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Psicoterapia de grupo e a psicanálise – Limites e possibilidades

Permanece questão aberta, além disso, saber quanto o pensador ou o escritor, individualmente, devem ao estímulo do grupo em que vivem, e se eles não fazem mais do que aperfeiçoar um trabalho mental em que os outros tiveram parte simultânea” Abordaremos no presente texto algumas vertentes da discussão acerca da possibilidade, coerência, aplicabilidade da chamada terapia de grupo dentro de uma abordagem psicanalítica. Sabemos que dependendo da linha teórica privilegiada como leitura, essa discussão se tornará mais ou menos estéril e que muitos teóricos ao longo do tempo de existência da psicanálise têm empreendido a tentativa de construir conceitos técnicos que possibilitem entender essa modalidade de atendimento e sua aplicabilidade.

Vamos, a seguir, situar então um pouco, a questão em torno do aparecimento dessa modalidade: a abordagem de grupos.

“A Psicoterapia de grupo foi iniciada por(Joseph) Pratt em 1905 ao introduzir o sistema de “classes coletivas” em uma sala de pacientes turbeculosos. A finalidade da terapia consistia em acelerar a recuperação física dos enfermos, mediante uma série de medidas sugestivas destinadas a que os enfermos compreendessem da melhor forma possível seu tratamento dentro de um clima de cooperação ou, melhor dizendo, de identificação”(1)

Essa prática trouxe como forma original da psicoterapia de grupo que consistia em: “utilizar de forma sistemática e deliberada as emoções coletivas do grupo para alcançar uma finalidade terapêutica”(1)*

Langer, Grinberg e Rodrigué afirmarão que os pioneiros da terapia de grupo(Joseph Pratt,Buck, Chapel, etc) buscavam a solidariedade do grupo para obter fins terapêuticos e eram grupos voltados para o atendimento de pacientes portadores de doenças orgânicas e não psiconeuroses, o terapeuta também exercia antes, toda uma atividade de palestras e orientações quanto ao tratamento, abrindo em seguida para perguntas e manifestações dentro do grupo. “O método estimula a identificação do enfermo com o médico”(1)

Joseph Pratt é considerado então, o percursor da psicoterapia de grupo.

Teríamos essas caracterização de atendimento, onde o terapeuta permanece como uma figura ainda idealizada e central, quase educativa. Logo após, encontraremos o aparecimento “Grupo com estrutura fraternal” que estimularia uma fraternidade entre os membros do grupo, no modelo conhecido, por exemplo, dos Aas

Em 1911, Moreno cria a concepção de psicodrama, que consistirá na dramatização dos conflitos psíquicos do paciente por um grupo especializado de assistentes que denominará de “egos auxiliares”.

A seguir, encontraremo correntes ligadas já a psicanálise, que ainda guardam essas características da estrutura fraternal, mas que passam a introduzir a interpretação da situação coletiva “aplicando ao grupo uma técnica de orientação psicanalítica”. Serão aí citados nomes como Slavson, Schilder e Klapman.

Veremos que um nome que logo se destacará nessa evolução do entendimento da dinâmica grupal sob o olhar da psicanálise, será o do teórico Wilfred Bion, que estudou profundamente a questão dos grupos após a Segunda Grande Guerra. “É conhecido particularmente pelo seu trabalho no Instituto Tavistock de Relações Humanas em Londres. De seu trabalho com o exército, reteve um foco em indivíduos e em grupos”(Wiki). Estudou momentos pelos quais, acreditava ele, todos os grupos passam não necessariamente em ordem seqüencial ou determinada, podendo alternar-se ou repetir-se cada um desses três momentos, “pressupostos básicos”, seriam os de: Dependência, Luta e fuga e acasalamento.

-Dependência- jogo onde o terapeuta é revestido de poderes mágicos e onipotente, que irá satisfazer todas as necessidades e desejos, predomina culpa e depressão;

-Luta e Fuga – convicção que existe um inimigo, receio do grupo em constituir-se como tal. Predomina ira e ódio;
-Acasalamento – esperança messiânica de vir a ter um salvador, idéia de futuro para o grupo.

