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Sentimento de Prazer e Desprazer

Resumo

Freud, um teórico primordial da psicanálise apresenta a hipótese do princípio de prazer, mostrando que os eventos mentais são regulados por este princípio. Ele relaciona a repressão do ego com a liberação de desprazer e possíveis neuroses traumáticas. Mostrando a importância do estudo dos sonhos, onde Freud sugere que sonhos são realizações de desejo, considerando essa hipótese ele nos mostra que não é a serviço deste princípio que os sonhos traumáticos acompanham os pacientes. Freud, ainda mostra o efeito dos estímulos no aparelho psíquico. Evidenciando a importância da proteção contra esses estímulos.

Palavras-chave: Prazer; Desprazer; Eventos Mentais; Instintos; Ego; Neurose Traumática; Sonhos; Compulsão à Repetição; Estímulos.  

1. Introdução 

Com objetivo de desenvolver a leitura específica da área de psicologia psicanalítica Freudiana, esta pesquisa visa esclarecer aspectos de uma emoção em que todos os seres humanos buscam; o prazer. Por este prisma abordam-se as questões levantadas sobre o princípio de prazer. Segundo a teoria psicanalítica, o prazer é o que regula o decorrer dos eventos mentais. Desconhecendo os significados dos sentimentos de prazer e desprazer, pode ser relacionado à quantidade de excitação presente na mente. Influenciado pelos instintos autopreservativos do ego, o princípio de prazer é substituído pelo princípio de realidade, que não só com a intenção de obter prazer, ainda exige que haja a satisfação. Outra questão abordada é a liberação de desprazer, que podemos encontrar nos conflitos efetuados no aparelho mental, enquanto o ego passa por um processo altamente composto. Sabendo que o prazer e o desprazer são sentimentos conscientes, Freud nos deixa claro que também estão ligados ao ego e seus mecanismos de defesa.Incluindo o estudo onírico nesse trabalho Freud relaciona com o princípio de prazer por estar ligado às realizações de desejo e se opondo a este princípio por enfatizar os sonhos de pacientes que sofrem de neurose traumática.

[1] Acadêmica do Curso de Psicologia da Faculdade da Serra Gaúcha – FSG. Artigo apresentado à disciplina de Processos Psicológicos Básicos III – PPB III


2. Desenvolvimento

Na concepção de Freud, não há dúvidas de que os acontecimentos mentais são regulados pelo princípio de prazer, que consiste basicamente numa redução de tensão ou uma produção de prazer.Prazer e desprazer, sentimentos divergentes, completamente conscientes, porém impróprio de qualquer significado teórico. Numa parte distante da mente, são sentimentos que não podemos evitar, no entanto, o mais cabível foi a decisão de relacionar o prazer e o desprazer à quantidade de excitação presente na mente, sendo que o desprazer aumenta a quantidade de excitação, enquanto o  prazer mostra uma diminuição de excitação.Freud ressalta a citação de G. T. Fechner, onde ele defende sobre este tema, que coincide com os da psicanálise, sua afirmação diz o seguinte: ‘Até onde os impulsos conscientes sempre possuem certa relação com o prazer e o desprazer, estes também podem ser encarados como possuindo uma relação psicofísica com condições de estabilidade e instabilidade. Isso fornece a base para uma hipótese em que me proponho ingressar com maiores pormenores em outra parte. De acordo com ela, todo movimento psicofísico que se eleve acima do limiar da consciência é assistido pelo prazer na proporção em que, além de certo limite, ele se aproxima da estabilidade completa, sendo assistido pelo desprazer na proporção em que, além de certo limite, se desvia dessa estabilidade, ao passo que entre os dois limites, que podem ser descritos como limiares qualitativos de prazer e desprazer, há certa margem de indiferença estética (…)’. Acredita-se que o aparelho mental trabalha para manter a quantidade de excitação tão baixa quanto possível, ou ao menos mantê-la constante e se houver um aumento dessa quantidade, é sentida como desagradável.Se analisarmos o princípio de prazer a partir da autopreservação do organismo das dificuldades externas, veremos que é completamente ineficaz e perigoso. Com a intervenção dos instintos autopreservativos do ego, colocamos em contraponto o princípio de realidade[1]. O segundo princípio não abandona o objetivo de obter prazer, mas, ainda, exige o adiantamento da satisfação.

