Manipulação experimental de determinadas estruturas
Nas espécies macrosmáticas, como o camundongo ou o rato, os bulbos olfativos desempenham um papel muito importante, não só por serem necessários ao tratamento dos sinais olfativos cuja percepção é essencial para o desenrolar normal das interações sociais, mas também em razão da influência "tônica" que exercem sobre a reatividade do organismo.
Essa probabilidade é alta quando o rato bulbectomizado é mantido em isolamento em seguida à intervenção; é muito mais fraca quando os ratos operados são agrupados e, desse modo, ficam expostos às interações com seus congêneres (de início, essas interações têm um caráter particularmente agressivo, antes que os animais se acalmem progressivamente). As interações intra-específicas pós-operatórias, portanto, têm um efeito preventivo sobre o aparecimento do comportamento de agressão interespecífica em relação ao camundongo (em seguida a um reforço negativo que afete, de maneira geral, a utilização dos componentes agressivos do repertório comportamental).
Constatou-se que a ablação dos bulbos olfativos acarretava uma eliminação nitidamente aumentada de catecolaminas urinárias, contrastando com as taxas baixas eliminadas pelos ratos espontaneamente "assassinos". Além disso, a bulbectomia provoca um aumento do peso das glândulas suprarrenais, ao mesmo tempo, que um aumento da atividade tirosina-hidroxilásica implicada na biossíntese das catecolaminas. No gato, observou-se uma triplicação dessa atividade enzimática nas suprarrenais sob o efeito de estimulações hipotalâmicas repetidas, desencadeando comportamentos de ataque, ao passo que estimulações simplesmente despertadoras não provocaram uma modificação similar.
No que concerne aos mecanismos que controlam o desencadeamento do comportamento de agressão interespecífico do rato, os neuroquímicos evidenciaram a existência de interações complexas entre os bulbos olfativos, as fibras serotoninérgicas ascendentes provenientes dos núcleos da rafe e a amígdala. Toda potencialização das transmissões GABAérgicas no seio dos bulbos olfativos (pela administração de GABA ou de um agonista desse neurotransmissor, ou pela inibição da enzima que o degrada, a GABA-transaminase), tem como efeito bloquear o comportamento de agressão do rato "assassino". Um bloqueio similar é observado em seguida à administração de 5-hidroxitriptofano (precursor da serotonina) ou de um inibidor das MAO (monoamina-oxidases), que aumenta as taxas da serotonina disponível.
Ora, ao que parece, a elevação da taxa de GABA nos bulbos olfativos (provocada pela administração de dipropilacetato, análogo do GABA e inibidor competitivo da GABA-transaminase) é acompanhada por um turnover (rotatividade) aumentado da serotonina no hipotálamo lateral e na amígdala. Além disso, os dois processos neuroquímicos que conduzem, tanto um como o outro, a um bloqueio da agressão interespecífica (a saber, a potencialização das transmissões GABAérgicas e a maior disponibilidade de serotonina) têm outro efeito comum: o de deprimir nitidamente a atividade colino-acetiltransferásica (necessária para a biossíntese da acetilcolina) na amígdala; e esse bloqueio da agressão interespecífica por potencialização das transmissões GABAérgicas pode ser transitoriamente suspenso pela administração de fisostigmina (inibidor da colinesterase, ou seja, da enzima de degradação da acetilcolina).
Inversamente, constata-se que a atividade colino-acetiltransferásica é aumentada na amígdala todas as vezes que se facilita o desencadeamento do comportamento de agressão interespecífica por ablação dos bulbos olfativos ou por destruição dos núcleos da rafe (onde se localizam os corpos celulares das fibras serotoninérgicas ascendentes), ou ainda pela administração de paraclorofenilalanina (inibidor da biossíntese da serotonina).
Esses poucos dados experimentais mostram claramente que a complexidade das interações de ordem neuroquímica se assemelha à que foi previamente sublinhada no tocante às interações entre o tratamento das informações de natureza olfativa enquanto tais, o nível de reatividade do organismo e os traços deixados por sua vivência individual.
Em todas as espécies que foram estudadas a esse respeito (inclusive a espécie humana), a destruição do septo provoca o aparecimento – em geral, transitório – de todos os sinais de uma hiper-reatividade acentuada.
