Marguerite Bottard era a "Bobotte" ou a "Mamãe Bottard", enfermeira-chefe de Charcot, uma das raras cujo nome e rosto chegaram até nós, na massa desse pessoal "anônimo" mas sobre o qual repousava, efetivamente, todo o funcionamento da instituição hospitalar.
Nascida a 29 de janeiro de 1822 em Charny (Côte-d'Or), tinha apenas 19 anos quando, a 12 de janeiro de 1841, entrou para a Salpêtrière como "auxiliar de serviços gerais", no serviço de Trélat pai. Ligada depois aos serviços de Falret, de Legrand du Saulle, de Charcot a partir de 1862, e enfim de Raymond em 1893, teve uma carreira de mais de 60 anos no mesmo hospital, cujas portas ela ficava, às vezes, dois ou três anos sem atravessar.
A 12 de janeiro de 1891, Peyron, diretor da Assistência Pública, organizou no grande anfiteatro da Salpêtrière uma "festa leiga" para celebrar os 50 anos de função de Marguerite Bottard. Bourneville, no Progrès Médical, nos deixou em duas páginas inteiras o relato completo da cerimônia: a platéia era numerosa e seleta, a sessão se abriu com a Marselhesa, interpretada pela fanfarra das crianças de Bicêtre, a heroína foi condecorada com as Palmas Acadêmicas. A festa era simpática, mas talvez não desprovida de segundas intenções: de fato, naquela época, Bourneville combatia vigorosamente o pessoal religioso dos hospitais, e "Mamãe Bottard" constituía – involuntariamente – um excelente agente de propaganda. O artigo de Bourneville, aliás, era transparente ao concluir: "Essa cerimônia verdadeiramente imponente terá a mais feliz influência na reforma da laicização dos estabelecimentos hospitalares e do ensino profissional dos enfermeiros e enfermeiras."
Em 1898, o ministro Louis Barthou, "compadecendo-se dos humildes", concedeu a Legião de Honra à Senhorita Bottard, que trabalharia ainda mais três anos. "Admitida no repouso" a 31 de julho de 1901 (já tinha 79 anos), pôde enfim aposentar-se na própria Salpêtrière, pois gozava do pied de lit (direito a alojamento e alimentação, concedido outrora por Mazarino aos funcionários do Hospital Geral que tivessem mais de 20 anos de serviço). Morreria de câncer de mama a 14 de novembro de 1906, entre as "Repousantes" da divisão Hemey.