Essa substituição de princípios tem como responsável as experiências desagradáveis, portanto a liberação de desprazer pode ser encontrada nos conflitos do aparelho mental, enquanto o ego passa por seu grandioso desenvolvimento, a energia que o aparelho mental se abastece provém de seus impulsos instintuais inatos não permitindo a todos atingir as mesmas fases de evolução, ocorrem algumas vezes de instintos individuais serem incompatíveis, em seus objetivos. Os primeiros são abandonados agora pelo processo de repressão[2], que se encontra em níveis inferiores de desenvolvimento psíquico, e afastado da possibilidade de satisfação. Se por ventura tiverem sucesso, como freqüentemente ocorre com os instintos sexuais reprimidos, em alcançar uma satisfação substituta, esse fato que seria uma oportunidade de prazer, é sentido pelo ego como desprazer. O conflito que se encerrou pela repressão ocorreu uma nova quebra, enquanto o princípio se preocupava em obter prazer. Freud não nos deixa dúvidas que todo desprazer neurótico é dessa espécie, um prazer que é sentido como desprazer. Esse prazer pode ser então percebido pelos instintos insatisfeitos como estímulos externos aflitivos, gerando maior excitação do aparelho mental, pois como é tido como um perigo desencadeia o desprazer. Tornamos aqui evidente o perigo dos estímulos externos.Freud[3] concebeu para a atividade psíquica uma estrutura que chamou de aparelho psíquico ou mental como viemos a chamar, que é composto por três partes: id, ego, superego. O Id é a parte original desse aparelho, sua atividade consiste em impulsos que obedecem ao princípio do prazer, isto é que buscam o prazer e evitam a dor. O Ego tem como principal função agir como intermediário entre o id e o mundo externo, ao defrontar-se com esses estímulos há a satisfação no princípio de realidade. Isto significa que o indivíduo deve suportar um sofrimento para depois alcançar o prazer e renunciar a um prazer que poderá fazê-lo sofrer mais tarde, no entanto ambos os princípios visam alcançar a satisfação e evitar a dor. Cabe ao ego perceber os estímulos, avaliando sua qualidade e intensidade a partir de lembranças, protegendo-se dos estímulos perigosos, mais sucintamente o ego tem função de perceber, lembrar, pensar, planejar e decidir.

O Superego é chamado de “consciência” ele dá a resposta imediata de “certo” ou ”errado” que surgem na pessoa perante uma tomada de decisão. Para que possamos especular a questão de como nosso sistema perceptivo recebe os estímulos externos e de sentimentos de prazer e desprazer e também se protege contra ele, toma-se como ponto de partida a localização anatômica cerebral, que determina o lugar da consciência no córtex cerebral, sendo a camada mais externa, que envolve o órgão central.

A história desenvolvimental nos mostra que o sistema nervoso central se origina do ectoderma, uma camada superficial primitiva que herda alguns traços essenciais, supõe-se então que com o impacto dos estímulos externos sobre a superfície da visícula, modifica sua substância de forma que os processos excitatórios seguem por caminhos diferentes daqueles seguidos nas camadas mais profundas. Formar-se-ia uma crosta que ficaria calcinada pela estimulação e estaria favorável à recepção de estímulos tornando-se incapaz de qualquer outra modificação.Contudo, acrescentamos que a visícula viva, com sua camada cortical receptiva encontra-se solta no mundo externo, que carregado de suas mais poderosas energias, dispõe de um escudo protetor contra estímulos, e sem este, seria morto pela estimulação das energias externas. Assim, as energias do mundo externo só podem passar para as seguintes camadas, que permanecem vivas, com sua intensidade original, e essas camadas agem por trás do escudo na recepção de quantidades de estímulos que deixou passar. Portanto, Freud[4] afirma: ‘ A proteção contra os estímulos é, para os organismos vivos, uma função quase mais importante que a recepção deles.’ O principal objetivo da recepção de estímulos é saber de onde ele veio e para onde ele vai. A camada cortical receptiva dos organismos mais desenvolvidos consiste especificamente em aparelhos dos sentidos que recebem estímulos específicos e tem disposições especiais para que haja mais proteção contra quantidades elevadas e para estímulos impróprios. Esse córtex sensitivo recebe excitações desde seu interior e sua situação diante de excitações dos dois casos, interno e externo, causa um efeito decisivo no funcionamento do sistema e de todo aparelho mental. Na condição do exterior a quantidade de excitação tem efeito reduzido.

