do inconsciente que ele percebia necessitar ser ampliada, uma vez que a via como "a matriz criativa da consciência", contendo não somente conteúdos pessoais reprimidos, mas também motivos coletivos. Rejeitava a teoria da satisfação de desejo dos sonhos, en­fatizando, em seu lugar, a função da compensação nos processos inconscientes e seu caráter teleológico. Também atribuía seu rompimento com Freud a uma diferença de ponto de vista sobre o papel do inconsciente coletivo e como este se manifesta em casos de esquizofrenia, isto é, a formulação de sua teoria do arquétipo.

No mesmo artigo, Jung prossegue para delinear suas posteriores observações e descobertas independentes, agora incluídas no conjun­to de obras associadas à psicologia analítica. Com uma nova abrangência e proliferação de teorias operacionais da persona­lidade e do comportamento da personalidade, o termo psicologia profunda é hoje pouco usado, salvo em seu sentido original; ou seja, identificar e descrever as investigações especificamente de fenômenos inconscientes.

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