Foi em Garencières, no departamento de Eure, que nasceu a 20 de outubro de 1840 Désiré-Magloire Bourneville, em uma família de pequenos agricultores. Certamente, foi graças à Delasiauve, então médico do Hospital Bicêtre, originário de uma comuna vizinha e amigo da família, que ele se inclinou para a medicina. Efetivamente, depois de estimular o jovem Bourneville a fazer sua inscrição no curso, o acolheu no seu serviço de Bicêtre e confiou-o a Vallée, outro normando, "professor" do serviço das crianças idiotas, e ligou-o desde 1862 à redação do Journal de Médecine, fundado no ano precedente. Nomeado residente dos Hôpitaux de Paris em 1865 junto a Giraldès, cirurgião do Hospital das Crianças Doentes, Bourneville foi depois residente na Salpêtriere junto a Delasiauve, e depois Charcot*, de quem foi assistente "oficioso", de 1871 a 1879.
Em 1879, venceu o concurso para médico de Bicêtre, e ali organizou um serviço de crianças "idiotas e epilépticas", cuja criação solicitara ao Conselho Municipal já em 1878. Codificou uma rigorosa assistência médico-pedagógica, cujo balanço de funcionamento publicava com seus residentes todos os anos, até a sua aposentadoria. Dirigiu ao mesmo tempo a fundação Vallée em Gentilly, posto que conservaria até a morte, após sua aposentadoria como médico de Bicêtre em 1905. Morreu em Paris, a 29 de maio de 1909 e foi sepultado no cemitério de Père- Lachaise.
"Baixinho, vermelho como um tomate, vingativo e passional", segundo Léon Daudet, que não gostava dele, anticlerical sectário, apóstolo da expulsão das congregações hospitalares, "Bourbour" exerceu durante toda a vida atividades variadas, às vezes difíceis de dissociar, de médico, jornalista e político.
Ao médico, devemos muitas publicações consagradas em sua maioria a problemas de neurologia e psiquiatria: pesquisas clínicas e terapêuticas sobre a epilepsia e a histeria, sobre a idiotia mixedematosa, sobre a educação das crianças retardadas, sobre a anatomopatologia do sistema nervoso (é a ele que devemos a primeira descrição da esclerose cerebral tuberculosa, dita doença de Bourneville), e também traduzindo as suas preocupações sociais: relatórios sobre a assistência às crianças incuráveis, sobre as colônias de retardados, sobre a colocação dos alienados nos asilos e a revisão da lei de 1838, e sobre a fixação do número de médicos nos asilos públicos.
Sua carreira de jornalista começou, como dissemos, com a sua colaboração precoce no Journal de Médecine. Com o desaparecimento desse periódico em 1870, Bourneville aceitou a direção do Mouvement Médical, mas, sentindo-se sujeito a muitas limitações e estimulado por Charcot, fundou em 1873 o Progrès Médical, de tendência mais militante. Em 1876, fundou com Regnard a Iconographie de La Salpêtrière, e em 1880, os Archives de Neurologie e o Année Médicale.
Conselheiro municipal do bairro Saint-Victor no V arrondissement, de 1876 a 1883, foi durante cinco anos relator do orçamento da Assistência pública e do orçamento dos Asilos de Alienados, e autor de muitos relatórios sobre a higiene hospitalar, o melhoramento da carreira do pessoal de enfermagem, a laicização dos hospitais, a criação de bibliotecas hospitalares destinadas aos doentes, a necessidade de criar, para as parturientes, serviços confiados a médicos-parteiros especializados.
Em 1883, na condição de republicano radical, Bourneville foi eleito deputado da 1ª. circunscrição de Paris, em substituição a Louis Blanc, que havia falecido. Mas em 1890, será derrotado por Alfred Naquet, "renegado" do partido boulangista e também ex-médico da Salpêtrière.