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Preconceito aos meninos na prática de esportes considerados femininos

Os pais são indivíduos que se ocupam de compreender as práticas esportivas de uma maneira que tudo ocorra dentro de um certo quadro de referências de limites estabelecidos por eles como sujeitos de conhecimento. Através das representações sociais interpretamos o real, na maioria das vezes o que é compartilhado coletivamente é mais bem aceito do que aquilo comprovado cientificamente ou estatisticamente. Essas crenças influenciam as aspirações do indivíduo e o envolvimento com metas estabelecidas, o nível de motivação, a perseverança face às dificuldades, a resiliência às adversidades, relacionando-se com a qualidade de pensamento analítico, a atribuição causal para sucesso e fracasso e a vulnerabilidade para o estresse e depressão (BANDURA & PASTORELLI, 1996 apud MEDEIROS, 2000); um exemplo disso foi quando surgiu a AIDS, diante da perplexidade e dificuldade em entendê-la, uma das formas encontrada pelo senso comum para dar conta de sua ameaça, foi nomeá-la como uma “peste”, mais especificamente “a peste gay” ou o “câncer gay”, assim representado, embora classificada de forma equivocada e preconceituosa, a nova doença parece menos ameaçadora, pois já havia sido categorizada pelo senso comum como uma peste e só aconteceria aos “gays” (WERBA et al, 2002). Segundo Strey (2002) sexo não é gênero, ser fêmea não significa ser uma mulher e ser macho não significa ser um homem, enquanto as diferenças sexuais são físicas, as diferenças de gênero são socialmente construídas, o gênero depende de como a sociedade vê a relação que transforma um macho em um homem e uma fêmea em uma mulher, ou seja, cada cultura possui uma percepção diferente de macho e fêmea e são esses conceitos construídos socialmente que podem gerar preconceitos.
A escolha sexual de um ser humano já foi considerada uma questão exclusivamente de herança genética, nas décadas de 60 e 70, mas atualmente acredita-se que o ambiente no qual o indivíduo está inserido, as influências dos pais, da escola, também podem interferir nesta escolha (CARVALHO NETO, 2003). Jaques et al (2002) coloca que a identidade se configura, ao mesmo tempo, como determinante, pois o indivíduo tem um papel ativo quer na construção deste contexto a partir de sua inserção, quer na sua apropriação. O Jornal Sertãozinho (2006) traz o depoimento de um menino participante de aulas da modalidade: “Faço Ginástica Artística e adoro” afirmando a presença do preconceito com origem na movimentação coreográfica da ginástica de solo, que se assemelha à dança.

Menezes (2004) assegura que o número de alunos do sexo masculino nas principais escolas públicas de dança de balé do país não alcança a metade da quantidade de alunas, devido ao preconceito. Os próprios praticantes se defendem ao declararem que praticam a modalidade. Mas esquecem do vigor físico que todas as provas exigem, tornando um esporte tão masculino quanto feminino, ou seja, a identidade é apreendida através das representações de si em resposta à pergunta ‘quem é’, e esses garotos necessitam “justificar” para si mesmo que não exercem uma “prática homossexual” e por isso não o são, pois caso contrário eles poderiam introjetar essa idéia e entrar em conflito se é ou não homossexual pelo esporte que pratica.

De acordo com a teoria dos papéis sociais, explanada por Berger (1998), a sociedade é que determina o que fazemos, como também o que somos. A sociedade interfere moldando o comportamento dos indivíduos em comportamentos desejáveis. Todo papel social é aquilo que se espera que seja em determinado lugar, pois cada situação apresenta expectativa específica e exige resposta a essas expectativas. O indivíduo se localiza na sociedade, dentro de sistemas de controle social e cada um desses sistemas contém um dispositivo de geração de identidade. O pré-julgamento afeta não só o destino externo da vítima nas mãos dos opressores, como no caso do menino praticante de Ginástica Artística, que recebe o rótulo de gay, mas também na própria consciência, na medida em que ela é moldada pelas expectativas da sociedade e leva esse menino a se perguntar: Será que sou gay só por praticar Ginástica Artística? O autor complementa que a dignidade humana é uma questão de permissão social.
 

Referências

BERGER, Peter L. Perspectiva sociológicas: uma visão humanística. Petrópolis: Rumo, 1998. 202p.
 
CARVALHO NETO, Marcus B.O projeto genoma humano e os perigos do determinismo reducionista biológico na explicação do comportamento: uma análise behaviorista radical. Revista brasileira terapia comportamental cognitiva. vol.5 no.1 São Paulo. Junho 2003 Disponível em: http://scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452003000100006&lng=en&nrm=is  Acesso em: 07 nov. 2006
 
JAQUES, et al. Pesquisa. In: JACQUES, Maria da Graca Correa; STREY, Marlene Neves; BERNARDES, Maria Grazzelli et al. Psicologia social contemporanea. 6. ed. Petropolis: Vozes, 2002. 262p. 

MEDEIROS, Paula Cristina. Auto-Eficácia e Dificuldade de Aprendizagem. Psicologia Reflexão Crítica. Porto Alegre. v.13 n.3. 2000 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722000000300002&lng=pt&nrm=iso Acesso em: 10 nov. 2006
 
MENEZES, Cynara. Meninos que trocam chuteiras por sapatilhas. O Estado de São Paulo. São Paulo. 11 abr. 2004. Disponível em: http://www.gtpos.org.br/index.asp?Fuseaction=Informacoes&Parentid=286#genm23 Acesso em 20 fev. 2007
 
SERTÃOZINHO. Faço Ginástica Olímpica e adoro. Sertãozinho. São Paulo. 2006
Disponível em:  http://www.sertaozinho.sp.gov.br/jogos/Jornal%20Esportes/atleta_do_Futuro.htm Acesso em: 05 nov. 2006
 
STREY, et al. Gênero. In: JACQUES, Maria da Graca Correa; STREY, Marlene Neves; BERNARDES, Maria Grazzelli et al. Psicologia social contemporanea. 6. ed. Petropolis: Vozes, 2002. 262p. 

WERBA, et al. Representações sociais. In: JACQUES, Maria da Graca Correa; STREY, Marlene Neves; BERNARDES, Maria Grazzelli et al. Psicologia social contemporanea. 6. ed. Petropolis: Vozes, 2002. 262p.

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