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Dicionário

personificação

Uma atividade psicológica fundamental pela qual tudo aquilo que o indivíduo experimenta é espontânea e involunta­riamente personificado, isto é, se torna uma "pessoa" psíquica. En­contramos nossas personificações em sonhos, fantasia e na projeção.

A primeira referência de Jung à personificação nos fornece um exemplo. É parte de sua interpretação da fantasia de uma paciente, e ele diz: "Era a espiritualidade da Srta. M. que, personificada como o Asteca, tornava-se por demais exaltada para que ela, alguma vez encontrasse um amante entre os homens mortais". Um conteúdo psíquico que tem suficiente intensidade ou mag­nitude para separar-se da personalidade como um todo pode ser percebido somente quando objetivado ou personificado, de acordo com Jung.  Assim, a personificação capacita ao indivíduo ver o funcionamento da psique como uma série de sistemas autônomos. Ela despotencia­liza o poder ameaçador da parte que se separou e torna uma interpretação possível.

Um processo psíquico natural, o personificar foi primeiramente observado por pesquisadores da psicologia profunda em estados pa­tológicos tais como a dissociação, alucinação ou fragmentação em personalidades múltiplas. Posteriormente, Jung falou sobre ela em conexão com a psicologia dos primitivos e a comparou com uma identificação inconsciente ou a projeção de um con­teúdo inconsciente em um objeto até o momento em que poderia ser integrado na consciência. Freud formulou conceitos em imagens personificadas; isto é, o censor, o superego, a criança polimorfamente perversa. Não foi, porém, o primeiro cientista a fazê-Io, como Jung apontou em sua obra sobre o médico/filósofo Paracelso e no trabalho sobre as visões de Zósimo, o alquimista. O próprio Jung personificava os conceitos que observava em­piricamente (Anima e Animus; Grande Mãe; Sombra; Self; Velho Sábio/Velha Sábia), dizendo que "o fato de que o inconsciente personifica espontaneamente… é a razão por que admiti essas personificações em minha terminologia e as formu­lei como nomes".

Na verdade, estava escrevendo sobre imagens de fantasia. Sua formulação radical era de que o comportamento psicológico evolui por intermédio de padrões mutáveis em imagens personificadas. Pode-se falar de despersonalização como perda da alma. Um paciente que não pode personificar tende meramente a personalizar tudo. A análise pode ser considerada como uma exploração do relacionamento do paciente com suas per­sonificações. Porquanto a capacidade de personificar é a base de toda vida psíquica, em última análise é ela que nos fornece as imagens da religião e do mito.

Dentre os adeptos de Jung, James Hillman (1975) foi o que escreveu com mais extensão e profundidade sobre o personificar como um processo psicológico natural e essencial. Ele observa que: (1) per­sonificar protege a psique contra a dominação de qualquer poder pretensamente único; (2) fornece um útil instrumento terapêutico ao estabelecer uma perspectiva pela qual uma pessoa pode admitir que essas figuras lhe pertencem e, ao mesmo tempo, reconhecer que também estão livres da sua identidade e controle; (3) como apontava Jung, mediante a personificação, as figuras adquirem objetividade e também são diferenciadas não somente da inconsciência, mas tam­bém uma da outra. Quer dizer, elas já não mais coalescem ou aderem a uma outra; contudo (4) o personificar encoraja um relacionamento entre dois ou mais componentes psíquicos; (5) tem uma vantagem sobre a conceitualização pelo fato de evocar uma resposta ativa em comparação com um nominalismo intelectual.

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