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Dicionário

ontogênese psíquica

O desenvolvimento da mente e, em particular, o modo como o organismo relaciona suas necessidades inatas com as exi­gências do meio ambiente. Na psicanálise, a ontogênese psíquica inclui:
(I) o desenvolvi­mento das relações com o objeto;
(II) as vicissi­tudes das pulsões em relação à realidade; e
(III) o desenvolvimento de mecanismos para que os processos precedentes sejam plenamente rea­lizados.

(I) O desenvolvimento das relações objetais é geralmente descrito de acordo com o seguinte esquema:

a. estágio auto-erótico (ou somatogênico), do nascimento até cerca dos três anos de idade.

b. estágio narcisista, dos três aos seis anos.

c. estágio homoerótico, dos seis anos até a puberdade.

d. estágio heteroerótico, durante a adoles­cência.

e. estágio aloerótico, o estágio da maturida­de.

(II) As vicissitudes das pulsões são tipicamente descritas em termos de fases libidinais, como se segue:

1. sexualidade pré-superego, do nascimento até cerca de seis anos de idade, incluindo:

a. fase oral, do nascimento até os dois anos.

b. fase anal, dos dois anos até cerca dos quatro.

c. fase fálica, dos quatro anos até cerca dos seis.

2. latência, dos seis anos até a puberdade.

3. genitalidade.

(III) Os mecanismos desenvolvidos para que as fases acima se realizem são aqueles envolvi­dos no desenvolvimento do ego e superego, assim como das defesas do ego.

Alguns críticos acreditam que a psicologia psicanalítica clássica coloca uma ênfase excessi­va na infância como sendo o princípio e o fim do desenvolvimento da personalidade; eles têm descrito então a ontogênese psíquica em termos diversos. Erikson, por exemplo, disse que lado a lado dos estágios psicossexuais descritos por Freud existiam estágios psicossociais do desen­volvimento do ego, e que a personalidade con­tinua em desenvolvimento através de todo o ciclo da vida, e que cada estágio tem um compo­nente negativo e um positivo. Os oito estágios do homem, segundo este autor, são:

1. Confiança vs. Desconfiança Estende-se por todo o primeiro ano de vida (corresponde, gros­so modo, à fase oral de Freud). Durante este estágio, o grau de aprendizado que a pessoa pode ter em relação a confiar no mundo, nas outras pessoas e em si mesma depende da quali­dade do cuidado que ela recebe; se este cuidado é inadequado, ou inconsistente, desenvolve-se uma desconfiança básica, uma atitude de medo e suspeita em relação ao mundo.

2. Autonomia vs. Dúvida
Estende-se pelo se­gundo e terceiro anos de vida (fase anal, de Freud). Aqui, o cuidado adequado consiste em permitir que se deixe a criança fazer o que é capaz, ou seja, em seu próprio ritmo, controle seus músculos, impulsos, a si mesma, e, em última análise, seu ambiente. Cuidados super­protetores, incoerentes ou supercríticos enchem a criança de dúvidas sobre sua capacidade de controlar o mundo e a si mesma.

3. Iniciativa vs. Culpa
Estende-se pelo quarto e quinto anos de vida (fase genital, segundo Freud). Cuidados adequados proporcionam li­berdade e oportunidades para a criança iniciar jogos onde a motricidade é importante, fanta­sias e questionamentos intelectuais dirigidos aqueles em volta dela de tal forma que ela já não seja um imitador dos outros. Mas caso o jogo ou a atitude inquisitiva da criança sejam inibidos ou desvalorizados, ela vai desenvolver culpa com relação a suas atividades de iniciativa própria.

4. Indústria vs. Inferioridade
Estende-se dos 6 aos 11 anos (período de latência, de Freud). Durante este período, a criança aprende o racio­cínio dedutivo e a obedecer às "regras do jogo". Esta é a idade de Robinson Crusoé, e a criança se preocupa em saber como as coisas são feitas, como elas funcionam e o que elas fazem. Cui­dados adequados incluem o encorajamento da criança em seus esforços para fazer e realizar coisas práticas, recompensando-a pelos resul­tados, e assim desenvolvendo seu sentido de industriosidade. Nesta fase, o mundo da crian­ça inclui pessoas além de seus pais, e por isto estes adultos fora da família imediata desem­penham também um papel importante, tanto positivo como negativo, podendo instilar um sentimento de inferioridade na criança.

5. Identidade vs. Confusão de Papéis
É a ado­lescência. Estende-se dos 12 até os 18 anos. Durante este período, a pessoa pode tentar sa­ber o que os outros pensam a respeito dela, e pode comparar sua própria família e sociedade como aquilo que ela conceitua como sendo uma família ou sociedade ideais; e começa a desen­volver um sentido de quem ela é, onde esteve e para onde vai. Mas tanto a família como o meio social podem interferir no desenvolvimen­to da identidade do ego; quando mudanças sociais e tecnológicas quebram valores tradi­cionais, o adolescente pode desenvolver uma confusão de papéis, pois ele não vê continuida­de entre aquilo que aprendeu quando criança e aquilo que está experimentando como ado­lescente. Para citar apenas um exemplo, uma identidade de delinqüente pode ser preferível a não ter nenhuma identidade.

6. Intimidade vs. Isolamento
Estende-se da adolescência até o início da "meia-idade"; gros­so modo, é o período dos namoros e o início da vida familiar. Durante esta fase, a pessoa deve aprender a compartilhar e cuidar de outra, sem o medo de perder a si mesmo no processo. Caso isto não ocorra, ela desenvolve um senti­mento de isolamento, um sentimento de estar sozinha, sem ninguém para compartilhar com ou cuidar de.

7. Generatividade vs. Auto-absorção
Meia-ida­de. Neste estágio, a pessoa torna-se preocupada com os outros, além de sua família, e com a natureza da sociedade e do mundo no qual as futuras gerações vão viver. Do lado negativo, a pessoa sem um "senso de gerar" torna-se auto-absorvida em necessidades e confortos pessoais.

8. Integridade vs. Desespero
Velhice. A pessoa que, nesta idade, pode olhar para trás em sua vida com satisfação, que pode fazer uma pausa para refletir sobre o passado e ter tempo para gozar seus netos, manifesta um senso de inte­gridade. No outro lado da escala, está a pessoa cuja vida passada é uma série de oportunidades perdidas e erros que não podem ser desfeitos; enche-se de desespero quando pensa o que po­deria ter sido.

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