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Sobre a Análise de Pessoas: vamos pensar na importância de ultrapassar a topografia chegar à Raiz dos comportamentos?

É comum encontrarmos na literatura da Análise do Comportamento articulações que defendam o termo “Radical” do Behaviorrismo. Embora tais críticas apontem uma errônea impressão de radicalismo metodológico, teórico e / ou científico, a literatura aponta que o “radical”, no termo “behaviorismo radical” refere-se de um modo geral, à posição anti-mentalista de B.F. Skinner, negando a existência de fenômenos não físicos, como a mente, ou seja, negando que a influência e/ou status causal dos mesmos sobre o comportamento dos organismos, o que não significa que ele não tenha estudado os fenômenos ditos e entendidos como mentais e cognitivos.

À estes fenômenos, Skinner defendeu que fossem entendidos e estudados como comportamentos encobertos e portanto, seriam submetidos as mesmas leis teóricas do comportamento (contingências de reforçamento, controle de estímulos, comportamento verbal e afins). Na minha opinião, esforços neste olhar sobre as relações entre o homem, o mundo e as consequências geradas por esta relação levaram Skinner à confecção de duas de suas obras mais importantes: Verbal Behavior (1957) e Ciência e Comportamento Humano (2000).

Seja aberto ou encoberto, Skinner sempre defendeu conceitos teóricos que pudessem de alguma forma chegar à raiz dos comportamentos, ou seja, conceitos que avançassem à topografia dos comportamentos (tristeza, alegria, depressão, criatividade, e assim por diante) e chegassem à fatores como probabilidade, intensidade, magnitude, freqüência, determinações ontogenéticas, filogenéticas e culturais e assim sucessivamente. Diferente de avaliar os mesmos comportamentos sobre determinantes mentais onde a subjetividade da interpretação dita como "psíquica" ganha status diferencial do comportamento propriamente dito.

Qual seria então, a importância de chegar a raiz dos comportamentos? Para me justificar, vou contar uma Fábula e tentar ilustrar ao leitor onde quero chegar:

I – Início da Fábula: O Jornal anuncia que um navio bate em farol, farol desmorona sobre uma pequena cidade incendiando-a. A cidade coloca a culpa no Navio, o capitão do navio alega que o farol estava apagado e que a culpa era do faroleiro. Faroleiro alega que um caminhoneiro bêbado bateu no farol anteriormente dando uma queda provisória de energia.

II – Como psicólogo e / ou estudante de psicologia, tente fazer 2 análises acerca desta contingência antes de prosseguir com a leitura, levante um olhar crítico sobre este pequeno recorte: A) Mentalista e B) Comportamental (O Objetivo não é desmerecê-las, afinal de contas, possuem propósitos diferentes de interpretação e portanto, leques opostos de intervenções sob o comportamento humano);

Uma Análise mentalista provavelmente levantaria em sua análise possibilidades de projeção de conteúdos psíquicos, manifestações conscientes e inconscientes, como se estabeleceu a dinâmica desta relação, o que há por trás do "dito e falado", se pudesse entrevistar os personagens, recorreria à associação livre de pensamentos pois nesta visão de homem e mundo, conteúdos latentes são de grande importância, etc.

Já uma análise comportamental recorreria à construção do repertório comportamental, ao controle de estímulos dos comportamentos operantes, reflexos e verbais, à análise de contingências do ambiente (Tempo, condições climáticas, etc), à privação de sono ou outros estímulos primários, etc.

III – Final da Fábula: O que aconteceu na verdade foi que um cachorro brincando na praça correu atrás das pombas. Estas por sua vez, defecaram no vidro do caminhão. O motorista do veículo ligou o para brisa embaçando sua visão ( O caminhão estava sem o esguicho de água que serve para limpar os vidros dianteiro). O caminhão bateu no farol dando um curto circuito temporário que suspendeu a visão do capitão do navio, levando ao acidente do farol e portanto, ao incêndio da cidade. Estava armada a confusão quando um jornalista sensacionalista utilizou esta contingência apenas pela sua topografia para levar ao público uma opinião formada.

Conclusão: Seja mentalista, comportamental ou afins, a importância de se chegar a raiz de um comportamento nos processos de análise de pessoas nos mais diversos campos da psicologia (clinica, organizações, jurídica, marketing, social, trânsito, educacional, etc) pode ser singelamente listada em:

* Ultrapassar as barreiras topográficas de um comportamento;

* Buscar aspectos subjetivos, específicos e peculiares do comportamento de cada pessoa (Ex.: O comportamento "choro" aparentemente pode ser igual, mas as suas determinantes certamente se diferem de pessoa para pessoa, de contingência para contingência);

* Possibilitar intervenções coerentes com a causa de um comportamento dito ou entendido como problemático;

* Possibilitar uma adequada contextualização de fenômenos que envolvem o homem em sua relação com o ambiente;

* Evitar o reducionismo de fenômenos e portanto, que "analises injustas" sejam feitas acerca de uma determinada situação e / ou pessoas;
* Ampliar a gama de variáveis coligadas à cada conduta humana;

* Enriquecer análises das mais diversas naturezas;

* Etc.

Certamente, análises que não se proporem à ultrapassar a topografia dos comportamentos observados estarão negligenciando informações relevantes acerca do seu objeto de estudo, seria o mesmo que analisar o recorte 1 de nossa fábula sem antes solicitar maiores acessos aos fatos (Acesso aos envolvidos, ao histórico rico em detalhes de cada um, etc) e não apenas basear-se no "jornal sensacionalista".

Os campos da psi sem exceção compartilham análises multidisciplinares que em grande freqüência, reduzem o homem à determinantes da ciência ao qual se especializaram.

Pode-ser que nestes ambientes, um papel crucial do psicólogo seja fazer interfaces e garantir que estas especialidades não fujam da raiz de uma conduta (o que geralmente acontece em pesquisas quantitativas!). Ao ficarmos presos ao olhar topográficos, corremos um sério risco de rotular pessoas, simplificar e generalizar fenômenos complexos presentes na psicologia, etc.

Aos leitores fica aberta a indagação: No seu dia – a – dia profissional, ao analisar pessoas você atenta-se à raiz daquela conduta específica?

Bibliografia

Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New York: Appleton-Century-Crofts.

SKINNER, B.F. Ciência e comportamento Humano. Ed. Martins Fontes. 2000.

Acesso à Plataforma

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