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Respostas sociais e evelhecimento bem sucedido

O envelhecimento das populações é cada vez mais um fenómeno a nível mundial, sobretudo nos países mais desenvolvidos. A OMS (Organização Mundial de Saúde, 2001) fez uma projecção que aponta para um 1,2 biliões de pessoas entre os 60 e os 80 anos, sendo que a maior parte destas pessoas (75%) vive nos países considerados desenvolvidos. Tendo em conta as grandes transformações demográficas em alguns países do mundo, sobretudo nos países europeus, no que diz respeito ao envelhecimento da população o debate e a troca de impressões sobre os aspectos sociais deste fenómeno têm vindo a estar cada vez mais na ordem do dia.

Portugal viu nas últimas décadas uma mudança muito significativa em relação à evolução demográfica, sendo que actualmente os problemas com os quais se depara e se questiona são em tudo semelhante aos restantes países da união europeia. A população continua a aumentar a sua esperança média de vida a par de uma baixa taxa de natalidade, como resultado a população vai envelhecendo cada vez. Neste sentido as projecções respeitantes ao escalão etário de 14 e menos anos e 65 e mais anos efectuada entre 1990 e 2020 mostram claramente um acréscimo em valor absoluto e em importância relativa dos mais idosos.

O envelhecimento visto de um ponto de vista meramente demográfico pode ser encarado por uma melhoria significativa nas condições de vida com a ajuda do avanço das ciências, sobretudo das ciências médicas que em muito contribuíram para o aumento da esperança média de vida. Contudo, esse aumento significativo da esperança média de vida é, cada vez mais alvo de uma análise, integrando variáveis que estão no cerne de uma boa qualidade de vida do idoso. De acordo com os problemas sociais que o envelhecimento nos coloca torna-se cada vez mais pertinente dar respostas adequadas neste domínio, quer do ponto de vista quantitativo, quer do ponto de vista qualitativo. Assim o debate nas últimas décadas recai em torno das questões ligadas ao denominado envelhecimento bem sucedido, que tenta encontrar formas de compatibilizar o envelhecimento com a qualidade de vida das pessoas idosas nas diversas dimensões do seu Self.

Cada vez mais, torna-se fundamental manter a pessoa idosa no seu meio social tendo em vista o seu bem-estar físico, psíquico e emocional. Desta forma, questiona-se cada vez mais a institucionalização da pessoa idosa como resposta social prevalente, verificando-se uma tendência para a actuação conjunta dos vários organismos institucionais, quer a nível nacional como a nível local no sentido de criar respostas alternativas à institucionalização do idoso. Criaram-se nos últimos anos respostas tais como: os serviços de apoio domiciliário, centros de dia e de convívio, e até mesmo os serviços de acolhimento domiciliário. A nível nacional, as respostas sociais institucionais existentes podem caracterizar-se segundo dois tipos: o acolhimento permanente que engloba os equipamentos de colocação institucional de idosos, tais como: os lares, as residências e famílias de acolhimento; o acolhimento temporário, de carácter não institucional, reúne os serviços de apoio e acompanhamento local dos idosos, tais como: os serviços de apoio domiciliário.

Cada vez mais, as instituições tentam oferecer serviços que promovam um envelhecimento bem sucedido, que potenciem a conservação do empenhamento social e do bem-estar subjectivo, conceitos estes difundidos pelos especialistas nesta matéria (Baltes e Baltes, 1995; Garfein e Herzog, 1995; Hazard, 1995; Fontaine e col., 1977).

Nos últimos anos têm vindo a realizar-se vários estudos no sentido de se saber quais os factores que mais contribuem para o melhoramento da qualidade e diversidade das respostas sociais que permitam uma maior satisfação das necessidades da pessoa idosa, quer esteja ou não institucionalizada. Um dos estudos mais ambiciosos neste domínio foi conduzido por Cameron (1975) que refere que os sentimentos de felicidade, de tristeza, e de bem-estar subjectivo não se degradam com a idade e que os idosos não têm uma satisfação de viver inferior à dos jovens. A variabilidade entre os indivíduos parece, pelo contrário, aumentar com o envelhecimento, neste sentido fala-se cada vez mais de velhices e não de velhice, não existindo assim a velhice, mas antes dando enfase à existência da heterogeneidade com que cada idoso vive o seu próprio processo de envelhecimento, sendo este, altamente influenciado pelo suporte social de que dispõe, permitindo ao mesmo tempo a manutenção da sua participação social, tanto quanto possível.