No rato, essa hiperreatividade é acompanhada por uma clara facilitação do desencadeamento tanto da agressão intra-específica – seja ela espontânea ou induzida por choques elétricos dolorosos – quanto da agressão interespecífica em relação ao camundongo. Há ampla razão para se crer que esse aumento da probabilidade de desencadeamento de um comportamento de agressão se deva a uma sensibilidade e a uma reatividade exacerbadas face aos estímulos e situações que tenham caráter aversivo.
De fato, a probabilidade da agressão decresce à medida que se atenua a hiperreatividade provocada pela lesão septal. Quando essa lesão é praticada em idade precoce (aos 7 dias, por exemplo), induz uma hiperatividade duradoura, e constata-se então que subsiste, vários meses após a intervenção, uma probabilidade elevada de que a intrusão de um camundongo desencadeie uma reação de agressão por parte do rato. Por outro lado, os choques elétricos dolorosos são passíveis de desencadear uma agressão interespecífica no rato portador de lesão septal, ao passo que não têm esse mesmo efeito no rato intacto. No que concerne às interações intra-específicas no rato, as observações demonstram perfeitamente que a destruição do septo induz uma atitude defensiva mais acentuada (hyperdefensiveness) diante dos sinais de ameaça emanados dos congêneres, mais do que uma "agressividade" aumentada.
Cabe também sublinhar que o comportamento de um animal portador de lesão septal depende, em grande medida, da significação que ele atribui à situação, com referência a sua vivência individual. A destruição do septo de modo algum provocou o aparecimento do comportamento de agressão interespecífico no rato que pudera familiarizar-se com a presença de um camundongo em sua gaiola.
No tocante às interações intra-específicas, demonstrou-se que as repercussões da lesão septal eram muito diferentes, conforme a experiência pré-operatória do rato fosse a de um animal dominante ou, ao contrário, a de um animal dominado. Além disso, já se havia observado que a intervenção acarretava um aumento da freqüência tanto das reações de fuga quanto das reações de agressão, sendo a direção das respostas comportamentais basicamente determinadas pela experiência social pré-operatória.
É evidente que a maneira como o septo interfere nos processos de moderação da reatividade emocional, em um dado momento da ontogênese, depende das características funcionais que lhe são próprias nesse momento. Essas características, sem dúvida, são determinadas pelo genoma; mas dependem também da experiência vivida, ou seja, das próprias interações sociais. Assim, as situações sociais conflituosas repercutem na atividade tirosina-hidroxilásica ao nível do septo, e essa repercussão é mais ou menos acentuada conforme o animal já tenha – ou ainda não tenha – aprendido a fazer face à situação. Em outras palavras, o septo é parte integrante de um sistema que, tal como o cérebro em seu conjunto, é simultaneamente dinâmico e aberto.
As estruturas periventriculares do diencéfalo e do mesencéfalo – o hipotálamo ventromedial e a massa cinzenta central – desempenham um papel importante no tratamento das informações de natureza nociceptiva ou aversiva e na elaboração da resposta comportamental (ataque, fuga ou atitude congelada) que suscitam. A lesão do hipotálamo ventromedial aumenta a sensibilidade diante dos estímulos dolorosos, ao mesmo tempo, que acentua, de maneira mais geral, a reatividade diante de numerosos estímulos sensoriais.
Ora, desde as primeiras experiências realizadas com gatos, inúmeros trabalhos demonstraram que, nessa espécie, a probabilidade de desencadeamento de um comportamento de agressão era nitidamente aumentada em seguida a uma lesão hipotalâmica medial. Igualmente no rato, foi amplamente demonstrado que tal lesão facilitava nitidamente o desencadeamento de uma agressão auto-específica nos machos – fosse ela espontânea ou induzida por choques elétricos dolorosos -, assim como o de uma agressão interespecífica diante do camundongo. Quanto a este último comportamento, o efeito facilitador da lesão hipotalâmica ventromedial é particularmente acentuado nos ratos que sofreram previamente uma ablação dos bulbos olfativos.