Por esse brevíssimo, e sabemos incompleto histórico, por sua cronologia, poderemos ver que a questão do grupo nunca foi totalmente estranha dentro do desenvolvimento da psicanálise e que não há porque, ainda hoje, colocar em dúvida sua rica trajetória e todas as contribuições que pode trazer para o entendimento psicanalítico, evoluindo inclusive, com os institucionalistas, para uma complexa leitura institucional, tanto naquilo que entendemos como aplicá-la a um estabelecimento ou organização, tanto no que observaremos de institucional, enquanto inconsciente, formador de cada um de nós.

“Existe uma enorme quantidade de ensaios na atualidade, todos eles apontando para a mesma direção: fazer uma articulação correta epistemológicamente entre teoria da sociedade, do psiquismo, dos sistemas símbolicos, e relações de parentesco ao redor do conceito de instituição. Procura-se fundamentar assim outros tipos de manobras técnicas que sejam as clássicas, individuais, etc. Porém, não há uniformidade entre esses percursores ; uns falarão, por exemplo, da teoria da ideologia como disciplina nova, outros falarão de psico-sócio-análise, como Levy e Mendel,outros falarão da análise institucional como Loureau, outros falarão da Psicologia Social, como as escolas de Frankfurt ou como Freud em 'Psicologia das massas e análise do Ego', e outros, no extremo da originalidade, falarão da esquizoanálise, como Deleuze e Guattari, uma disciplina super complexa, que tem [tres ou quatro anos(1978) – hoje alguns anos mais#] de existência e um nível de erudição surpreendente , com aplicações técnicas ainda desconhecidas, porém de uma potência teórica assombrosa”(Baremblitt)(4) #comentário nosso

Sabemos que tanto quanto é bastante difícil identificar o aparecimento das chamadas dinâmicas de grupo, também se torna bastante difícil delimitar na atualidade as inumeráveis correntes que abordam tal possibilidade, muitas existem com variações incontáveis.

Na introdução do livro “Grupos – Teoria e Técnica”, encontraremos uma tentativa de classificação que mostraria o quadro abaixo com os principais nomes:
“Uma linha inglesa: Bion, Ezriel, Foulkes, Anthony, Ballint.

Várias norte-americanas: Schilder, Taylor, Bach, Gibbs, Cartwright e dezenas de outros.

Uma linha francesa: Anzieu, Kaes, Lebovici, M. Pagés, R. Pagés, Lapassade etc.

Uma linha argentina: Pichon-Rivière, Grinberg, Langer, Rodrigué, Bleger, Ulloa, Usandivaras, Pavlovsky, etc.” (2)

Ainda teríamos que pontuar a anti-psiquiatria e os teóricos críticos dos sistemas institucionais, tais como: Szasz, Goffman e Becker(USA), Illich(México), Foucault, Castel, Deleuze e Guattari, Passeron e Bourdieu(França), Basaglia, Berlinger e Gentis(Itália) (2)

Ainda outras na América Latina e Europa, como por exemplo: "gestaltista(Perls), rogeriana(centrada no cliente), Transacional(Berne), bioenergética(Lowen), terapia do grito primal(Janov), terapias behavioristas radicais( Skinner)”(2). Enfim, dependendo do autor que estuda o panorama encontraremos mais inúmeras classificações. Impossível traçar um mapa preciso que dê conta do atual panorama incluindo todas as abordagens existentes. Mas existem, e estão atuantes por todos os cantos do planeta. Trazem por sua existência inúmeros debates como o da existência de uma psicanálise de ou em grupo, ou ainda, como outros pretendem, a grupoanálise. Atravessam tempos, colocam nova técnicas, se tornando quase impraticável que existam sem tomar emprestado uma das outras algumas de suas variações(Baremblitt).

Poderemos aceitar como talvez um bom orientador a seguinte classificação, levando em conta autores que criaram uma linha de pensamento sobre a questão:

“…três autores cujas obras consideramos estruturantes para a Dinâmica Grupal — quais sejam, Freud com a Psicanálise; Kurt Lewin, com a Teoria de Campo; e Jacob Levy Moreno com o Psicodrama e a Sociometria; chega-se aos principais desdobramentos teóricos e técnicos da Dinâmica Grupal”. (Carneiro – link A)

Tentamos com essas citações apenas situar o complexo panorama existente, para que aqueles que desconhecem a temática possam perceber o quanto na verdade existe já, e o quanto podemos supor de pesquisa e prática em relação ao tema.