Na condição do interior não há escudo, as excitações atingem as camadas mais profundas e em quantidade não reduzida, e suas características dão origem a uma série de sentimentos de prazer e desprazer. Esses estados resultam em: primeiramente, os sentimentos de prazer e desprazer e em segundo, uma maneira de lidar com as excitações internas que produzem desprazer, são tratadas também como se atuassem de fora como meio de defesa. É essa origem da projeção[5] destinada a desempenhar um papel tão grande na causa dos processos patológicos. Freud descreve como traumática quaisquer excitações provindas de fora que sejam tão poderosas a ponto de atravessar o escudo protetor. No caso de um trauma externo, pode causar um distúrbio no funcionamento da energia do organismo e colocar em prática todas as medidas defensivas. Sem dúvida o desprazer que vem do sofrimento físico atravessa o escudo protetor, dando um fluxo contínuo de excitações em direção ao aparelho central da mente. Esse processo de excitação é executado com energias que variam quantitativamente e qualitativamente. A neurose traumática, conseqüência da ruptura do escudo protetor contra os estímulos é atribuída pela psicologia ambiciosa ao susto e à ameaça à vida, sendo que, o que mais contribuiu para a epidemia de muitas neuroses foram os grandes períodos de guerras e pós-guerras, uma vez que os sintomas se aproximam aos da histeria. Freud argumenta que neuroses de guerra podem ser neuroses traumáticas que foram facilitadas por um conflito no ego. As neuroses traumáticas comuns apresentam duas características: o fator surpresa, do susto, e, outra que um ferimento ou dano operam contra o desenvolvimento de uma neurose. Freud usa palavras como: ‘Susto’, ‘Medo’ e ‘Ansiedade’ para deixar clara a relação com o perigo, mas ressalva que são palavras impróprias para usar como sinônimas.

A ‘Ansiedade’ Freud descreve como um estado para a espera do perigo. O ‘Medo’, como um objeto pelo qual tememos. E o ‘Susto’ ele chama o estado que alguém fica, quando entrou em perigo sem estar preparado.Convicto de sua crença, Freud duvida que a ansiedade possa produzir neurose traumática; pois vê nela algo protetor do seu sujeito contra o susto e conseqüentemente, contra as neuroses de susto. Podemos ver que o susto é a falta de preparação para a ansiedade, fator que constitui a última linha de defesa do escudo protetor contra os estímulos externos. O estudo dos sonhos é indicado como sendo o método mais digno para a pesquisa dos processos mentais profundos. Em relação às neuroses traumáticas, os sonhos possuem características de trazer o paciente de volta à situação de seu acidente, numa situação que o acorde num susto. Freud não mostra conhecimento que pessoas que sofrem de neurose traumática estejam ocupadas com lembranças de seu acidente, ele acredita que elas estejam mais preocupadas em não pensar nele. Levando em consideração o princípio de prazer e relacionando-o com a tese de que os sonhos são realizações de desejo, mostra-se que não é a serviço desse princípio, que os sonhos de pacientes que sofrem de neurose traumática nos conduzem de volta à situação onde o trauma ocorreu. Podemos acreditar que esses sonhos estão nos ajudando por dominar retrospectivamente o estímulo, manifestando a ansiedade, cuja omissão constitui a causa da neurose traumática. Dá-nos assim a visão de uma função do aparelho mental que não contradiz o princípio de prazer, é independente dele e mais primitiva do que o intuito de obter prazer e evitar desprazer.Porém, é impossível relacionar as realizações de desejo com sonhos que ocorrem nas neuroses traumáticas, ou os sonhos tidos durante a sessão de análise psicanalítica, os quais trazem lembranças de traumas vividos na infância.Muitos teóricos da psicanálise se empenham para descobrir os motivos que levam as crianças a brincar, mas não consideram a questão econômica e a produção de prazer.