Desde as investigações de Durkheim (1987), que o isolamento e a ausência das relações com os outros são factores de predição dos comportamentos suicidas, que foram também ao encontro dos estudos feitos com idosos (Antonucci e col.,1989; Avorn e col., 1982).

Neste sentido, os equipamentos sociais têm de basear todas as suas resposta fazendo com que as pessoas percebam o seu potencial, promovendo o seu bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da sua vida, o que inclui uma participação activa dos seniores nos mais variados domínios da sociedade, intervindo nas questões económicas, espirituais, culturais, cívicas e até mesmo ao nível da participação das políticas sociais.

Donald (1997) formulou algumas classes gerais que podem servir de referência às respostas sociais, tais como:

-O bem-estar físico, em que se destacam os aspectos materiais, saúde, higiene e segurança
As relações interpessoais, que pode incluir a família, amigos e participação na comunidade
O desenvolvimento pessoal, que representa as oportunidades de desenvolvimento intelectual, e auto-expressão

-As actividades recreativas que podem subdividir-se em três partes: Socialização, entretenimento, passivo ou activo

-As actividades de carácter espiritual, em que estão envolvidas, a actividade simbólica, religiosa e o autoconhecimento

Muitos estudos vem referir que a qualidade de vida, ou falta desta nos idosos, depende em grande medida do facto dos idosos possuírem autonomia para executar as actividades do dia-a-dia, manter uma relação familiar ou com pessoas significativas para si, ter recursos económicos suficientes e desenvolver/participar em actividades lúdicas e recreativas continuamente.

Segundo Jacob (2002), as respostas sociais tendem a evoluir, sendo que os estudos apontam para:
-O aumento da procura deste tipo de serviços, havendo um elevado nível de procura expressa não satisfeita (lista de espera) nas valências para idosos (Amaro, 1997; Santos, 2001, p.85)

-Que os actuais centros de convívio poderão evoluir para as chamadas universidades de terceira idade, tornando-se assim mais dinâmicos, e com uma maior adesão por parte dos idosos, sendo mais activos;

-Para que os Centros de Dia funcionem todos os dias da semana (fins de semana e férias) e em horário mais alargado;

-Que os serviços de apoio domiciliário tenderão a aumentar, assim como os serviços tenderão a funcionar todos os dias, mesmo no horário nocturno;

-Que os lares tenderão a diminuir, tornando-se cada vez mais especializados em grandes dependentes e idosos com demências;

-Que irão surgir mais residências, versões mais reduzidas (até 25 utentes) e melhorados os lares;

-Que o trabalho com idosos irá ser cada vez mais especializado e exigente;

-Para que exista um aumento bastante significativo de actividades de animação para sénior;

Tendo em conta os estudos realizados nesta área que vieram contribuir para encarar de forma diferente o processo do envelhecimento, bem como, as problemáticas que se colocam, a necessidade de uma formação específica e contínua dos recursos humanos destas instituições e equipamentos sociais, quer ao nível das chefias, quer ao nível dos seus colaboradores, torna-se fundamental. Essa formação deve ser específica e contínua, uma vez que, numa sociedade em constante mudança vão surgindo novas realidades e novas problemáticas que este tipo de serviços deverá dar resposta. Assim, é necessário que as instituições e equipamentos sociais tenham um espírito de abertura suficiente face ao exterior, no sentido de estarem em pleno contacto com o meio, sendo capazes das necessárias adaptações, quer ao nível das políticas sociais, quer ao nível das respostas que efectivamente prestam. Assim, e só assim, este tipo de serviços e equipamentos sociais poderão colocar o utente, o cliente no centro de toda a sua actuação, sendo este o princípio primordial de toda e qualquer resposta social, de acordo com as novas orientações.

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