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Dicionário

BERNHEIM, Hippolyte (1840-1919)

Bernheim nasceu a 17 de abril de 1840 em Mulhouse, onde fez seus estudos secun­dários. Matriculou-se na Faculdade de Medi­cina de Estrasburgo, e ali defendeu sua tese em 1867. Era professor no momento em que estourou a guerra de 1870. Optou pela França e, deixando a Alsácia, foi nomeado, em 1872, suplente de Hirtz na faculdade de Nancy, que acabava de abrir suas portas. Sete anos de­pois, obteve a cátedra de clínica médica. Era um clínico geral, e até então nada o levara a ocupar-se das doenças do espírito, quando em 1882, intrigado com o renome de Lié­beault, que em um subúrbio de Nancy trata­va seus doentes com o sono provocado, deci­diu iniciar-se nesse método junto a ele. Sedu­zido pelos resultados que obtinha e, como se dizia, pelo alívio da sua própria ciática re­belde, tornou-se rapidamente o teórico e líder daquilo que se chamaria Escola de Nancy, agrupando em torno de si os doutores Lié­beault e Beaunis e o jurista Liégeois. Em 1882, publicou na Revue Médicale de L'Est o artigo "Magnetoterapia – Histórico e fatos novos" seguido, um ano depois, na mesma revista, de uma série de artigos, que, sob o título "Da sugestão no estado hipnótico e no estado de vigília", formariam o conteúdo de um volume publicado por Doin em 1884. O essencial da sua doutrina estava contido nes­sa obra: recusando as teorias fluídicas e mag­néticas, negando a ação do ímã e qualquer fenômeno "maravilhoso", fazia do sono hip­nótico ou provocado um estado fisiológico que se podia obter mais ou menos facilmente em qualquer indivíduo. O estado de hipnose não era, de modo algum, privilégio da his­teria, e o mecanismo em jogo era a sugestão. Isso equivalia a contradizer, ponto por ponto, as teorias defendidas por Charcot. Também significava começar, contra a Escola da Sal­pêtrière, uma luta que, além da morte de Charcot em 1893, teria prolongamentos na obra de Gilles de La Tourette e de Babins­ki, mas é forçoso reconhecer que nessa at­mosfera de euforia científica que cercava o estudo das manifestações mais espetaculares da histeria e que precedia a "revolução" freu­diana, os médicos de Nancy eram dos poucos a conservar certo distanciamento crítico.

Posteriormente, a teoria de Bernheim ain­da evoluiria em oposição às idéias reinantes, e lhe valeria mais alguns adversários. Ele afirmava que podia haver influência sem so­no: "os fenômenos ditos hipnóticos existem sem sono, isto é, sem hipnose, se se entende com essa palavra sono provocado", e o hip­notismo, no fundo, não era mais do que a mobilização da sugestionabilidade, com ou sem recurso ao sono provocado. Assim sen­do, a hipnose era devolvida à posição de um procedimento psicoterápico entre outros, que podiam utilizar meios diversos: "sugestão verbal em estado de vigília ou de sono, per­suasão racional e emotiva, sugestão encarna­da em práticas materiais" ("Da sugestão", 1911).

Em 1910, Bernheim se aposentou e foi para Paris, onde ainda publicou Sono e so­nambulismo (1912),A histeria (1913), Auto­matismo e sugestão (1917). Morreu a 22 de fevereiro de 1919.

Lembre-se que Freud, "com a intenção de aperfeiçoar a sua técnica hipnótica" como ele próprio relatou em "Minha vida e a psica­nálise", passou várias semanas durante o ve­rão de 1889 no serviço de Bernheim, de quem até traduziu duas obras importantes: Da sugestão e suas aplicações à terapêutica em 1889 e Hipnotismo, sugestão, psicoterapia em 1892.

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