Freud, numa observação com um menino em fase primária, que inventara sua própria brincadeira, desvendou o significado da atividade que o menino sempre repetia.A criança estava aprendendo suas primeiras palavras, usava sons que expressavam um significado confuso, identificado como um menino calmo, obediente, era muito ligado à mãe, mas não chorava quando era deixado por pouco tempo. Esse garoto pegava qualquer objeto e o lançava para baixo da cama, ou num canto para que ele pudesse ir procurar o objeto e apanhá-lo. Com isso emitia uma expressão de satisfação. Para o observador, seus acompanhantes concordaram em dizer que o som emitido expressava “ir, partir”. Compreendeu-se que sua brincadeira era de “ir embora”. Numa outra observação com o mesmo menino, Freud conseguiu comprovar seu ponto de vista. Pois, sempre que o brinquedo desaparecia o menino emitia o mesmo som, e quando aparecia ele pedia para lhe dar. O jogo foi relacionado com a realização cultural da criança com a renúncia instintual que acontecia quando deixava a mãe ir embora sem protestar. Ele se satisfazia com o aparecimento e o retorno do brinquedo. A criança não sentiu a partida da mãe como sendo um fato agradável ou sem importância, no jogo, a experiência desagradável do desaparecimento acalmava-se com o princípio de prazer, pois era encenada como necessária para seu alegre retorno. O esforço de repetir a situação, por mais desagradável que fosse é atribuído a um instinto de dominação que ocorreria mesmo se a lembrança fosse agradável.

Outra impressão é feita ao notar que o menino arremessou o objeto de maneira que fosse embora isso poderia satisfazer um impulso de criança, transportando para a realidade, significaria a vingança da criança porque a mãe se afastou dela. Nas brincadeiras, as crianças repetem o que na vida real lhes causou impressão, se tornando senhoras da situação. Suas brincadeiras também são influenciadas pelo desejo de crescer e fazer o que os adultos fazem. Certamente, se passarem por uma situação penosa como uma consulta ao médico, este será o próximo tema na brincadeira. Freud afirma, “quando a criança passa da passividade da experiência para a atividade do jogo, transfere a experiência desagradável para um de seus companheiros de brincadeira e, dessa maneira, vinga-se num substituto”.

A psicanálise vista como uma arte interpretativa deixou claro que o inconsciente deve tornar-se consciente. Em sua técnica o paciente não pode recordar o que nele se acha reprimido e o que ele não recorda pode ser justamente a parte essencial. Portanto é obrigado a repetir o reprimido como se fosse uma experiência contemporânea em vez de recordar como algo do passado. Essas reproduções têm como tema parte da vida sexual infantil e são mostradas na transferência, da relação do paciente com o médico. Atingindo esse passo a “neurose primitiva” foi substituída pela neurose de transferência.O médico se esforça para manter essa neurose de transferência mais equilibrada possível, mas proporção do que é lembrado não pode ser privado do paciente. No tratamento deve-se fazer com que o paciente reexperimente partes da sua vida esquecida, cuidando o estado que lhe permite a frustração de tudo, “reconhecer que aquilo que parece ser realidade é, na verdade apenas reflexo de um passado esquecido”.

