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Semiótica: algumas palavras

A ciência Semiótica encontra-se em franco desenvolvimento ao redor do mundo.Como trata-se de uma forma de estudar toda e qualquer forma de linguagem possível, seu campo de ação confunde-se com a totalidade das produções humanas, em suas vertentes histórico-política e social.
Em primeiro lugar, faremos constar que o termo Semiótica, é proveniente da raíz grega "semeion", que quer dizer "signo". Portanto, Semiótica vem a ser a ciência dos signos, porém estamos aqui falando dos signos da linguagem. Na verdade, podemos falar que a Semiótica, é uma ciência geral de todas as linguagens.

Queremos fazer constar que , de saída, existe a possibilidade de que haja um mal entendido entre língua e linguagem. Além do que trata-se de um território do saber em franco desenvolvimento. Históricamente, o século XX nos trouxe o desenvolvimento de duas ciências da linguagem:

= Linguística: a ciência da linguagem verbal.

= Semiótica: a ciência de toda e qualquer linguagem.

Duas questões básicas: teremos que enfocar a diferença entre língua e linguagem, ligada à diferença entre as linguagens verbais e as linguagens não-verbais.

No processo de comunicação intersubjetiva, por vezes nos esquecemos de que a língua utilizada não é a única modalidade comunicacional possível. Possuímos uma rede plural de linguagem: comunicação através de formas, volume, massa, movimentos, linhas, traços, cores, sons musicais, gestos, cheiros, etc. Pode-se dizer então que somos seres simbólicos, seres da linguagem.

Quando consideramos a linguagem verbal escrita, sabemos que esta também não conheceu apenas o modo de codificação alfabética criado no Ocidente a partir dos gregos. Existem, por exemplo, os hieróglifos, pictogramas, ideogramas, enfim, formas que se limitam com o desenho. Quando falamos em linguagem, nos referimos a uma gama intrincada de formas sociais de comunicação, a qual inclui a linguagem verbal articulada, além da linguagem dos surdos-mudos, o sistema codificado na moda, na culinária, etc.

Importante ressaltar que no sistema social em que vivemos, nos encontramos destinados a receber linguagens, nas quais em nada participamos em sua produção. São, na verdade, mensagens destinadas à inculcação de valores que apenas correspondem aos interesses dos donos dos meios de produção de linguagem, e de forma alguma aos usuários. Conclui-se que todo e qualquer fato cultural, ou toda a prática social, constituem-se como práticas significantes, ou seja, são práticas de produção de linguagem e de sentido.

Alcance da Semiótica: como no dizer de Lúcia Santaella: " as linguagens estão no mundo, e nós estamos na linguagem ".

Assim, a Semiótica é a ciência que tem por objetivo de estudo, todas as linguagens possíveis, isto é, os modos de constituição de todo e qualquer fenômeno, como fenômeno de produção de significado e de sentido. O que se busca nos fenômenos através da Semiótica, é a sua constituição como linguagem.

Origem da Semiótica: a ciência semiótica foi triplamente criada:

EUA, União Soviética e Europa Ocidental.

A fonte americana de que ora nos ocupamos, teve o seu surgimento através das pesquisas do cientista, lógico, filósofo, Charles Sanders Peirce(1839-1914). Peirce era, acima de tudo, um cientista e assim sobreviveu trabalhando para o governo federal a serviço da "Costa e Inspeção Geodésica"  durante o dia, e simultâneamente à noite, no Observatório do Harvard College. Muito embora fosse um cientista, Peirce era acima de tudo um lógico, e essa foi a grande paixão de sua vida. Conforme uma afirmação de Max H. Fisch, filósofo norte-americano: "Peirce era uma espécie de filósofo que era, em primeiro lugar um cientista, e uma espécie de cientista que era, em primeiro lugar, um lógico da ciência. Nenhuma Universidade da época soube o que fazer com tal filósofo ou com tal cientista".

Importante ressaltar que, desde o início de seu interesse pela Lógica, Peirce a concebeu como nascendo, na sua completude, dentro do campo de uma "Teoria Geral dos Signos, ou Semiótica". Sabemos, no entanto, que Peirce foi um pensador silitário, porém incançável. Passou os últimos trinta anos de sua vida, estudando dezesseis horas por dia, e que deixou nada menos do que 80.000 manuscritos, além de 12.000 páginas publicadas ainda em vida.

Para Lúcia Santaella, " a semiótica peirceana, longe de ser uma ciência a mais, é, na realidade, uma Filosofia Científica da Linguagem, sustentada em bases inovadoras, que revolucionam, nos alicerces, 25 séculos de Filosofia Ocidental.

Imagino que fique claro a partir dessas considerações, que existe uma possibilidade intrínseca de articulação entre a Semiótica e a Psicanálise, por exemplo. A questão das "comunicações intersubjetivas" nas sessões de análise. A linguagem que vem pela forma de como o paciente se apresenta vestido, perfumado, etc, não pode escapar aos sentidos do analista, como uma modalidade válida de comunicação não-verbal. Analista e analisando,  muitas vezes movimentam-se na esteira de um sistema comunicacional que lhes é próprio, isto é, existe toda uma codificação de linguagem, da qual ambos compartilham. 

Relembrando os "Estudos sobre a Histeria", onde muito se falava à respeito da talking cure, ou a cura pela palavra, deveremos sempre ter em mente, que a comunicação também se dá pela linguagem não-verbal, cabendo ao analista auxiliar ao analisando, a transformar a linguagem não-verbal em linguagem verbal, acompanhada do montante afetivo correspondente.

Dra Lúcia Santaella: doutora em Teoria Literária. Trabalha no Programa de Estudos Pós- Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC/SP.

Bibliografia Complementar:

= Eco, Humberto — "Tratado geral de Semiótica".

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