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" O Umbigo do ‘Umbigo’ "

Existiria,na metáfora do “Umbigo do Sonho”,um “Umbigo” insondável nas Instituições Psicanalíticas nos seus três pontos cruciais:análise,supervisão e estudo teórico? Essa é a proposta norteadora de trabalho.
O estímulo inspirador para a confecção desse artigo, nasceu de uma conversa com uma grande amiga psicanalista a quem eu tenho em alta conta. Falávamos, dentre outras coisas, sobre as instituições psicanalíticas, assim como de suas idiossincrasias. Para ser bem franco, falávamos muito mais dessas últimas.

Nesse sentido, dizia eu a ela que se de um lado pregam aos quatro ventos a questão da exogamia, como sendo um sinal de saúde mental, de outro muitas vezes procedem exatamente ao contrário, promovendo uma verdadeira retaliação em relação àqueles que delas se distanciam. Importante notar, que seja em relação ao motivo que for.

Apresentam-se claramente apegados a um enorme investimento libidinal na fantasia de que constituem a fonte inesgotável e única de um “saber”. Costumo dizer em minha atividade acadêmica, que aqueles alunos que se inscrevem num curso de formação em psicanálise devem, entre outras tantas coisas aproveitar, porque pagam por um curso, mas na verdade podem fazer dois! O que eu quero dizer com essas palavras, é que podem aprender diante do panorama institucional, “o que podem e devem” e “o que não podem e não devem” fazer enquanto a sua práxis teórico-clínica.

Por uma questão de rigor bibliográfico, ressaltamos que numa pesquisa sobre psicanálise em suas várias derivações, encontramos uma excelente obra cunhada por Lawrence Bataille, uma seguidora principalmente do construto teórico lacaniano, e denominada de “O Umbigo do Sonho”. De uma forma geral, o que se preconiza nesse trabalho, é que por mais que se realize o trabalho de interpretação de um sonho, existirá sempre um núcleo, da ordem do insondável. Pelo fato da existência dessa insondabilidade, isso pode incitar o desejo dessa descoberta.

Metafóricamente, a História nos conta que na época da guerra, a imprensa era muito censurada, o que equivale dizer que certas notícias impressas eram tarjadas , o que certamente impossibilitava a sua leitura. Eventualmente, para um leitor menos atento ou menos interessado, tal fato poderia passar desapercebido. Contudo, para a grande maioria dos leitores certamente teriam a sua curiosidade aguçada em função da tal censura.

Existe um concenso entre os psicanalistas de um modo geral, em relação a seguinte consigna: “O sintoma oculta, o sintoma revela ”.

Depois de ter efetuado essa breve digressão, quero voltar ao posicionamento das Instituições Psicanalíticas e ao seu correlato, na minha leitura, ao “Umbigo do Umbigo”. Penso que independente de qual seja, do percurso que o analista-candidato tenha realizado, reservam para si explícita ou implícitamente a aura de que, por mais que se tenha caminhado, aí sim é o local do grande saber. Dessa maneira, o paralelo que ora fazemos é o de que: “Por mais que alguém tenha o seu sonho interpretado, sempre haverá algo, conteúdos da ordem do insondável ”. Vale lembrar que isso é relevante em relação aos sonhos, mas não em relação às Instituições Psicanalíticas.

A fantasia que parece procurar ser veiculada no âmbito institucional, é a de que sempre haverá um devir, de um caminho ainda não percorrido. Trata-se de uma espécie de “canto da sereia”. A questão que ora se coloca é a seguinte, a meu ver: “Haveria o umbigo do umbigo dentre as Instituições Psicanalíticas?”.

Apenas com o intuito de problematizar mais a questão, nos questionamos também: “ Haveria também um umbigo do umbigo na própria análise pessoal e na supervisão psicanalítica dentro das Instituições?”

Assim, a imagem de um encastelamento do saber, sómente disponível para alguns “iniciados”. É de extrema relevância podermos observar que quem ajuda a perpetuar esse estado de coisas, são os próprios candidatos a essas Instituições, “onde fica ratificada uma relação de poder,da qual o desejo pode perfeitamente se tornar oriundo”(uma relação dialética)!

[b]Observações finais: [/b]

Quero deixar clara a minha posição, para que não haja nenhum mal-entendido em relação a minha produção. Em nenhum momento estou questionando a existência das Instituições Psicanalíticas. O que questiono veementemente, isto sim, é a aura através da qual ficam encobertas,movimento esse como já disse, ratificado pelos próprios candidatos que a elas recorrem. Cada um é livre para percorrer o seu caminho pessoal, quer seja em relação à sua análise, supervisão e estudo teórico, não necessitando obrigatóriamente pertencer a essa ou aquela Instituição.

Em “Introdução ao Narcisismo”, trabalho de Freud de 1914, encontramos a seguinte citação do autor: “A libido não se desprende fácilmente de seus objetos,está ligada a eles a modo de uma “soldadura”. Dessa forma, entendemos que a fantasia intensamente catexizada sobre a constituição do “umbigo do umbigo” irá demorar muito para se descatexizar, até porque ela é auto-gerada. Quem sabe aí, poderemos entender a psicanálise dentro de um contexto mais humano, além de levar mais e mais em consideração o contexto histórico, econômico e social em que vivemos. O único obstáculo que Freud preconizou para a possibilidade da existência de uma psicanálise, era a de que o sujeito teria que possuir uma inteligência razoável, mediana, para que fosse capaz de entender e captar o simbolismo e o caráter metafórico das interpretações a ele dirigidas pelo seu(sua) analista.

Num momento de um narcisismo exacerbado dos tempos modernos, podemos notar que as Instituições Psicanalíticas também não ficam de fora desse contexto. Seria esse um sinal de “enfraquecimento das Instituições”? Interessante estarmos atentos para os pontos de tangenciamento possíveis, entre o Imaginário institucional e o Imaginário dos candidatos a elas. Repito, esse imaginário só é mantido pela existência de uma relação dialética entre as partes envolvidas. A Minha proposta norteadora de trabalho, e a de que possamos re-pensar esse estado de coisas existente em maior ou menor grau.

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