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Gênero e atuação profissional

A geração atual ainda está amarrada ao pensamento tradicional de que ao homem cabe a atividade, a iniciativa e o domínio da vida social pública, e à mulher a passividade e a reclusão ao lar. Isso gera um modelo fortemente disseminado pelo social, a mulher prisioneira do lar, correspondente, o homem prisioneiro da profissão, como se ambos pertencesse a espaços diferentes e somente cada qual em “seu lugar” adquirissem significados.
Na segunda metade do século XX a mulher aparece questionando a ordem simbólica masculina da qual havia ficado fora por motivos econômicos e culturais. A crescente participação do sexo feminino na força de trabalho surge como conseqüência das dificuldades econômicas enfrentadas pelas famílias, sendo considerada uma das transformações mais significativas no interior da vida doméstica e da sociedade moderna brasileira. Assim para enfrentar a diminuição da renda e para ter acesso aos novos bens de consumo, muitas famílias são obrigadas a ampliar o número de seus integrantes no mercado de trabalho, incluindo as esposas.

Ao homem sempre competiu à imagem de provedor da família, por isso hesitam à prática da realização de tarefas domésticas, como se ameaçasse a sua virilidade, embora possam desempenhá-las com tranqüilidade, como por exemplo, nos restaurantes e lanchonetes. Está acontecendo a desconstrução da figura do homem que detém o poder e está afastado do exercício da paternidade, concomitantemente ocorre a desconstrução da figura da mulher, mãe em primeiro lugar, com a função de exercer profissões que suplementam o lar.

Hoje em dia o movimento da mulher de classe média acontece na direção de carreiras mais sofisticadas e de maior prestígio social, principalmente as ligadas à tecnologia. As mulheres que estão trabalhando possuem nível mais elevado de escolaridade, ampliando o contingente de mulheres chefes de família e aumentando a permanência das trabalhadoras no mercado de trabalho na faixa-etária de 25 a 44 anos, casadas ou não, com filhos ou não, porém a participação das casadas aumenta mais do que a das solteiras. A despeito da legislação sobre igualdade de salários, as diferenças ainda existem e persistem, pois em nenhum país latino-americano os rendimentos de homens e mulheres com o mesmo nível de instrução são equivalentes. A taxa de desemprego feminino é superior à masculina, mas entre 1960 e 1990 o número de mulheres economicamente ativas mais que triplicou, enquanto o número de homens nessa condição não chegou a duplicar.

O trabalho estável, bem pago e qualificado, se concentra nas “empresas cabeças” e nas fornecedoras de primeira linha, porém a mão de obra feminina encontra-se concentrado no trabalho que tende a ser mais mal-remunerado, menos qualificado e instável. Além da questão salarial, há o exercício da dupla jornada de trabalho, que esgota as energias da mulher no desempenho de diferentes papéis sociais, na vida profissional e nas responsabilidades da casa, criando-se assim um alto nível de exigência física e psicológica, o que leva muitas vezes à falta de entusiasmo, baixa auto-estima e, não raro, ao abandono do emprego, sendo que esse problema se reproduz nas diferentes classes sociais.

A mulher deixou de ser escrava do marido e passou a ser subordinada aos chefes masculinos, passando a ser então escrava do capital e do Estado, em um movimento que a aproxima do sofrimento do homem que vende seu trabalho em um sistema produtivo marcado pela competitividade e violência. Os papéis ocupacionais mutuamente com os papéis sociais, com certeza influenciam as escolhas profissionais das pessoas, sobretudo dos jovens.

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