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Considerações sobre a psicanálise de adolescentes

Uma fase intermediária na vida de um ser humano, que nos merece toda a atenção,uma vez que possui particularidades inerentes a essa fase da vida, carregada de angústias e inquietações sonre o porvir.
Queremos salientar primeiramente, que nesse trabalho estaremos tratando de adolescentes menores de dezesseis anos, ou seja, aqueles que estão dando início ao processo adolescente.

Um erro conceitual que costuma trazer muitos problemas, é o de tomarmos no tratamento de adolescentes, o referencial do tratamento de adultos.

Como chega o adolescente à psicoterapia:

Normalmente o que vamos encontrar, são aqueles adolescentes que nos são trazidos pela iniciativa dos pais, pelo conselho de um médico ou mesmo psicólogo, psiquiatra, etc. Outras vezes, vem por iniciativa própria, mas se recusam a dar continuidade ao tratamento. Em outras tantas, embora se recusem inicialmente, acabam aceitando o início de um tratamento, depois de estarem conosco por ocasião das entrevistas(empatia?, acolhimento?). Seja como for, pensamos que o tratamento não deve ser iniciado, sem que tenhamos a anuência do adolescente em questão.

Existem algumas linhas teórico-técnicas que propõem que devemos "sustentar a demanda do paciente", até que por ele mesmo, tenha uma aceitação. Quero deixar claro que , em minha posição pessoal, não acredito nesse tipo de aproximação clínica como algo producente.

Perfil Geral do Adolescente:

Trata-se de alguém que abandonou as brincadeiras há pouco, embora as sinta como muito próximas ainda. É comum nos depararmos com silêncios longos durante as sessões, ou com uma tentativa de se portar como se fosse um indivíduo adulto. Demanda do terapeuta, respostas imediatas  às suas questões(ansiedade?). Quando o terapeuta se utiliza do "como se", o adolescente acaba por fazer uma leitura que culmina na insegurança do terapeuta(projeção?).

Não lida com a ambigüidade. Muito poucas vezes, encontra-se disposto a encontrar o significado latente de seus conteúdos. Apresenta uma narração descritiva, concreta, sempre nos descrevendo uma realidade que para ele "É" a realidade. O entrar em contato com os seus sentimentos, é algo que resulta muito difícil e, quando o faz, sente-se como uma criança.

A utilização do divã: numa psicanálise de adolescentes, raramente encontramos aqueles que aceitam a utilização do divã, preferindo a poltrona, ou ainda sentam no próprio divã(persecutoriedade?).

O corpo do adolescente: a par das modificações anatomo-fisiológicas, encontram-se submetidos à modificações de ordem pulsional, sobre as quais não tem o menor controle, e que ocasionam fortes sentimentos de frustração, impotência , castração, etc. Caso apresentemos interpretações prematuras dessas reações, "fora do timing", o adolescente pode senti-las de duas formas possíveis:

= como uma acusação do terapeuta, o qual estaria representando os adultos, os pais, o colégio, etc., em relação a não estar se portando como um adulto.

= sentem que , ao interpretar concretamente, estaríamos tocando, ou mesmo violando o seu corpo, uma vez que não entendem a analogia da mensagem corporal, no aqui e agora da relação transferencial, apresentando ainda uma ansiedade persecutória.

Uma Observação sobre o silêncio:
o adolescente silencioso, nos coloca frente a problemas de ordem técnica, contudo deve ficar claro que o silêncio não significa necessária-
mente uma forma de resistência e nem que o tratamento está fadado ao fracasso. Nesses casos, nossa atitude técnica, é a de respeitar o silêncio, muito embora devamos evitar que os mesmo sejam muito prolongados, o que pode ser gerador de angústia e solidão em relação aos próprios sentimentos e pensamentos. Muitas vezes descuidamos da observação sobre a freqüência do adolescente na psicoterapia, o que fala a favor do estabelecimento de uma relação transferencial positiva.

Naqueles casos onde nos defrontamos com um silêncio total, provávelmente estaremos diante de estruturas muito regressivas, predominantemente esquizóides, melancólicas ou epileptóides, as quais mantem-se sob rígidos mecanismos obsessivos e fóbicos, permitindo ao adolescente um equilíbrio muito instável e, cuja ruptura é muito temida por eles.


Autores:

= Maurício Knobel:  propõe a necessidade de se utilizar uma modalidade interpretativa, a qual denomina "interpretação lúdica-adolescente". Podemos afiançar que Knobel, baseia-se nas idéias de Emílio Rodrigué, o qual teria como enfoque a "interpretação lúdica na infância".

Eduardo kalina: " A neurose de Transferência na Psicanálise de Adolescentes":


"Apesar desta produzir-se desde o início do tratamento, sua instrumentação técnica deve ser diferente, na psicoterapia de adolescentes".


Um exemplo pessoal:
por ocasião da produção deste trabalho, me veio à mente um adolescen-te em especial, atendido por mim há alguns anos atrás.

Ratificando o descrito acima, ele vinha às sessões com regularidade quase que total. Sentava-se em frente a mim e , invariávelmente, relatava o que tinha ocorrido naquela semana. Seu discurso durava no máximo, de dez a quinze minutos, depois do qual ficava me olhando como que pedindo intensamente que eu me pronunciasse à respeito. Realmente, a experiência do "como se", resultava em uma nítida incompreensão por parte dele. Quando parava de falar, me dizia: "agora é a sua vez" !

Apontei para a sua urgência para que eu me pronunciasse e, a partir daí, deixou de falar que era a minha vez, apenas fazendo um gesto com a mão, me passando a palavra. Gostava muito de fazer escaladas e, quando me contava, parecia ficar aguardando ansioso por uma aprovação de minha parte. (escalada para o mundo dos adultos?).

Finalizando, àqueles que se proponham trabalhar com adolescentes, deve ficar claro que uma psicoterapia de adultos, não deve servir como referência. Os adolescentes possuem particularidades, singularidades que demandam dos profissionais, toda uma qualificação teórico-técnica. Devem ter trabalhado em sua análise pessoal, a sua própria adolescência, uma vez que sem isso, fica práticamente impossível, podermos estabelecer uma empatia imprescindível para a compreensão da adolescência e de sua psicodinâmica.

Bibliografia:

= " Adolescência " — Arminda Aberastury.

= "Psicoterapia de Adolescentes Psicóticos"
     Arnaldo Rascowski.

= "Adolescência pelos Caminhos da Violência"
     David Léo Leviski (organizador).
     Editora Casa do Psicólogo.

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