Como Freud expõe, se isso proceder bem o sentimento de convicção do paciente será alcançado juntamente com o sucesso terapêutico que dele depende. Tornamos mais fácil a compreensão da ‘compulsão à repetição’ que surge nos tratamentos psicanalíticos dos neuróticos se nos despirmos da visão que temos de que aquilo que estamos lidando em nossas lutas contra as resistências, seja uma resistência por parte do inconsciente, ou seja, o reprimido não resiste e sim se esforça para abrir seu caminho à consciência. Resistência a qual nos referimos durante o tratamento tem origem nos sistemas mais elevados da mente que provocam repressão. Podemos dizer que a resistência de pacientes origina-se do ego, e consequentemente a compulsão à repetição deve ser atribuída ao reprimido inconsciente, e só se expressa depois que o tratamento abriu caminhos para a repressão. Não duvidamos que a resistência do ego consciente e inconsciente é influenciada pelo princípio de prazer que teria pela liberação do reprimido. Quando conseguimos a evitação de desprazer apelamos pelo princípio de realidade. Claramente percebemos que o que é reexperimentado pela compulsão à repetição, deve causar desprazer ao ego, não contradizendo o princípio de prazer: desprazer para um dos sistemas, satisfação para o outro. Chegamos ao fato que a compulsão à repetição recorda experiências passadas que não dão possibilidade de prazer, e nunca trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais, que desde então foram reprimidos.

Relacionamos a compulsão aos sonhos que ocorrem nas neuroses traumáticas e aos impulsos que fazem as crianças brincar. Essas manifestações apresentam um grande caráter instintual e atuando contra o princípio de prazer parecem ser forças demoníacas. No caso da brincadeira as crianças repetem experiências desagradáveis muito mais no modo ativo do que experimentando de modo passivo. Se contarmos uma bela história, a criança vai querer ouvir repetidas vezes do que ouvir uma nova, que segue o princípio de prazer por essa repetição idêntica ser uma fonte de prazer. No caso de uma pessoa em análise é o contrário. Com a visão direcionada aos instintos, sustenta-se que a natureza conservadora dos instintos garante a origem e o objetivo da vida. Se opondo à idéia de que a vida instintual sirva para causar a morte, os instintos componentes são tratados com a função de garantir que o organismo seguirá seu próprio caminho para a morte, e afastar todas as maneiras de retornar à existência inorgânica que não venham do próprio organismo.Detendo-nos na importância dos instintos sexuais para a teoria das neuroses, que aparecem em aspectos bem diferentes. Onde os verdadeiros instintos de vida, operam contra os instintos  que conduzem à morte. Com a distinção entre instintos do ego e instintos sexuais notamos que o primeiro se expressa no sentido da morte, possui caráter conservador que corresponde à compulsão à repetição, enquanto os instintos sexuais exercem pressão no sentido de um prolongamento da vida e reproduzem estados primitivos do organismo.No debate produzido por nosso precursor da psicanálise, entre os instintos do ego e instintos de morte e entre os instintos sexuais e instintos de vida, Freud sustenta seu ponto de vista dualista e Jung altamente monista defende a palavra “libido” para referir-se a qualquer força instintual.O fato de esta divergência ter causado confusões nos leva a suspeitar que outros instintos não os de autoconservação funcionam no ego.

