Um exemplo desta dificuldade é equalizar os sintomas, com o histórico de vida, mais o contexto atual familiar e determinar o Transtorno de Personalidade Boderline ou Transtorno de Personalidade Limítrofe. O termo Boderline, faz alusão a “linha da borda”, a condição emocional “fronteiriça” entre a neurose e a psicose.
O termo foi usado pela primeira vez em 1884, por um psiquiatra inglês chamado Hughes, depois disto, foi abordado com outras classificações, mas sempre com o mesmo significado. Reich chamava de “caráter impulsivo”.
Deixando de lado a questão epistemológica e partindo para o fundamento do artigo, acredito que ainda há muita incerteza em caracterizar uma patologia como Boderline. Vejo que a principal atribuição para esta conclusão é a tendência a auto-lesão, a pessoa que intencionalmente se machuca/ mutila por razões que estão acima do seu desejo de controle. Na verdade este transtorno vai além deste sintoma e é mais complexo do que a maioria das pessoas acreditam ser.
A começar pela causa razão de sua instalação, que apesar de se ter identificado que aproximadamente 70% dos casos, estão relacionados à abusos sexuais na infância, não é o único ou principal fator que possa desencadear a patologia, também faz parte deste quadro:- ainda na infância, abandono ou negligência dos pais ou cuidadores;- exposição excessiva a experiências de humilhação e frustração;- confronto precoce com situações insolúveis;- entre muitas outras.
O mesmo ocorre com relação aos sintomas ou características do Boderline. Conforme citado acima, a principal característica apontada é a auto-lesão, no entanto, isto por si só não basta, de forma alguma para determinar este distúrbio. Existem outros sintomas, que auxiliam a formar um quadro mais preciso de identificação:
– sentimento permanente de vazio ou incompletude;
– temerosidade ao abandono, separação;
– intolerância a solidão;
– tendências sexuais não normais (Parafilias);
– dificuldade na administração de conflitos pessoais;
– pequenos estressores causam grande fúria;
– imediatismo desregrado;
– incapacidade de sentir prazer (Anedonia);
– neurose poli-sintomática (Fobias, TOC, Histeria de Conversão, Amnésia Breve, Hipocondria, Impulsividade desordenada, etc.);
– dificuldade no desempenho de tarefas que exigem perícia e persistência;
– psicose breve (desrealização/ despersonalização);
– entre outros.
O tratamento psicoterapêutico poucas vezes tem chance de ser suficiente para tratar o Transtorno de Personalidade Boderline, muitas vezes, essencialmente, é necessária a administração de antidepressivos e estabilizadores de humor, indicados pela Psiquiatria. E a partir daí, a eficácia do acompanhamento analítico terá “fôlego” para identificar e tratar a causa do distúrbio. Quando o problema é identificado no início da sua manifestação, é possível que a intervenção medicamentosa não seja necessária.
Como todo distúrbio psicoemocional, o desgaste não se limita só ao sujeito, mas sofre tanto quanto, quem está ao seu lado, como a família. A falta de conhecimento e da identificação de que se trata de uma “doença” torna tudo ainda mais difícil.
Esta é uma abordagem bastante sucinta sobre o assunto. O importante, a saber, é que há tratamento, há como converter casos crônicos através de conciliação terapêutica adequada.