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Retrato de um Nazista

Em 08/09/2007, abria eu o Fórum “Análises em geral”, com o tópico “Sobre Jung”, e na mensagem inaugural, perguntava: “Teria sido Jung um nazista convicto?” Em seguida, foram enviadas três mensagens. Agora eu não pergunto mais. Eu afirmo.

Caindo a Máscara (Persona)

Em 1933, com o Nazismo já no poder, Hitler nomeou o Dr. M.H. Goering, parente de Hermann Goering, que dividia o comando do III Reich com Hitler, para que fosse organizada uma Nova Sociedade Alemã de Psicoterapia.

Imediatamente, Ernst Krestchmer, que era então o Presidente desta Sociedade, pediu espontaneamente sua demissão irrevogável do cargo.

Para nossa surpresa quem assume a Presidência deste Órgão Alemão, é o suíço Carl Gustav Jung, que além de Presidente acumulou o cargo de Diretor da importante Revista Zentralblatt für Psychotherapie, órgão oficial de publicações desta Sociedade.

O Dr. M.H. Goering, reorganizador da Sociedade e da Revista deixou registrado seu pronunciamento no primeiro número da nova Revista:

"Esta Sociedade tem a tarefa de unir todos os médicos alemães dentro do espírito do Governo Nacional-Socialista, particularmente os médicos que estejam dispostos a praticar a psiquiatria de acordo com a Weltanschauung (visão-de-mundo) dos nacionais-socialistas."

Neste mesmo número introdutório, Jung redige, como Presidente do Órgão, uma curta declaração com frases politicamente ambíguas:

"As bem conhecidas diferenças factuais entre Psicologia germânica e judaica não devem ser mais obscurecidas, o que só pode beneficiar a Ciência."

No segundo número da nova revista Jung escreve um confuso artigo chamado "A Atual Situação da Psicoterapia", onde ele ataca severamente os pontos de vista de S. Freud a respeito da significação das raízes infantis da neurose. Atacou também a "teoria judaica" de A. Adler sobre a Vontade de Poder como força motivadora básica.

Comparando a ênfase que ele próprio, Jung, dava aos aspectos criativos da mente inconsciente com as opiniões hedonísticas – Princípio do Prazer – de Freud, acusou-o de só ver o lado sombrio da natureza humana.

Justificou a popularidade da terapia de Freud pelo fato do psicanalista subestimar a personalidade do paciente… "atingir o paciente em seu ponto vulnerável e dessa maneira obter facilmente a superioridade… Existem realmente pessoas decentes que não são impostoras e que não usam ideais e valores para o embelezamento de sua personalidade inferior. Tratar tais pessoas redutivamente e atribuir a elas motivos inconfessáveis e suspeitar que por trás de sua pureza natural existe sujeira antinatural é não só pecaminosamente estúpido, mas também criminoso".

Está claro, que Jung, tendo conhecido muito bem o trabalho de Freud, só pode escrever essa demagogia que falseia as opiniões de Freud, para enaltecer os pontos de vista nazistas sobre a suposta baixeza da mentalidade judaica.

Pasmem, é Jung quem escreve:

"Os judeus têm esta semelhança comum com as mulheres: sendo fisicamente mais fracos, precisam visar as brechas nas defesas do adversário e, devido a essa técnica que lhes foi imposta através dos séculos, os judeus têm as melhores defesas onde outros são mais vulneráveis."

"Devido à sua antiga cultura são capazes de maneira perfeitamente consciente, mesmo no ambiente mais amistoso e tolerante, de entregar-se a seus próprios vícios, enquanto nós somos jovens demais para não termos "ilusões" ao nosso próprio respeito."

"O judeu, o nômade cultural, nunca criou e provavelmente nunca criará suas próprias formas culturais porque todos os seus instintos e dotes dependem de uma nação hospedeira (insinuando ao judeu como um parasita – obs. nossa), mais ou menos civilizada. O inconsciente ariano tem um potencial mais elevado que o judaico; isto é a vantagem e a desvantagem de uma juvenilidade que está mais próxima do barbarismo."

Para Jung a psique ariana é, ao mesmo tempo, mais bárbara e mais criativa:

"A mente inconsciente do ariano contém tensões e elementos criativos a serem realizados no futuro. É perigoso e não permissível desvalorizar essas forças criativas como romantismo da infância. Em minha opinião, foi um erro da Psicologia Médica até agora existente aplicar inadvertidamente as categorias judaicas – que não são válidas sequer para todos os judeus – aos alemães e eslavos cristãos. O mais valioso segredo da personalidade alemã, sua alma intuitiva criativa, foi declarado como um charco banal e infantil. Ao mesmo tempo, minha voz de advertência foi suspeita de anti-semitismo."

"Esta suspeita originou-se em Freud. Ele conhecia tão pouco a alma alemã quanto seus idólatras alemães. Não terão eles aprendido alguma coisa com o poderoso aparecimento do Nacional-Socialismo para o qual o mundo inteiro olha cheio de espanto: Onde estava a tensão e ímpeto sem precedentes quando o Nacional-Socialismo ainda não existia? Estava escondido na alma alemã em seu fundo, que pode ser tudo menos uma cesta de lixo para desejos infantis não satisfeitos e ressentimentos familiares não resolvidos. Um movimento que toma conta de toda uma nação deve ter-se tornado predominante em cada pessoa".

Está claro que Jung viu no movimento Nacional-Socialista uma oportunidade de vingar-se de Freud e liquidar a Psicanálise freudiana na Alemanha, declarando-a inaceitável à personalidade germânica. Jung fala da Psicanálise como um "movimento materialista sem alma", produto de uma raça não criadora, que não é capaz de perceber as profundezas do gênio intuitivo criativo alemão.

Ora, como já disse, Jung não era sequer cidadão alemão e não tinha desculpas para querer tornar-se líder de uma nova espécie de psiquiatria alemã e redator-chefe de uma Revista que, aberta e oficialmente, apoiava a filosofia do Nacional-Socialismo.

O que teria levado Jung a declarar, que a Psicologia de Freud era inadequada para não-judeus, psicologia essa para a qual ele próprio contribuíra e que louvava e defendera em anos anteriores?

O que o teria levado a desempenhar papel preeminente em um novo movimento psicológico racialmente orientado?

Se não foi preconceito racial nem convicção nazista, o que foi então?

Fonte:

Alexander, F. & Selesnick, S.- The History of Psychiatry. Chicago: Harper & Row, Publ., 1966.

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