Partindo dessa oposição citamos como exemplo a polaridade semelhante existente entre o amor e ódio[6], onde observações clínicas demonstram que não apenas o amor se acompanha pelo ódio como em relacionamentos humanos, o ódio antecede o amor, em determinadas circunstâncias o ódio é transformado em amor e o amor em ódio. Essa modificação é uma sucessão temporal que nos faz perder a base para a distinção entre instintos eróticos e instintos de morte.No caso de alguém que ama e depois odeia a mesma pessoa ou ao contrário é porque a pessoa lhe deu motivos, e nada confronta com o nosso problema. Outro caso se faz quando os sentimentos de amor que não são demonstrados se expressam com agressividade. A homossexualidade exibe vínculos com essa transformação, pois a investigação analítica nos mostra sentimentos violentos ligados à agressividade, onde o objeto odiado se torna o objeto amado ou dá origem a uma identificação.Com este estudo fundado em Além do Princípio de Prazer, freqüentemente buscamos origem nos impulsos instintuais, e sem seus constituintes teríamos dificuldades em apegar-nos à dualidade do ponto de vista Freudiano. Contudo, sabemos que sem sombra de dúvidas o princípio de prazer serve ao id como guia em sua luta contra a libido – a força que introduz distúrbios no processo de vida como vimos o ego auxilia o id a dominar as tensões.O princípio de prazer, então, é uma tendência que opera a serviço de uma função, cuja missão é libertar inteiramente o aparelho mental de excitações; conservar a quantidade de excitação constante nele, ou mantê-la tão baixa quanto possível.Explicado a partir da sexualidade, o prazer do ato sexual é associado à excitação intensa do momento. A sujeição de um impulso instintual seria uma função preliminar, destinada a preparar a excitação ora que seja eliminada no prazer da descarga.Em nossa consciência produzem-se sentimentos internos que não são apenas sentimentos de prazer e desprazer, mas uma tensão que pode ser agradável ou não. Outro fato é que os instintos de vida têm muito mais contato com a percepção interna surgindo como quebra da paz, cujo alívio é sentido como prazer. 

3. Considerações Finais 

Tendo os objetivos realizados e as questões primordiais respondidas satisfatoriamente, com a execução da pesquisa, outras questões foram surgindo e algumas dúvidas ainda ficaram. Propõe-se, então uma questão para ser analisada: a solução dos processos instintuais de repetição com a dominância do princípio de prazer.Como já vimos, a intensidade dos estímulos excitatórios, presentes em fatos desagradáveis, podem causar psicopatologias como diversas neuroses. Todo desprazer neurótico é um prazer que não pode se sentida como tal. Então, o prazer que sentimos normalmente, é a percepção de uma pressão por parte dos instintos insatisfeitos. Uma característica presente na análise de neuróticos é a compulsão à repetição. Também vimos que mais importante que a recepção de estímulos é a proteção contra eles, no entanto ainda não sabemos como dominá-los. Em relação ao estudo onírico de Freud, percebemos que os sonhos de pacientes com neurose traumática não é de forma alguma realizações de desejo. 


4. Referências Bibliográficas

D’ANDREA, Flávio. Desenvolvimento da personalidade. Rio de Janeiro: Difel,1982.FREUD, Sigmund. O Ego e o Id, uma neurose demoníaca do século XVII E outros trabalhos. Tradutor: José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: IMAGO, 1969. Vol. XIX.

FREUD, S. Além do principio de prazer. In: Além do Princípio do Prazer Psicologia de Grupo e outros trabalhos. Tradutor: Cristiano Monteiro Oiticica, Rio de Janeiro: Imago, 1996. Vol. XVIII.FREUD, S. Obras completas. Tradutor: Luis Lopes-Ballesteros y de Torres. Madrid: Biblioteca Nueva, 1996. Vol. I.LAGACHE, Daniel, Vocabulário da psicanálise. Tradutor: Pedro Tamen. 4º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

[1] Um princípio que rege o funcionamento mental. A psicanálise procura basear o princípio de realidade num certo tipo de energia pulsional ligada ao ego.

[2] É o processo automático que mantém fora da consciência, impulsos, idéias ou sentimentos inaceitáveis, os quais não podem tornar-se conscientes através da evocação volutária. A repressão é o mais importante mecanismo de defesa do ego.

[3] Sigmund Freud, Esquema del Psicanálisis.

[4] FREUD, Sigmund. Além do princípio de prazer (1920), Edição Standart Brasileira, Vol. XVIII, pág.38 e segs., IMAGO Editora, 1996.

[5] Definida como mecanismo de defesa, a projeção é o processo mental pelo qual
atributos da própria pessoa, não aceitos inconscientemente são impulsos a outrem, sem levar em conta os dados da realidade.

[6] FREUD, Sigmund, As duas classes de instintos (1923). In: O Ego e o Id Uma neurose Demoníaca do Século XVII e outros trabalhos. Rio de Janeiro: IMAGO, 1969. Vol.XIX, pág. 53 e segs.

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