Alguns institutos de psicanálise no Brasil já se formaram com essa meta, atendimento em grupo, exclusivamente ou privilegiadamente, tornando essa abordagem já conhecida por psicoterapeutas em formação e por parcela da população.

Poderemos nos perguntar se existe eficácia nesse abordagem, e pensamos ser inegável o quanto ela abre o espectro para a psicanálise que ainda se restringe a um divã individualizado, meio que alheio ao avançar daquilo que socialmente se clama por, que mostra que há um caminhar em sua direção, ou seja, para que se construa uma ampliação da possibilidade de se aplicar a psicanálise a uma maior parcela da população que caminha perdida e alijada de um espaço de escuta e de busca de confirmar-se enquanto desejo e relações de vínculo; assim como, a de utilizar sua capacidade incomensurável de leitura em outros campos que não somente a clínica. Há talvez nessa abordagem, a que se volta a estudar as dinâmicas dos grupos, apenas supondo aqui nesse momento desse texto, uma necessidade de voltar o olhar psicanalítico para as relações objetais e as relações de vínculo, criadas a partir de um social hoje cindido e que isola cada um em sua própria problemática, trazendo a cada dia mais, explicações que o lançam na mais profunda solidão e desvinculação do meio onde está inserido. Produzindo fórmulas mágicas para o grande vazio no qual é lançado o psíquico quando desarticulado da possibilidade de ligar-se , fazer conexões de objeto, investir libido e se ver enquanto um objeto investido por alguém. Pensamos que o sentido de pertencer a um grupo ainda é uma grande necessidade do humano, vemos isso privilegiadamente em nosso país, pelas grandes manifestações populares de pertencimento, como os times de futebol, agremiações, grupos musicais, manifestações folclóricas, partidárias, religiosas etc. Se pode haver nesse pertencer dispositivos regressivos, poderemos supor também que, como constituintes deles, existam certos elementos progressivos que poderão ser sublinhados, resgatados e alimentados por um trazer a tona, tarefa primordial da psicanálise.

“ Os sentimentos de um grupo são sempre muito simples e muito exagerados, de maneira que não conhece a dúvida nem a incerteza.(5)

Podemos pensar no quanto o encontro grupal promove para o indivíduo a sensação de saída de seu desamparo, encontrando nesse pertencer uma identificação que promove uma acolhida para seus sentimentos de solidão e dor. Vemos com o crescimento dos grupos de ajuda-mútua, uma vertente importante dessa questão. Não podemos deixar de supor na grande ferramenta que isso se constituirá aliada a uma possibilidade interpretativa, própria a psicanálise.

Muitos grupos funcionam segundo o padrão técnico da psicanálise individual, fazendo da fala de cada participante e da “fala grupal” a ferramenta de trabalho e o psicanalista intervindo em duas direções:

a)interpretação do membro do grupo, trabalhando com ele seus conteúdos;

b) interpretação do grupo, trazendo para a tarefa de análise o momento do grupo com suas relações de vínculos.

Outros grupos analíticos, importarão de outras correntes possibilidades múltiplas de uso de variadas técnicas, quase sempre nesse caso contando o grupo com um terapeuta e um co-terapeuta, esse segundo atuando muito no papel de observador do movimento grupal.

“A representação mental do grupo, ou de vinculação, é uma estrutura que se arma no sujeito independentemente do grupo atual, mas esta o reatualiza e por sua vez constitui a cada sujeito na experiência”
(Armando Bauleo – citado em 2)

Alguns pesquisadores irão propor que se deva diferenciar noção de grupo de experiência grupal(2)

“Quando se diz que num grupo se produziu tal ou qual situação, aponta-se duas instâncias, o grupo real, constituído por sujeitos reais, por um lado, e a representação grupal, por outro lado. Quando dizemos representação grupal enunciamos o acionamento de um modelo ideal, fantasiado ou imaginário, que tem um funcionamento diferenciável do funcionamento do grupo real”(**Bauleo – 2)

Nessa estrutura de um grupo, entrelaçariam-se muitas representações ou imagens individuais e poderíamos pensar que o principal diferencial do grupo resida justamente nisso, na possibilidade de trabalhar o sujeito através justamente daquilo que (re)vive na relação com o outro e mais ainda, na sua inserção no grupo.

