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Metafísica em Jaspers

Para Jaspers, metafísica é a tentativa do pensamento se esforçar em conhecer a origem de sua existência, isto é,  a transcendência. O pensar metafísico é um pensar surpreendente. Visto que este pensamento visa à transcendência e que a esta, sendo o englobante do sujeito e do objeto, não pode ser tomada por objeto, Jaspers se encontra aqui em uma situação análoga à de Kant, que tentava conhecer o númeno do qual nada mais se pode saber senão que é impensável. Impensável por essência, por definição constitutiva, e por função. Para compreender Kant neste caso, seria preciso concordar em segui-lo, seja no correr das frases que parecem contradizer o seu intento essencial, seja através das palavras que ora designam uma coisa, ora outra e, por vezes, até o contrário daquilo que conviria entender. Assim, a expressão coisa-em-si é, no conceito kantiano, uma contradição nos termos: o em-si não pode ser em nenhum caso uma coisa. Mas o que a linguagem, pela violência que lhe é feita, deve fazer compreender é justamente tal impossibilidade.

Jaspers faz o mesmo. Não poderia deixar de fazê-lo. Vemos apenas nele dois aspectos diferentes. O primeiro é que esta dificuldade insuperável se torna um dos termos da sua reflexão metafísica, ao passo que Kant se debateu sempre com ela sem nunca, ou quase nunca, a tematizar. O segundo é que o método de exposição de Jaspers é menos estaticamente lógico que o de Kant. É itinerante, avança. Conduz o leitor por vias múltiplas até ao ponto em que não só constata a impossibilidade lógica, como também faz a experiência do limite e do malogro. Jaspers recorre constantemente à via negativa, uma via que exige empenho constante que é necessário realmente seguir, e cujas operações intelectuais é forçoso levar progressivamente a termo. Se a existência for efetivamente posta em jogo nestas operações, então a experiência do limite lhe revelará algo da transcendência. Este é o pensar metafísico.

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