Procedimento psicocirúrgico que consiste na ablação da área pré-frontal do lobo frontal. A área pré-frontal é aquela porção do lobo frontal anterior à área 6 de Brodmann, a área pré-motora. Como procedimento psicocirúrgico, a operação costuma ser realizada bilateralmente. Em contraste com a lobectomia frontal, que é um procedimento aberto em que o tecido é extirpado e, portanto, um estrago cortical mais direto é causado, a lobotomia é um procedimento "cego". Faz-se um orifício no crânio e insere-se um leucótomo para cortar as fibras nervosas (substância branca) que ligam o lobo frontal ao tálamo. Assim, na lobotomia há menos dano cortical do que na lobectomia. Este procedimento interrompe as fibras fronto-talâmicas e tálamo-frontais, assim como os sistemas associados do lobo frontal.
A lobotomia pré-frontal foi um dos primeiros procedimentos psicocirúrgicos usados nos Estados Unidos. Parece reduzir as sensações de ansiedade e as atividades introspectivas; e os sentimentos de inadequação e constrangimento são, assim, atenuados. A lobotomia reduz a tensão emocional associada às alucinações e elimina os estados catatônicos. Como quase todos os procedimentos psicocirúrgicos têm efeitos colaterais indesejáveis, geralmente só se recorre a eles depois de todos os outros métodos terem fracassado. Quanto menos desorganizada for a personalidade do paciente, mais óbvios serão os efeitos colaterais pós-operatórios. Por essa razão, a lobotomia pré-frontal bilateral é empregada mais comumente na esquizofrenia do que em qualquer outro distúrbio. A lobotomia pré-frontal tem utilidade nos seguintes distúrbios, enumerados em ordem decrescente quanto aos bons resultados: distúrbios afetivos e emocionais, estados obsessivo-compulsivos, estados de ansiedade crônica e outras condições não-esquizofrênicas, esquizofrenia paranóide, tipos indeterminados ou mistos de esquizofrenia, esquizofrenia catatônica e esquizofrenia hebefrênica e simples. Bons resultados são obtidos em cerca de 40% dos casos, resultados razoáveis em cerca de 35%, e resultados sofríveis em aproximadamente 25%. A taxa de mortalidade provavelmente não excede 3%. A melhora maior é observada em pacientes cujas personalidades pré-mórbidas eram "normais", ciclotímicas ou obsessivo-compulsivas; em pacientes com inteligência superior e boa educação; em psicoses com o súbito desencadeamento e um quadro clínico de sintomas afetivos de depressão ou ansiedade, e com mudanças de comportamento tais como a recusa de alimento, hiperatividade, alucinações e delírios de natureza paranóide.
Acessos convulsivos são relatados como seqüelas da lobotomia pré-frontal em 5% a 10% dos casos. Tais acessos são, em geral, bem controlados com as drogas anticonvulsivantes comuns. O embotamento pós-operatório da personalidade, a apatia e a irresponsabilidade são mais a regra do que a exceção. Outros efeitos colaterais incluem a distração, infantilidade, jocosidade, falta de tato ou disciplina, e incontinência pós-operatória.
A lobotomia pré-frontal também tem sido usada com êxito para controlar a dor resultante de lesões orgânicas. Neste caso, a tendência é empregar a lobotomia unilateral, pois está provado que uma lobotomia suficientemente extensa para aliviar sintomas psicóticos não é necessária para controlar a dor.
Desde a introdução da lobotomia pré-frontal e da lobectomia pré-frontal, vários outros procedimentos psicocirúrgicos foram iniciados: lobotomia transorbital, talamotomia, secção das fibras condutoras subcorticais, topectomia etc. A tendência atual é no sentido da operação seletiva, sendo escolhido um determinado procedimento com base na natureza da doença, sua duração e extensão, idade do paciente etc. A lobotomia pré-frontal é também denominada lobotomia frontal, leucotomia pré-frontal e leucotomia frontal.