Quando se raciocina em termos de "centro" ou de "substrato nervoso" do comportamento de agressão, é paradoxal constatar que uma estimulação elétrica do hipotálamo médio – região cuja destruição facilita o desencadeamento da agressão – é igualmente passível de desencadear um comportamento de agressão tanto no gato, quanto no rato. Na realidade, tal estimulação induz efeitos aversivos que incitam o animal a aprender um comportamento – por exemplo, pressionar uma alavanca – que lhe permita pôr fim a eles. E é interessante constatar que, se a estimulação hipotalâmica mediana é bastante passível de desencadear uma agressão de natureza "afetiva" e defensiva, essa mesma estimulação tem por efeito inibir uma agressão espontânea, desde que esteja subjacente a esta última uma motivação de natureza apetitiva, no gato e no rato. E isso porque, desse modo, cria-se experimentalmente um verdadeiro "conflito de motivações", que se traduz em uma inibição comportamental.
As fibras serotoninérgicas ascendentes que saem dos núcleos da rafe projetam-se em um conjunto de estruturas (amígdala, sistema septo-hipocâmpico e passagem do hipotálamo lateral e medial), que desempenham um papel essencial na associação de certo significado aos dados objetivos da informação sensorial, e na gênese da reação emocional que dela resulta.
De modo muito geral, a entrada dessas fibras em ação tem como efeito atenuar a sensibilidade do organismo diante das estimulações provenientes do meio ambiente, e em especial diante daquelas que são passíveis de dar origem a uma experiência afetiva de natureza aversiva. Inversamente, a destruição dos núcleos da rafe – ou, de maneira mais geral, a depleção da serotonina cerebral – provoca uma hiper-reatividade acentuada. Experiências mostraram que a destruição dos núcleos da rafe acentua – enquanto a estimulação elétrica desses núcleos atenua – os efeitos aversivos induzidos pela entrada em jogo do sistema da aversão e do reforço negativo (constituído, em essência, pelo hipotálamo medial e pela massa cinzenta central do mesencéfalo).
Portanto, não surpreende que a destruição dos núcleos da rafe provoque um aumento nítido da probabilidade de desencadeamento de um comportamento de agressão, desde que a este último esteja subjacente uma motivação de natureza aversiva, quer se trate da agressão intra-específica induzida por choques elétricos dolorosos, ou do desencadeamento inicial de uma agressão interespecífica rato-camundongo.
Como no caso da hiper-reatividade provocada pela destruição do septo, a familiarização prévia com a espécie camundongo, no que concerne ao desencadeamento da agressão interespecífica, tem um efeito preventivo acentuado. Dado que a ablação prévia dos bulbos olfativos acentua a hiper-reatividade provocada pela lesão da rafe, ao mesmo tempo, que perturba o reconhecimento do camundongo, compreende-se facilmente que a associação das duas lesões tenha como resultado fazer surgir o comportamento de agressão interespecífica em uma porcentagem elevada dos ratos assim operados.
De modo muito geral, as lesões bilaterais da amígdala – tal como as do hipocampo – acarretam uma diminuição da reatividade emocional, que se traduz em certa indiferença diante do ambiente, em reações nitidamente atenuadas com respeito às diferentes estimulações sociais. Assim, as lesões da amígdala diminuem claramente a probabilidade de desencadeamento de uma agressão intra-específica tanto nos roedores como no homem, e abolem – ao menos transitoriamente – as reações de agressão interespecífica no rato e no gato. Essas mesmas lesões atenuam igualmente as reações de medo, fuga ou defesa.
O papel desempenhado pela amígdala e pelo hipocampo na gênese das reações emocionais é, simultaneamente, muito específico e fundamental, porquanto essas estruturas estão profundamente implicadas nos processos graças aos quais, uma significação é associada à informação sensorial, por referência aos traços deixados pela experiência passada, da mesma forma que nos processos graças aos quais essa significação pode ser modulada sob o efeito das conseqüências que decorrem do comportamento. Dado que os fatores experienciais interferem amplamente na determinação da probabilidade de desencadeamento de um comportamento de agressão, convém tratar separadamente o papel desempenhado pela amígdala todas as vezes que, face a uma situação potencialmente agressivogênica, faz-se referência à experiência passada, à vivência individual.