Berbiguier era originário de Carpentras, onde nasceu a 3 de julho de 1764. Em 1792, deixou sua cidade natal e foi para Avignon, onde trabalhou como funcionário da loteria e economista do Hospital Civil. Ao que parece, foi três ou quatro anos depois que se iniciaram as idéias de perseguição, que fariam a sua "celebridade" histórica. Em 1813, chegou a Paris para defender os interesses de um velho tio, cônego de Sainte-Opportune, que faria dele o seu legatário universal. Roubado por muitos, destinou o dinheiro que lhe restava à edição em 1821-22 de três volumes ilustrados da sua grande obra "Os fantasmas ou nem todos os demônios são do outro mundo", dedicado "a todos os imperadores, reis, príncipes, soberanos das quatro partes do mundo" e da qual reservou um exemplar ricamente encadernado para Carlos X. Em 1841, voltou para Carpentras e morreu com a idade de 87 anos, a 7 de dezembro de 1851, no hospital dessa cidade, onde era pensionista pagante.
"Os fantasmas ou nem todos os demônios são do outro mundo", é uma leitura tediosa. Mas não deixa de ser um documento apaixonante, relatando em estado bruto um delírio crônico de perseguição, essencialmente interpretativo no seu mecanismo, e que evoluiu sem enfraquecimento notável durante 55 anos, sobre um único tema: tudo o que acontece de mal no universo, das entorses às mortes súbitas, das intempéries à gravidez das moças seduzi das, se deve a esses demônios malfeitores, contra os quais o autor empreendeu uma luta sem trégua, o que o autorizava a "tomar a qualificação de flagelo dos fantasmas". Na primeira página, uma litografia o representava cercado de "símbolos", que ele se dava ao trabalho de descrever: "Os quatro cantos do desenho são cercados por um coração de boi com quatro pedaços de enxofre como um colar, por plantas aromáticas e alguns feixes de agulhas ou alfinetes. Acima de mim, vê-se o meu querido Coco (seu esquilo), vítima do fantasmismo e meu amigo fiel."
Philippe Pinel, a quem um vigário de Notre-Dame enviara Berbiguier em 1816, e que lhe prescrevera banhos, foi imediatamente posto nas fileiras de demônios perseguidores que ele exterminava com alfinetes, ou que aprisionava em garrafas lacradas, para que pudessem assistir às torturas que infligia aos seus semelhantes.
Brierre de Boismont, Baillager, Legrand du Saulle, para citar apenas seus contemporâneos, se interessaram pelo caso Berbiguier e lhe reservaram um lugar em seus trabalhos sobre as alucinações e os delírios de perseguição.