Numa carta dirigida ao neurologista americano, James Jackson Putnam, Freud dizia que "A moral sexual como é definida pela sociedade, e em sua forma mais estreita pelos americanos, parece-me muito desprezível. Defendo uma vida sexual incomparávelmente mais livre". (1915). Históricamente, já em 1905, ao responder a uma enquete sobre a reforma na lei do divórcio no império austro-húngaro, Freud defendeu "a concessão de um maior grau de liberdade sexual", acrescentando que muitos médicos da época subestimavam intensamente a "poderosa pulsão sexual", a libido.
Convém lembrar, no entanto, que foram os sexólogos que tomaram a dianteira, e dentre eles e um dos mais expressivos, Krafft-Ebing, o qual publicou em 1886 a sua "Psychopathia Sexualis", um verdadeiro clássico no estudo das perversões. Um outro autor de extrema importância foi Havelock Ellis, que produziu uma intensa literatura sobre a temática da homossexualidade e das perversões. O que Freud apresentaria seria a sua avaliação definitiva do crescimento psicológico, de suas fases e dos principais conflitos. Essa avaliação foi formulada em 1920 e com a colaboração de analistas mais jovens, como por exemplo Karl Abraham.
Numa declaração pessoal, repleta de muito orgulho, Freud fez constar que ninguém anterior a ele havia reconhecido claramente "uma pulsão sexual na infância".
Queremos ressaltar que Freud jamais expressou, aquilo que seus detratores tanto afirmaram, o absurdo de que a sexualidade infantil se manifestaria como a sexualidade do adulto. Ao contrário, as emoções e os desejos sexuais infantis assumem várias formas (polimorfismo sexual) e nem todas evidentemente eróticas: chupar o polegar e outras formas de auto-erotismo, retenção das fezes, rivalidade entre irmãos, masturbação, etc.
Freud sempre foi extremamente atacado por aqueles que julgavam a sua "ideologia genital". Contudo, a sua ideologia foi considerada subversiva na época em que foi promulgada. Foi também sempre neutro e sem censuras quanto as perversões, uma vez que estava convencido que a fixação sexual em objetos iniciais que não foram superados, mesmo que isso significasse fetichismo ou homossexualismo, não era crime, nem pecado e menos ainda doença.
Embora Freud possa defender-se por si só, gostaríamos de ratificar que ele não era pan-sexualista como muitos afirmaram . Em 1920, em seu prefácio para a quarta edição dos seus "Três Ensaios para uma Teoria Sexual", Freud fez uma emblemática declaração: "O rebelde e independente não sou eu, e sim o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, o qual confrontou a humanidade com a amplitude na qual as suas intenções e ações são determinadas por seus impulsos sexuais". Para aqueles que olhavam a psicanálise de forma desdenhosa, do alto do seu "superior" ponto de vista, Freud quiz lembrar a íntima coincidência entre a sexualidade ampliada pela psicanálise e o Eros de Platão. Encontramos na obra de Freud, várias citações de trabalhos dos filósofos, os quais eram invocados segundo sua conveniência, e no sentido de servirem como contexto para a edificação de seu construto teórico.
Em suas várias Conferências sobre a temática da sexualidade, Freud sempre foi muito criticado por "ver" a sexualidade em "tudo". Por sua parte, em contraposição a essas críticas, sempre afirmava que por mais que dessemos importância à sexualidade, ainda ficaríamos devendo muito a ela Quanto aos seus créditos de relevância.
Bibliografia:
+ "Os Três Ensaios para uma Teoria Sexual"
+ "Introdução ao Narcisismo"
+ "O Caráter e o Erotismo Anal"
+ "A Sexualidade" = Jean Laplanche