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Dicionário

psicoterapia

Tratamento da psique; quando aplicada a metodolo­gia da psicologia profunda, mediante investigação do inconsciente.

Considerada um termo e uma prática relativamente modernos, a psicoterapia, não obstante, tinha seus equivalentes em antigos ce­rimoniais de cura (Ellenberger, 1970). Quando Jung a define como tratamento da alma, precisamos lembrar que ele se refere a alguma coisa diferente de uma prática religiosa. De modo semelhante, embora relacionado com as ciências biomédicas, o domínio da psicoterapia é o da neurose distinta da doença mental ou de um distúrbio neurológico. Em uma palestra apresentada a seus colegas, em 1941 (relativamente tarde em sua carreira e no meio de uma guerra mundial), Jung afirmou que a tarefa primordial da psicoterapia era perseguir com singeleza de propósito o objetivo do desenvolvimento individual, e apontou sua origem nas cerimônias de restabelecimento de vários tipos em que "um homem se torna aquilo que sempre foi".

Tendo tido por pai a psicanálise, a psicoterapia moderna deri­vou em boa parte da metodologia freudiana. Porém, enquanto Jung desenvolvia suas próprias teorias, diferentes características começa­ram a emergir nas salas de consulta dos psicólogos analíticos. Con­tudo, a psicoterapia se mantém como uma discussão entre duas pessoas. Uma vez que a psique não pode ser tratada em compartimentos, pois nos distúrbios psíquicos tudo se entrelaça e a pessoa total é afetada, trata-se de um processo dia­lético entre dois sistemas psíquicos reagindo e respondendo um ao outro.

O psicoterapeuta não é simplesmente um agente do tratamento, mas um participante associado no trabalho. Ele lida com manifes­tações simbólicas que têm múltiplas implicações e, para dizer pouco, com tentações. Isso exige a "diferenciação moral" do próprio tera­peuta, pois um psicoterapeuta neurótico invariavelmente irá tratar sua própria neurose no paciente (CW 16, parág. 23; também Guggenbühl-Craig, 1971).

No primeiro plano do processo psicoterapêutico está a persona­lidade do próprio terapeuta como um fator curativo ou nocivo. O trabalho é baseado no princípio de que, quando fragmentos simbólicos apresentados pelo inconsciente são assimilados na vida consciente, uma forma de existência psíquica resulta, sendo somente mais saudável, mas também "funcionando" porque corresponde mais plenamente à própria personalidade do indivíduo. Durante a psicoterapia, o processo de recuperação do paciente ativa conteúdos arquetípicos e coletivos vivos no pró­prio indivíduo. A causa da neurose é vista como a discrepância entre a atitude consciente e a tendência do inconsciente. A dissociação é, por fim, resolvida pela assimilação ou conteúdos inconscientes. A "cura", conforme sugerido antes, é o paciente tornar-se o que ele realmente é.

Jung distinguia entre "psicoterapia maior", que lida com casos de neuroses graves ou estados psicóticos fronteiriços, e "psicoterapia menor", em que sugestão, bons conselhos ou uma explicação podem ser suficientes. Com este delineamento, aproximava-se da atual dife­renciação entre a psicoterapia dinâmica e de apoio. Não considerava a prática médica nem a psicologia acadêmica suficientes como fun­damento para a prática da psicoterapia, afirmando que "não se pode tratar a psique sem atingir o homem como um todo". Conseqüente­mente, mantinha fortes convicções sobre a necessidade de um trata­mento completo e contínuo de futuros terapeutas e foi o primeiro a insistir nesse procedimento.

Os pós-junguianos se preocuparam de modo mais explícito com a conduta da psicoterapia e existem notáveis diferenças na prática entre várias escolas (Samuels, 1985a). Ampliando a diferenciação de Jung entre a psicoterapia maior e menor, certos analistas falam da análise como pertinente ao trabalho de considerável duração e freqüência, ao passo que o termo "psicoterapia" é reservado para um trabalho menos freqüente ou de longo prazo (embora não menos regular). No entanto, o próprio Jung não fazia essa distinção e era mais aleatório em sua metodologia. Sustentava que a terapia devia ser projetada, regulada e avaliada nos próprios termos do indivíduo.

Em casos de dúvida, ou atuando de maneira heterodoxa, ficava pro­penso a submeter aquilo que era feito à arbitragem decisiva do in­consciente, o seu próprio lado a lado com o de seu paciente.

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