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Comportamento Anti-Social

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Autores:

– Roberto Gomes Marques
– Maria Regina Barbosa Assunção

O comportamento agressivo ou anti-social vem sendo estudado por behavioristas radicais de forma a entender o porque do comportamento muitas vezes violento do homem voltado para a própria espécie, chamado de agressão intra-específica (REGRA, 2001). Este tipo de comportamento tem sido explicado no estudo da relação do homem com o seu meio. De acordo com GOMIDE (2001), a definição do termo comportamento anti-social é utilizado por KASDIN e BUELA-CASAL (1998) para se referir a todo comportamento que infringe regras sociais ou que seja uma ação contra os outros, tais como comportamento agressivo, comportamento infrator como furto, roubo, vandalismo, piromania, mentira, ausência ou fuga escolar, fuga de casa, entre outros. O DSM IV (APA, 1995) define o comportamento anti-social como um padrão repetitivo e persistente de comportamento de violação aos direitos básicos dos outros e de normas ou regras sociais importantes apropriadas à idade. Já PATTERSON, REID e DISHION (2002) definem comportamento anti-social como eventos que são simultaneamente aversivos e contingentes. Eles salientam que se deve descrever um evento anti-social e não uma pessoa anti-social. O termo contingente refere-se à conexão entre o comportamento do indivíduo e o de outra pessoa pertencente ao ambiente onde o evento ocorre. 

Esses autores preferem utilizar o termo anti-social ao agressivo, pois o primeiro descreve mais a natureza do comportamento do que o segundo. Esses comportamentos são respostas dadas pelo organismo dentro de determinadas contingências e se mantém em função de reforçadores. O behaviorismo radical fornece uma explicação desse comportamento anti-social sem recorrer a explicações mentalistas. Afirmar que o comportamento agressivo ocorre em função de sentimentos, não ajuda muito. Segundo SKINNER (2002, p. 184), “não é de qualquer auxílio na solução de um problema prático, dizer-se que algum aspecto do comportamento do homem se deve à frustração, à ansiedade; precisamos também saber como a frustração ou a ansiedade foi induzida e como pode ser alterada.” Skinner tráz na sua teoria uma ferramenta de fundamental importância para podermos entender e alterar o comportamento anti-social: a análise funcional. Essa análise implica a descrição de contingências e a relação de dependência dessas com o comportamento e, que nos possibilita descrever o valor funcional da agressão. Percebendo que emoções não são causas e sim respostas induzidas por uma classe de operações, podemos compreender o que mantém o comportamento anti-social.

Para diagnosticar uma pessoa com comportamento anti-social, GOMIDE (2001), coloca que é necessário que este padrão de comportamento venha se mantendo já há algum tempo e com alta frequência, por períodos duradouros. O que é diagnosticado é o padrão de comportamento e não o organismo. Este apenas responde a um conjunto de contingências e, se mudamos as contingências podemos mudar o padrão de respostas que são dadas pelo organismo. SIDMAN (1995), no livro Coerção e suas implicações discute o modelo da nossa cultura que educa de forma coercitiva. Segunda ele, a punição e a privação levam o homem a apresentar comportamento agressivo. Observa-se que, somos punidos de várias formas possíveis por não nos comportarmos adequadamente e, quando apresentamos comportamentos desejados, não recebemos nenhuma gratificação ou algo que nos motive a manter esse padrão de comportamento.

A sociedade comtemporânea convive com episódios que envolvem, em larga escala, comportamentos anti-sociais em crianças e adolescentes provavelmente em decorrência do contato com ambientes ameaçadores. O grande número de ocorrências que nos chegam através da mídia, focalizando o destino insólito de crianças que crescem nos ambientes da periferia da cidade, vivenciando privações materiais e a violência causada pelo tráfico de drogas demonstram a importância do entendimento dessa questão no Brasil. Apesar da intervenção de pessoas e organizações que se dedicam voluntariamente, ao entendimento dessa situação e de algumas ações do poder público, constata-se que os resultados obtidos por esse trabalho não são efetivos. Para que se processem intervenções mais eficazes, é necessário um conhecimento mais aprofundado do assunto e de suas variáveis de controle. Torna-se importante assim, analisar funcionalmente o curso de desenvolvimento do comportamento anti-social nas fases da infância e da adolescência, mostrando que ele se inicia no ambiente familiar chegando até os grupos delinquentes, nas ruas.