“Assim é que esta representação grupal ou representação de vinculação reconhece sua unidade na pluralidade
”**(2)

Ao pensar a atuação frente ao grupo, seremos necessariamente levado a pensar na formação enquanto terapeuta de grupo, que passará assim como o do psicoterapeuta(psicanalista) individual, por um treinamento que será tecido pela experiência vivencial. Se acreditamos que não se faz um psicanalista sem divã, menos ainda se fará um psicanalista de grupo sem uma vasta vivência de grupos terapeuticos. Sugerimos a quem se interessar pela abordagem, a busca diversificada de experiências em grupos terapeuticos, dentro da linha de leitura escolhida, ou próxima a ela. Assim como, privilegiar sempre a tarefa realizada em grupos, seja para estudos(grupos-operativos), seja para supervisão ou mesmo para sua análise formativa(didática?). Não se pode crer que se faça um psicoterapeuta de grupo sem uma vasta experiência vivencial. E é certo que poderemos encontrar nas mais diversas abordagens sobre grupo, uma oferta de formação que passará necessariamente pelos laboratórios vivenciais, workshops ou jornadas terapeuticas. Além de fundamental para a formação, sem dúvida constroem grandes possibilidades de transformação individual, possuem uma eficácia muito grande em trazer à tona as zonas centrais de conflito sujeito-mundo-vínculos.

Veremos a seguir a questão se iniciando em S. Freud que empreendeu um estudo direto sobre a questão do grupo em seu texto “Psicologia de Grupo e Análise do Ego”(1921), onde cita o formulador de um pensamento sobre movimento de grupo, importante no que diz respeito a teoria construída sobre estes, esse teórico é Le Bon, que não foi citado anteriormente em nosso histórico para ser comentado aqui, uma vez que nesse texto freudiano, super importante sobre essa questão, se inicia com a citação desse teórico. Precisamos abordar Freud nessa temática reconhecendo sua fala sobre o indivíduo e o grupo:

“ É verdade que a psicologia individual relaciona-se com o homem tomado individualmente e explora os caminhos pelos quais ele busca encontrar satisfação para seus impulsos instintuais; contudo, apenas raramente e sob certas condições excepcionais, a psicologia individual se acha em posição de desprezar as relações desse indivíduo com os outros. Algo mais está invariavelmente envolvido na vida mental do indivíduo, como um modelo, um objeto, um auxiliar, um oponente, de maneira que, desde o começo, a psicologia individual, nesse sentido ampliado mas inteiramente justificável das palavras, é, ao mesmo tempo, também psicologia social”. (5)

“Le Bon pensa que os dotes particulares dos indivíduos se apagam num grupo”. Acreditará também que esse indivíduo a partir de sua inserção em um grupo adquirirá características que se respaldariam no pertencer a esse grupo:

“O primeiro é que o indivíduo que faz parte de um grupo adquire, unicamente por considerações numéricas, um sentimento de poder invencível que lhe permite render-se a instintos que, estivesse ele sozinho, teria compulsoriamente mantido sob coerção”.

“A segunda causa, que é o contágio, também intervém para determinar nos grupos a manifestação de suas características especiais e, ao mesmo tempo, a tendência que devem tomar”.

“Uma terceira causa, de longe a mais importante, determina nos indivíduos de um grupo características especiais que são às vezes inteiramente contrárias às apresentadas pelo indivíduo isolado. Aludo àquela sugestionabilidade, da qual, além disso, o contágio acima mencionado não é mais do que um efeito” (5)

Isolamos assim os princípios de “Le Bon” que Freud irá desenvolver em sua análise sobre os fenômenos grupais, dando ênfase aos dois últimos.

A essa altura, queremos deixar evidenciado que a psicanálise, pelo menos a freudiana, origem e base de todas as outras, colocou desde muito cedo uma linha de pensar sobre os fenômenos de grupo e sobre esse sujeito que é antes de tudo social.

