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Dicionário

Dédalo e Ícaro

A esposa de Minos, o grande rei de Creta, foi a mãe de um estranho monstro, metade touro, metade homem, chamado Minotauro. Desejando ocultar sua desgraça da família, Minos contratou um afamado engenheiro grego, Dédalo, para cons­truir um cercado tão cheio de passagens sinuosas, que o monstro poderia ficar seguramente encerrado sem jamais encontrar a saída. Assim, Dédalo edificou o famoso labirinto, de tão imen­sas dimensões, de feitio tão complicado, e com tantas trilhas enganadoras que, terminada a obra, ele próprio teve enorme dificuldade em encontrar o caminho que levava à entrada prin­cipal. O Minotauro foi ali enclausurado, e outra estória conta que todos os anos, como parte de um tributo devido a Minos, rapazes e moças de Atenas eram enviados para serem devorados pelo monstro. Por fim, Teseu, príncipe de Atenas, com o auxílio da filha de Minos, Ariadne, matou o Minotauro e en­controu o caminho da saída. Entretanto, isso só aconteceu vinte anos mais tarde.

Quando Dédalo terminou a construção do labirinto, quis regressar ao seu lar na Grécia, porém era tão útil como inventor que Minos negou-se a deixá-Io partir. Assim, Dédalo e o filho Ícaro viram-se forçados a permanecer em Creta contra sua vontade.

Finalmente Dédalo detestando o longo exílio e ansiando cada vez mais por rever sua terra natal, da qual separava-o uma grande extensão de oceano, disse consigo: "Embora Minos tenha bloqueado todos os meus meios de escapar por terra e por mar, não resta dúvida que existe uma passagem pelo espaço. É por aí que devo ir. Reconheço sua supremacia em tudo o mais, mas ele não governa o espaço."

Pôs, então, o cérebro a trabalhar em problemas que jamais haviam sido imaginados, obtendo sucesso na alteração da ordem natural das coisas. Apanhou penas e colocou-as em fileiras, começando com as menores e passando às maiores, como se tivessem crescido no formato de uma asa. Era o mesmo método das flautas de Pã rústicas, feitas com juncos de diferentes comprimentos, interligados. Amarrou as penas no centro com cordão, e uniu-as na base com cera. Então, quando estavam unidas e firmes, dobrou-as de leve, de modo que tomaram a aparência exata das asas de pássaros verdadeiros.

Enquanto trabalhava, seu filho Ícaro observava-o. Às vezes rindo-se, saía ele ao encalço de uma pena carregada pelo vento, outras vezes pressionava com os polegares as bolas de cera amarela. Não imaginava que aquilo que tocava ainda viria a constituir grande perigo para ele, e com suas brinca­deiras interrompia a todo instante a tarefa maravilhosa que o pai executava.

Depois de dar os toques finais à sua invenção, Dédalo vestiu as asas, bateu-as para cima e para baixo e equilibrou-se no espaço. Em seguida deu minuciosas instruções ao filho sobre como voar.

– Lembra-te deste conselho, Ícaro – disse -, voa a altura moderada. Se fores baixo demais, a água do mar fará as penas ficarem pesadas; se fores muito alto, o calor do Sol derreterá a cera. Portanto, não deverás voar demasiado alto nem demasiado baixo. O melhor é me seguires.

Enquanto aconselhava, adaptava o novo aparelho às costas do filho, e, ao fazê-Io, lágrimas escorriam-lhe pelas faces e as mãos tremiam. Deu-lhe um beijo, que estava destinado a ser o último e, depois, erguendo-se no espaço, voou à frente, preocupado com o filho, como um pássaro que pela primeira vez mostra o caminho às avezinhas que saíram do ninho elevado para o espaço incerto. Gritou palavras de estímulo ao rapaz e ensinou-lhe a usar as asas fatais, olhando constantemente para trás, enquanto adejava as suas, a fim de verificar como ele se saía.

Lá embaixo, pessoas que pescavam com suas compridas varas, pastores apoiados nos cajados, ou lavradores curvados sobre os arados olhavam para cima aturdidos, chegando à con­clusão de que se tratava-se de deuses, já que caminhavam no ar.

Passaram por várias ilhas, como Delos e Paros. A ilha sagrada de Samos estava à esquerda, e à direita ficava Calymne, famosa por seu mel. A essa altura o rapaz começou a entusias­mar-se com a arrojada experiência de voar. Atraído pela am­plitude do espaço, esqueceu-se de seguir o pai e passou a elevar­-se cada vez mais. Ao chegar próximo do Sol, os raios causti­cantes começaram a derreter a cera que unia as penas. Subita­mente, Ícaro descobriu que estava batendo os braços vazios, os quais, sem as asas, não podiam sustentá-lo no ar. Despencou lá do alto, e o mar azul, que ainda é denominado Mar Icário, cerrou-se sobre seus lábios, enquanto ele gritava pelo pai. O desventurado Dédalo, que nem pai mais era, também gritava:

– Ícaro! Onde estás? Para onde foste?

Enquanto gritava o nome do rapaz, divisou as asas flu­tuando sobre a água. Amaldiçoou sua invenção, encontrou o corpo do filho e sepultou-o. A região ainda conserva o nome do rapaz como uma homenagem.

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