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O corpo ao longo da história

Para Laqueur (1990) & Nicholson (2000) apud Strey et al, 2004, desde a Grécia até o século XVIII, persistiu a visão unissexuada do corpo, ou seja, o modelo de sexo único: homens e mulheres eram considerados da mesma natureza biológica. O corpo feminino é visto como inferior ao corpo masculino, sendo que a diferença residia no grau de calor do corpo, quanto mais quente, mais perfeito. Por ser possuidor de maior calor vital, os órgãos sexuais masculinos eram mais desenvolvidos que os femininos. Na Idade Média, toda e qualquer preocupação com o corpo era proibida. A influência da Igreja era grande, extinguindo até os Jogos Olímpicos. Evidencia-se a separação do corpo e da alma, prevalecendo à força da segunda sobre o primeiro. Nos séculos da caça às bruxas, que vai de XIV até meados de XVIII, as mulheres foram duramente reprimidas e morreram aos milhares, qualquer uma poderia ser julgada como bruxa e punida por isso.No Período Renascentista, a concepção de corpo, difere das anteriores, pois começa haver preocupação com a liberdade do ser humano, o corpo tem como a analogia à máquina e passa a servir à razão (STREY et al, 2004).
Em tempos remotos nas sociedades antigas havia a preocupação da mulher (esposa) em agradar o homem (marido), já que este era o principal atrativo social que elas possuíam, uma vez que não lhes era permitido trabalharem fora de casa, outra obrigação dada a elas era o papel da procriação era preciso, portanto ser bela e fértil para ser mulher. Surge, então, o sexo frágil e improdutivo, mas um ser de suprema beleza (BARROS, 2001, p.52 apud BARROS, et al 2005). No século XX, o ser humano fica cada vez mais atrelado à técnica e à tecnologia, depositando sua felicidade na busca do progresso, sendo assim, os corpos precisam trabalhar para concretizar essa verdade. Com a busca da produção, homens e mulheres, tentam adaptar-se como indivíduos ao grupo social, precisando, inúmeras vezes, desistir de sua liberdade de ação e de expressividade (STREY et al, 2004). A partir do cinema americano, segundo Del Priori (2000) apud Strey et al (2004), é que novas imagens femininas começam a se multiplicar, aparecendo rostos jovens, maliciosos e sensuais na tela, somados a outros fatores que foram cruciais para a construção de um novo modelo de beleza (STREY et al, 2004). Padrões corporais impostos pelos meios de comunicação, compondo uma imagem de si mesmas de acordo com a moda da época e as exigências sociais vigentes, onde nem sempre temos consciência de sua existência ou mesmo de sua complexidade estão presentes em nossas ações, sentimentos, emoções e relações sociais. Imaginamos quem somos, projetamos uma idealização de quem gostaríamos de ser. E quando percebemos que, às vezes, estas imaginações não conferem com a realidade, ficamos frustrados e voltamos a buscar novas (ou velhas) imagens que possam revelar nossos corpos num eterno recomeço (BARROS, et al 2005).

Os recursos mais utilizados para construir o simulacro são, a vestimenta, os adereços e a maquiagem. Esses recursos não são obras da pós-modernidade, mas nela foram aperfeiçoados e adquiriram o caráter de simulação na associação com outras técnicas, como a da cirurgia plástica, da lipoaspiração, dos tratamentos de beleza, da musculação. A aparência criada nesse processo volta-se para o imaginário, construindo uma cadeia de sentidos que se adequara ao perfil atual (Rosário, 2004 apud STREY et al, 2004). Pode-se citar Michael Jacson, como um simulacro de si mesmo, mas também a resignificação do signo original e a confirmação do sentido estético ocidental: pele clara, linhas do rosto afiladas, cabelos lisos, olhos amendoados. Tantas cirurgias plásticas fizeram que o original ficasse perdido, distanciando-se cada vez mais do significado primeiro, surgindo sempre um signo novo, capaz de metamorfosear-se antes de se estabilizar (STREY et al, 2004).

Uma imagem corporal é constantemente renovada a cada percepção diferente que temos de nós mesmos e dos outros a nossa volta. Nosso corpo modifica-se, outras sensações confluem em uma reorganização corporal capaz de gerar uma nova imagem corporal, dependendo dos estímulos que o mundo nos oferece (BARROS et al, 2005). Aliada fundamental na construção dos corpos, a mídia adquire um imenso poder de influência sobre os indivíduos, generaliza a paixão pela moda, expande o consumo de produtos de beleza e torna a aparência uma dimensão essencial da identidade para um maior número de mulheres e homens (STREY et al, 2004). O culto exagerado ao corpo padronizado como belo gera a exibição de imagens físicas adjacentes à beleza, que é a fonte de desejos cotidiana. O desconforto com a própria imagem corporal mostra-se em pequenos detalhes, dentre eles na elegância em andar, na forma de falar, no modo de se vestir e de comer. Ser baixa ou alta, magra ou gorda, feia ou bonita reflete a necessidade de não se deixar à deriva, mas incluir-se na movimentação desenfreada da beleza a qualquer custo (BARROS et al, 2005).

O corpo virou "o mais belo objeto de consumo", e a publicidade, que antes só chamava a atenção para um produto exaltando suas vantagens, hoje em dia serve, principalmente, para produzir o consumo como estilo de vida, procriando um produto próprio: o consumidor, perpetuamente intranqüilo e insatisfeito com a sua aparência (STREY et al, 2004). Sua funcionalidade em sociedade é meramente exibicionista no âmbito das variações de beleza e aparência estética, embora haja outras tantas funções que um corpo pode realizar (BARROS, et al 2005).

Como vimos à cultura centrada na valorização da imagem do corpo, encontra no discurso publicitário, a universalização de sua imagem, naturalizando um determinado modelo de corpo, e um conjunto de práticas necessárias a sua manutenção. Assim homens e mulheres burlam os códigos tradicionais, padrões, normas estabelecidas para o corpo, buscando incessantemente a sua reversibilidade (STREY et al, 2004).

O corpo torna-se palco de investidas profanas em tentar apropriar-se de modelos impostos pela luxúria e pelo consumismo exacerbado. A busca pela modificação corpórea é permitida como uma prática saudável em que temos o direito de nos sentirmos belos e desejados, mesmo que para isto, seja necessária uma completa modificação da imagem corporal real para uma imagem corporal ideal (BARROS et al, 2005). Com todas as conquistas alcançadas pelas mulheres, com a grande revolução dos costumes, o novo milênio ainda deixa transparecer muitos desequilíbrios na tão almejada igualdade de poderes entre homens e mulheres. Um deles diz respeito à imagem do corpo da mulher, que ainda é permeada por discriminações, pois atrás da aparência de independência da mulher, esconde-se sua submissão, dependência e inferioridade, visto que ao corpo da mulher é embutida a obrigação de estar sempre belo e jovem (STREY et al, 2004).
 

Referência

BARROS, et al. Imagem corporal da mulher: a busca de um corpo ideal. Revista Digital EFDeportes. Buenos Aires. Ano 10. Nº.87 Setembro 2005.
Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd87/mulher.htm Acesso em:20 mar. 2007 

STREY, Marlene Neves; et al. Corpos em metamorfose: um breve olhar sobre os corpos na história, e novas configurações de corpos na atualidade. Revista Digital EFDeportes- Buenos Aires – Año 10 – N° 79 – Dez. 2004
Disponível em:  http://www.efdeportes.com/efd79/corpos.htm acesso em: 20 mar. 2007

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