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Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica

Enfocaremos a psicoterapia breve de orientação psicanalítica, como uma prática psicoterápica legítima, válida e, muitas vezes, como uma indicação absolutamente precisa para determinado tipo de paciente.

Objetivamos com a apresentação deste trabalho, poder dar uma idéia da Psicoterapia Breve e, principalmente dar a ela o lugar que lhe cabe enquanto uma prática psicoterápica absolutamente lícita, fundamentada e que, em alguns casos, se faz necessária frente à demanda que se nos apresenta por determinados pacientes, onde uma questão de "tempo" deverá ser entendida como algo real e não como uma "defesa" em relação à psicanálise, por exemplo. Entendemos também que a psicoterapia de objetivos e tempo limitados acaba por satisfazer uma necessidade assistencial, mesmo que em certos casos não seja a indicação mais adequada.
Procuraremos citar alguns "critérios de seleção", para aqueles pacientes que poderão receber um tratamento focal em que deverá predominar o insight:

a-) Deverão apresentar transtornos de início recente e agudo, ainda que numa enfermidade relativamente crônica. Esse transtorno deverá dizer respeito à realidade atual do indivíduo, como por exemplo: acidente de trabalho, término de um casamento, perda de um emprego, etc., suscitando um quadro psicopatológico agudo, como uma neurose traumática, uma depressão reativa, crise histérica, etc. Também poderá dizer respeito a algo que não se enquadre na conotação de patológico, como a entrada na universidade, casamento, mudança profissional, etc., mas que pode gerar um quadro ansiogênico.

Freud ressaltou em termos do tratamento analítico: "(…) o trabalho de análise progride melhor se as experiências patológicas pertencerem ao passado, de modo que seu ego possa situar-se a uma certa distância delas. Nos estados de crise aguda, a psicanálise não pode ser utilizada de nenhum modo. Todo o interêsse do ego está absorvido pela penosa realidade e se retira da análise, cujo propósito é o de penetrar por debaixo da superfície e descobrir as influências do passado".

b-) Patologia de caráter leve: afirma a esse respeito Main: "os problemas principais devem situar-se predominantemente no nível genital e deve haver uma ausência relativa de expectativas primitivas, de necessidades de dependência e de privações precoces sérias".

c-) Força e plasticidade do ego, com funções em bom estado.

d-) Alto grau de motivação para o tratamento.

e-)
Capacidade de insight.

f-)
Determinação e boa delimitação focal desde o início.

A indicação de uma psicoterapia breve não deverá estar relacionada ao diagnóstico etiológico (neurose obsessiva, histérica, etc.). Nesse sentido, observamos que Szpilka e Knobel advertem: "Entendemos que não se está prescrevendo a terapia de escolha para cada caso, como se faz em medicina (…). A psicoterapia breve pode ser aplicada não como uma substituta da psicanálise, mas sim como uma indicação precisa, surgida do diagnóstico, não de um quadro nosológico, mas de uma personalidade enferma num determinado quadro socio-econômico e cultural".

Sabemos da existência daqueles paicientes que chegam a manifestar um certo interesse em aliviar alguns de seus sintomas ou mesmo uma situação conflitiva em que se encontram, através de um processo psicoterápico, muito embora não estejam dispostos a passar por uma psicoterapia intensiva e prolongada, a qual implicaria numa necessária revisão de sua vida e de sua personalidade, a qual poderia ser conduzida por uma psicanálise. Nesse sentido então, muitas vezes, a psicoterapia breve se constitui na única possibilidade psicoterápica pela qual determinados pacientes tem ao longo de suas vidas.

Existem, sabemos também, aquelas situações onde a psicoterapia breve seria "um primeiro passo" para um posterior tratamento psicanalítico. Também estaria indicada para aqueles pacientes que já passaram por um processo analítico e, que pelo aparecimento ou reaparecimento de uma situaçao conflitiva, a mesma seria possível, como uma alternativa à retomada de uma terapêutica psicanalítica. Dessa forma, um tratamento focal pode ser suficiente e, às vezes, com o seu próprio analista.

Uma outra indicação bastante comum é aquela para pessoas de idade avançada, uma vez que a terapia focal permite tratar setorialmente através de uma técnica interpretativa, respeitando a estrutura caracterológica do paciente e evitando a mobilização de quantidades afetivas desnecessárias, além do que muitas vezes arriscada.

A menor eficácia da Psicoterapia Breve: em casos crônicos de psicose, doenças psicossomáticas, psicopatias, perversões, toxicomanias, estados fronteiriços e caracteropatias graves. Situações marcadas por um acentuado acting-out, ou pouca tolerância à frustração e a angústia.

Em situações de luto patológico: mesmo naqueles casos onde esses lutos são os motivadores da consulta, sendo positivo o fato de que é algo de começo recente e agudo. Ocorre que nos encontramos ante um ego debilitado, com pouca capacidade para suportar a dor e a frustração. Assim sendo, se pensarmos na separação do terapeuta ao final do tempo pré-estabelecido, entendemos que esse novo luto pode reativar o anterior. Essa é uma situação que deve ser muito bem considerada antes do início de uma terapia breve com um paciente com essa problemática citada. Aqui falaremos em uma reativação iatrogênica da perda. Um exemplo dessa problemática, seria o de prescrever esse tipo de psicoterapia, àquelas pacientes com antecedentes de aborto recente. Nesses casos, a duração do processo psicoterápico deverá ficar em aberto como uma conduta técnica mais adequada para esse tipo de caso.

Referências Bibliográficas

a-) "Sexual Discord in Marriage" === Tavistock,Londres,1968.

b-) Szpilka,J.L. E Knobem,M. === "Acerca de la psicoterapia breve".

c-) Soifer,R. === "Psicologia del embarazo, parot y pueperio", 1971
Editorial Kargieman, Buenos Aires.

d-) Freud,S. "Analise Terminável e Interminável" === Obras Completas.

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