PATTERSON, REID e DISHION (2002), colocam que os atos aparentemente inofensivos observados no lar e na escola são os protótipos de comportamentos anti-sociais na adolescência. Eles afirmam também que a exposição muito longa à violência e à agressão, tanto na comunidade quanto na televisão, tem aumentado a extensão da aprendizagem de comportamentos agressivos nos tempos atuais. A exposição a episódios anti-sociais propicia a aprendizagem, onde a criança é inicialmente uma simples observadora e com experiência, passa a copiar os modelos daqueles personagens com que se identifica. Alem disso, através da aprendizagem por modelagem, a criança pode utilizar as birras, choros e outros comportamentos anti-sociais para obter controle sobre os pais. Esses comportamentos vão sendo instalados no repertório da criança na medida que os resultados são atingidos. PATTERSON e colegas (2002), descrevem quatro estágios de desenvolvimento do comportamento anti-social. O primeiro estágio desenvolve-se na família onde os pais descrevem a criança como difícil e diferente dos outros, e proporcionam uma disciplina ineficiente com pouca monitoria das atividades da criança.

O segundo estágio ocorre na escola, onde iniciam as reclamações sobre a criança nos aspectos da aprendizagem e inadequação em sala de aula, levando à rejeição das outras crianças e dos professores e aos déficits acadêmicos. O terceiro estágio descreve a reação do meio social e o fracasso neste ambiente impulsiona a criança a buscar apoio em ambientes alternativos, isto é, rejeitada pelos colegas, ela procura grupos desviantes e aperfeiçoa suas habilidades anti-sociais, buscando as drogas e cometendo pequenos delitos. O último e quarto estágio, via de regra, acaba levando o adolescente para instiuições correcionais. Segundo GOMIDE (2001), é basicamente uma sequência de ação e reação. No primeiro estágio, as ações agressivas da criança se iniciam sem que os pais tenham habilidades de controle. No segundo estágio, o meio social reage e a rejeita. No terceito estágio, ela busca apoio nos grupos desviantes.

Este conjunto leva a casamentos prematuros e fracassados, empregos caóticos e institucionalização, o quarto estágio. SKINNER (2002) e SIDMAN (1995) questionam em seus livros o modelo coercitivo que predomina há tanto tempo nos sistemas familiares, educacionais, legais e policiais onde a punição tem sido a única estratégia de controle de comportamento utilizada. O grande problema é que ela funciona de forma imediata e por isso parece mais eficaz. Entretanto, a punição produz efeitos colaterais tanto para quem pune quanto para quem é punido: os estímulos aversivos que são usados pelos adeptos da agressão no controle do comportamento, eliciam sentimentos no agredido que dificultam a aprendizagem e a relação dele com outras pessoas; provocam o comportamento de fuga e esquiva que impedem o contato com situações de aprendizagem de repertórios comportamentais alternativos. Para SIDMAN (1995), coerção é o uso da punição e da ameaça de punição para conseguir que os outros ajam como gostaríamos. Entretanto, embora ela possa produzir esse resultado – às custas dos inevitáveis efeitos colaterais – não oferece à criança ou ao adolescente qualquer caminho alternativo para comportar-se construtivamente.

Para SKINNER (2002), a técnica de controle mais comum é a punição. Se o seu filho não se comporta de forma adequada, castigue-o, se um país não tem a mesma religião que a sua, bombardeio-o, sistemas legais e policiais funcionam com esquema punitivo e a sociedade ainda não abandonou a palmatória. O que aprendemos com os behaviorista radiciais é que devemos questionar que tipo de controle queremos: o controle coercitivo que sempre foi usado e que não tem trazido resultados satisfatórios, ou o controle por reforçadores positivos? Diante dos fatos, os cientistas buscam explicações que possam servir para identificar e modificar a situação. Os estudiosos da área de comportamento anti-social apresentam alternativas.

Em particular os behavioristas radicais. A alternativa que temos para evitar a palmatória, a agressão, a violência, o vandalismo etc, é a de repensar a nossa cultura, como fez Skinner durante toda sua vida. Devemos abandonar a crença de que os controles coercitivos são absolutamente necessários para o bom funcionamento da sociedade. Segundo ele, as mudanças nas formas de controle interpessoais, de coercitivas para reforçadoras, poderiam resultar em uma qualidade de vida melhor, propiciando ambientes mais adequados para o desenvolvimento das crianças e adolescentes.

Referências Bibliográficas

BAUM, W. (1999). Compreender o behaviorismo. Porto Alegre: Ed. Artmed. GOMIDE, P.I.C. (2001).

Efeitos das práticas educativas no desenvolvimento do comportamento anti-social. Em Marinho, M.L. e Caballo, V. E. (org.) : Psicologia Clínica e da Saúde, p.p. 33-53. Londrina: Ed.

UEL PATTERSON, G., REID, J. e DISHION, T. (2002). Anti-social Boys: comportamento anti-social. Santo André: ESETEC Ed. Associados.

REGRA, J. (2002). A agressividade infantil. Em Silvares, E.F.M. (org): Estudos de caso em Psicologia clínica comportamental infantil. Vol II. Campinas: Ed. Papirus.

SIDMAN, M. (1995). Coerção e suas implicações. Campinas: Ed. Psy II. SKINNER, B. F. (2002). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Ed. Martins Fontes.

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