Filha de um general russo de origem francesa e de mãe proveniente de uma família de industriais alemães de raiz dinamarquesa, Louise von Salomé nasceu em São Petersburgo a 12 de fevereiro de 1861. Brilhante e independente, educada em ambiente protestante abastado e culto, falando quatro línguas, viajava muito e desposou, em 1887, o orientalista Friedrich Carl Andréas, quinze anos mais velho, que trabalhava em Göttingen, onde ela acabaria fixando-se. Casamento indissolúvel e nunca consumado, bem ao estilo dessas ligações ambíguas de que ela gostava e que já mantivera com o pastor Gillot – seu primeiro amor (que abençoou a sua união) -, com Nietzsche e com o filósofo Paul Ree, até que tivesse amores mais concretos com Rilke, "Zemeck", Tausk e Poul Bjerre, que a apresentou a Freud em 1911, no congresso de Weimar. Ela tinha então 50 anos e ainda não freqüentara o meio dos psicanalistas.
Seduzida por eles, iria seduzi-Ios. Em outubro de 1912, foi admitida nas "sessões de quarta-feira" da Sociedade Psicanalítica, das quais participou durante sua permanência em Viena, freqüentou Karl Abraham e o casal Eitingon, foi recebida no nº 19 da rua Berggasse e até encontrou-se com Adler, o "dissidente". Só em 1921 conheceria Anna Freud*, com quem fez uma amizade que duraria até a morte. Teve então uma vida bastante modesta em Göttingen, onde exercia a psicanálise. Friedrich Andréas morreu em 1930. Ela própria, operada de um câncer de mama, diabética e quase cega, faleceria em 1937 de uremia.