“Qual é a psicanálise que isola o sujeito? Na “Psicologia das massas e análise do Ego”, Freud sustentava que toda a psicologia é, por princípio, social. Que desde as origens do psiquismo a subjetividade se arvora num lugar na intersubjetividade. Então, qual psicanálise que isola o sujeito? Porém, ela existe sem dúvida. A Psicanálise empirista, Psicanálise idealista, a Psicanálise fenomenológica, enfim, todas as variedades da Psicanálise desvirtuantes dos princípios básicos da teoria freudiana”(4)

Os textos freudianos conhecidos como seus textos “antropológicos” são fundamentais para que se entenda a importância da cultura no psiquismo, em sua própria construção, e, em se entendendo isso, pensarmos a inserção desse psiquismo, desde sempre, em um grupo que não se restringe apenas as suas relações de parentesco, mas que atinge um simbólico trazido inconscientemente, desde sempre, pelo grupo aonde esse sujeito se constrói passo a passo, etapa a etapa de seu desenvolvimento, esses sistemas simbólicos estudados na atualidade centrados em torno do conceito instituição.

Em torno desse pensar, que trazemos para estudo a questão dos 'grupos e a psicanálise', não apenas, como muitos querem, como apenas uma variação da técnica ou como uma atividade “menor” dentro da linha psicanalítica. Estudar e atuar dentro de grupos, é para nossa leitura, uma atividade privilegiada e que permite, além de resultados psicoterápicos bastante eficazes, um olhar para esse homem de maneira abrangente e que o inclui naquilo que mais constrói sua felicidade ou infelicidade: suas relações de vínculo. Podemos enquanto terapeutas, vê-lo atuando frente aos vínculos, não somente falando sobre isso, ou depositando isso em uma única relação transferencial. Não queremos com isso dizer que é esta uma atividade “melhor” que a clássica psicanálise individual, apenas queremos demonstrar que também não se trata de uma atividade “menor” ou menos psicanalítica, como muitas correntes querem dizer que é.

Como vimos até aqui o grupo mantém as características individuais, ao mesmo tempo que forma algo que é próprio do grupo, Freud propõe seguindo no rastro deixado por Le Bon e McDougall que existam grupos realmente formados com algum objetivo e os grupos efêmeros que teriam já sido descritos por McDougall como multidão, Freud propõe que mesmo nesses efêmeros, poderia se constituir algo em comum que unisse seus membros, obedecendo assim aos critérios para se pensar um grupo psicológico.

Não podemos deixar de citar ao abordar esses aspectos o que Pichon-Rivière colocará quanto “as duas condições sine qua non para a existência de todos os grupos humanos:

*pessoas articuladas por sua mútua representação interna; ª
*a segunda condição é a tarefa que constitui sua finalidade”. (Carneiro – A)
ª próximo ao descrito como grupos efêmeros(ex.:fila de bancos)

Analisando as teses de Le Bon e McDougall, Freud e tentando entender o que faz que um grupo tenha esse mínimo em comum e que a individualidade não se perca dentro dele, nos grupos “inorganizados”, irá lembrar-nos:

“Se assim reconhecemos que o objetivo é aparelhar o grupo com os atributos do indivíduo, lembrar-nos-emos de uma valiosa observação de Trotter, no sentido de que a tendência para a formação de grupos é, biologicamente, uma continuação do caráter multicelular de todos os organismos superiores”
(5)

O que queremos ressaltar, a essa altura, com essa observação do analisado por Freud, é que: “O resultado mais notável e também o mais importante da formação de um grupo é a ‘exaltação ou intensificação de emoção’ produzida em cada membro dele”. (5)

Ou ainda:
“Partimos do fato fundamental de que o indivíduo num grupo está sujeito, através da influência deste, ao que com freqüência constitui profunda alteração em sua atividade mental” (5)

De dentro dessa característica própria aos grupos, a psicoterapia de grupo psicanalítica terá a sua disposição um rico e complexo tecido transferencial com o qual trabalhar e uma escuta privilegiada.

“Finalmente, se expõe a 'Técnica Interpretativa do Grupo' que concebe o mesmo como uma totalidade na qual cada um de seus integrantes está influenciado pelos demais e atua em função deles. Dito isto, se conclui que a situação transferencial no grupo está dada pela interação de todos os seus participantes”(1)

“ihnen zu Liebe”(5)

Nesse tecido veremos a repetição neurótica dos padrões estabelecidos nas primeiras relações de objeto pelos integrantes do grupo, repetindo o mesmo padrão de experiências penosas.

H. Ezriel, entederá a manifestação dentro do grupo relativa a cada um dos seus integrantes pela formulação: “Em que papel pretende ele, inconscientemente, colocar-me neste momento? Ou: Que tipo de relação está tratando de estabelecer inconscientemente conosco?”(citado em 1). O psicanalista entenderá dentro do movimento grupal, e pela história de cada um, o rico tecido de repetições que se apresentam a sua frente, meio que ao estilo da grande obra de Luigi Pirandello “Seis personagens a procura de um autor”.

