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Dicionário

BABINSKI, Joseph-François-Félix (1857-1932)

Babinski nasceu em Paris a 17 de novembro de 1857, em uma família polonesa que emi­grara para a França em 1848, fugindo da repressão czarista. Seu pai, que terminaria a sua carreira como bibliotecário da Escola de Minas, era engenheiro, mas, muito engajado nos movimentos oposicionistas poloneses, deixava muitas vezes o lar, para participar de atividades nacionalistas. Assim, foi a mãe que teve o papel mais importante na educação dos dois filhos, Joseph e seu irmão mais velho Henri, também engenheiro, e que, sob o pseu­dônimo de Ali-Bab, publicou um célebre tra­tado de Gastronomia prática. Os dois irmãos, tendo permanecido solteiros, estiveram mui­to próximos durante toda a vida.

Depois de uma residência nos serviços de Legrand du Saulle e de Vulpian, de uma sólida formação anatomopatológica adquiri­da nos laboratórios de Cornil e Ranvier, Ba­binski defendeu sua tese sobre a esclerose em placas, e em 1886 tornou-se chefe de clínica no serviço de Charcot, em plena fase dos estudos sobre histeria. É interessante notar que, no mesmo ano, a freqüência a esse ser­viço por dois médicos da mesma idade, tendo um mesmo passado de neuropatologistas, Babinski e Freud, teria sobre suas carreiras uma ação determinante exatamente oposta.

Nomeado médico dos Hôpitaux em 1890, Babinski assumiu imediatamente um serviço no Hospital de La Pitié. Permaneceria ali até sua aposentadoria em 1927. Em 1892, apre­sentou-se ao concurso para professor, apoia­do por Charcot, que, sabendo-se doente, tal­vez visse nele o seu sucessor. Bouchard era o presidente da banca, e estava em maus termos com Charcot. Babinski foi eliminado. Nunca tentaria uma segunda chance, e renunciou à carreira universitária. Em 1914, foi eleito para a Academia de Medicina. Morreu a 29 de ou­tubro de 1932, dois anos depois do irmão.

A obra de Babinski, inclusive paradoxal­mente a sua obra neurológica, foi muito in­fluenciada pelo problema da histeria, sobre a qual a sua posição, calcada na de Charcot até o falecimento do mestre em 1893, mudaria várias vezes. A única constante parece ser uma oposição irredutível a Bernheim e ao que ele chamava a sua "universidade de al­deia", enquanto que, inconfessadamente, suas concepções se aproximavam pouco a pouco das da Escola de Nancy.

Em 1886, Babinski publicou no primeiro número da Revista de Hipnotismo Experi­mental e Terapêutico um artigo intitulado "Pesquisas que servem para estabelecer que certos fenômenos nervosos podem ser trans­feridos de um paciente para outro sob a in­fluência do ímã" (depois de estabelecer, co­mo afirmava, "condições tais que qualquer idéia de simulação ou sugestão deve ser ab­solutamente afastada"). O artigo, que foi re­tomado no mesmo ano em Progresso Médico se referia não só ao hipnotismo, mas também à metaloscopia de Burq, e até às teorias "fluídicas". Três anos depois, em "Grande e pequeno hipnotismo", que foi publicado nos Archives de Neurologie, Babinski atacou vio­lentamente a escola de Nancy, "o que, aliás não exige longas argumentações, pois ela consiste essencialmente em negar tudo o que se afirma em Paris"… Atacou também Bern­heim, que "não atribui nenhuma importância à existência de fenômenos somáticos, que para ele são apenas obra de sugestão". Ora, a sugestão, "isto é, a idéia introduzida no cére­bro" (Bernheim), constituía para os estudio­sos de Nancy "a chave da hipnose", e quando, na memorável sessão da Sociedade Neuroló­gica do dia 7 de janeiro de 1901, Babinski propôs a sua nova "Definição da histeria", foi justamente à sugestão que ele se referiu: "O que caracteriza as perturbações primitivas [da histeria] é o fato de que é possível repro­duzi-Ias por sugestão "com uma exatidão ri­gorosa, em certos pacientes, e fazê-Ias desa­parecer sob a influência exclusiva da persua­são." E propôs o termo de pithiatismo (do grego, eu persuado + curá­vel), "para substituir vantajosamente" a pala­vra histeria, prestando ao mesmo tempo uma homenagem inconsciente a Peitó, divindade do cortejo de Afrodite, e, através dela, ao ca­ráter sedutor da histérica. Deixando de assi­milar histeria e hipnotismo e negando o fator afetivo, assimilava então histeria e sugestão, indo além do pensamento de Bernheim, que afirmava – com razão – que a sugestão ultrapassa amplamente o quadro da histeria.

O gênio de Babinski se manifestava em outras questões. Todos os que o conheceram exaltavam as suas qualidades de observador taciturno, obstinado e minucioso. Na tradição de Charcot, desejava aplicar ao estudo da his­teria o olhar descritivo do neurologista, ten­tando pacientemente descobrir os sinais ob­jetivos que distinguissem o sintoma histérico do sintoma orgânico. Se esse método, no caso da histeria, se revelou errôneo, permitiu a Babinski refinar a semiologia neurológica, codificar um procedimento de exame rigoro­so, precisar as correlações anatomoclínicas que, por exemplo, iriam levá-Io a demonstrar, em 1896, a especificidade da extensão do grande artelho (hálux) em caso de lesão do feixe mo­tor piramidal ("sinal de Babinski") ou ainda, 15 anos depois, graças apenas à precisão do seu exame clínico, a localizar e fazer operar com sucesso, por Paul Lecène, um tumor da medula espinhal, assinando assim a certidão de nasci­mento da Escola Francesa de Neurocirurgia.

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