“Quem tem a sorte de nascer personagem viva pode rir até da morte. Não morre mais! Morrerá o homem, o escritor, instrumento da criação; a criatura não morre jamais!”(Pirandelllo)

Assim como a essa criatura que cita Pirandello, as repetições das relações só cedem quando encontram outro lugar no símbolico de cada um e dentro do estabelecimento de seus vínculos, só nessa perspectiva em análise individual ou de grupo, poderemos pensar em transformação desse sujeito ou ao alcançar de uma proximidade com aquilo que chamará “felicidade”.

Concluindo:

Ao escrever sobre esse tema: grupo, nos deparamos com o tamanho que essa tarefa na verdade possui, sendo totalmente inalcançável a possibilidade de dar conta minimamente dele. Esse texto tem apenas a circunscrita pretensão de defender a existência e eficácia de uma psicanálise desenvolvida em grupos. Temos a absoluta noção do quanto não foi dito, com certeza muito mais, do que pode aqui ser abordado. Pretendemos retomar o tema mais a frente, ampliando-lhe a compreensão.

Resta-nos por enquanto esclarecer, que pensamos que todo esse social do qual falamos ao abordar esse psíquico possui uma variável importante sócio-política, com leituras pela vertente ideológica que se farão sempre necessárias, quer seja para entender esse sujeito, quer seja para entender toda rede de relações que cria e aonde está inserido. Nenhuma leitura é isenta ou totalmente neutra, e a questão do grupo, entendê-lo e criar leitura sobre os vínculos, muito nos esclarece a esse respeito, mesmo quando temos como tarefa a leitura de somente o grupo familiar de nossos pacientes, naquela algazarra, que se produz via a associação livre, bem ali à nossa frente. Entender isso é olhar para o fato de que:

a)“E nossa atenção será atraída em primeiro lugar por uma consideração que promete levar-nos da maneira mais direta a uma prova de que os laços libidinais são o que caracteriza um grupo”(Freud – [5])

b) “A idéia é que somos cúmplices da definição que o outro faz de nós. O sistema de relações humanas é o doente”(Pavlovsky – [3])

Ou ainda, indo bem mais além, como afirma Bleger(3) “toda descoberta, investigação ou teoria científica é um produto das forças sociais em jogo num dado momento”

Não foi por acaso que a própria ciência psicanálise cresceu sempre através de seus grupos, pela própria existência das Associações que se fizeram com esse objetivo. Poderemos pensar até no grupo das quartas-feiras como o lugar privilegiado de construção desse saber, onde todas as variáveis que atravessam um grupo estiveram, desde sempre presentes, com seus membros agrupados ali em torno do grande mestre, sublinhando rivalidades, disputas, cooperação ou dependência.

Pensamos que ao abordar o grupo, construir entendimento sobre sua função, formas de existência e atuação poderá nos levar à compreensão de todos esses atravessamentos, trazendo importantes reflexões no que concerne ao papel da psicanálise. Pensar o grupo e atuar dentro deles, talvez seja, assim entenderemos aqui, um dos movimentos mais importantes de renovação dentro da comunidade psicanalítica. Voltaremos a abordar essa temática.

*Livre tradução nossa

** “Ideologia, Grupo, Família”
– Armando Bauleo

Bibliografia de apoio:

1 – “Psicoterapia del grupo” – Marie Langer, Leon Grinberg e Emílio Rodrigué

2 – “Grupos – Teoria e Técnica” – vários autores – organizado por Gregório Baremblitt

3 – “Questionamos a psicanálise e suas Instituições” – vários autores – organizado por Gregório Baremblitt

4 – “Progressos e Retrocessos em Psiquiatria e Psicanálise” – Gregório Baremblitt

5 – “Psicologia dos grupos e análise do Ego” – S. Freud, Obras Completas, vol

6 – “Temas de Psicologia: Entrevistas e Grupos” – Jose Bleger

7 – “Revista da Associação Brasileira de Psicoterapia Analítica de Grupo” vol 05 – 1996 – vários artigos e autores

Links:

http://www.campogrupal.com/dinamica.html

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