RedePsi - Psicologia

Artigos

A Adolescência e o Analisável

Daremos início a esse trabalho, fazendo uma consideração quanto ao papel da temática da adolescência para a psicanálise. Importante notar que em Freud muito pouco pode ser localizado nesse sentido. Dessa forma, nos valemos do estudo de alguns outros autores para que possamos juntos percorrer esse caminho, árduo sim, porém extremamente necessário e constituinte.
Trata-se de um momento decisivo, onde espera-se que o sujeito eleja a sua orientação . Se falamos de uma "crise da adolescência", estamos designando um momento de decisão com relação ao futuro, ou mesmo o momento em que a neurose mais ou menos latente, eclode com uma certa violência e com uma certa urgência. Quando falamos em adolescência, temos que obrigatóriamente levar em conta o momento histórico da sociedade onde ela ocorre.

Foram, na verdade, as crises da adolescência de determinados homens que muito influiram em sua época. Apenas para citarmos como exemplos, encontramos Baudelaire e Rimbaud. Contudo, pouco ou mesmo nada sabemos sobre aqueles tantos outros que não chegaram a declinar sobre as próprias.

Se consideramos a evolução cronológica, onde a adolescência tem o seu início depois da puberdade e que termina na idade adulta, penso que podemos colocar a questão da seguinte maneira: " a puberdade é uma crise plenamene individual, não causando nenhum tipo de problema no âmbito social. Portanto, não é permeável pela situação sócio-histórica. Já a adolescência tráz consigo a possibilidade de criar um conflito geracional. Esse conflito entranha em seu bojo os seus valores, e a ausência dele representa uma anomalia, ou em outras palavras, ' um sintoma desfavorável ' ".

Um dos casos de Freud, considerado como tendo sido "não fracassado", foi o de Catharina. Esse caso foi citado nos "Estudos sobre a Histeria". Lembramos que o contato de Freud com Catharina ocorreu em apenas um dia, através de um pedido feito diretamente por ela.

Em se tratando de adolescência, já que muito pouco Freud contribuiu, fomos encontrar em Winnicott uma maior contribuição. Em geral, nos recorda o fato evidente de que a adolescência tem a sua duração, e que a passagem do tempo se constitui em seu remédio natural. De qualquer maneira, nem tudo é tão simples assim. Winnicott não deixou de perceber esse fato em momento algum. Esta crise comporta riscos e pode terminar de forma negativa.

Muitas abordagens sobre a própria esquizofrenia apontam para um impedimento na resolução da crise da adolescência. Winnicott observa que o adolescente requisita não só ser comprendido, mas sim que isso venha acompanhado de uma atitude. Um ponto absolutamente indispensável para ser levado em consideração, é o complicado jogo das identificações( Ver o capítulo III do trabalho de Freud sobre "O Ego e o Id"). Ainda segundo esse autor, o ego no momento da adolescência deve fazer frente a um novo impulso do Id. Na maior parte das análises de adolescentes, a demanda ocorre diretamente por parte dos pais do paciente. O desfecho pode vir a ser satisfatorio, desde que o analista não se coloque como uma espécie de aliado da família nem mesmo como um defensor ferrenho do adolescente contra a autoridade parental. Para Winnicott, a sociedade deve aceitar as crises da adolescência como sendo um fato normal, abstendo-se de tentar controlá-las. Em suas próprias palavras, a sociedade não é suficientemente sã para que confiemos nela nesse domínio.

Voltando ao tema das identificações, observamos que a complexidade dos problemas a ela inerentes é o que torna difícil a construção de uma teoria psicanalítica da adolescência. O sujeito está fadado a condenar as suas identificações anteriores. Tem plena consciência de que já não é mas uma criança, sabendo que também não é ainda um adulto. Com frequência encontramos a seguinte citação: quando o adolescente começa a perder as suas antigas identificações, passa a ficar revestido de uma espécie de algo "emprestado", ao modêlo de uma "prótese". Nesse sentido, as suas próprias roupas parecem não ser mais suas, fato que também acaba ocorrendo com as suas próprias opiniões. Fala como se estivesse expressando um discurso que não lhe pertence, mas que teria tomado "emprestado". Podemos entender então, que o ego é a somatória de vários outros. Ao tentarmos fazer uma espécie de resgate do construto teórico freudiano, lembramos que Freud citou por várias vezes que: "o caráter do ego é um precipitado de identificações". Toma aquí o termo "precipitado" da ciência Química.

Ressaltamos que o adolescente não abandona totalmente as suas identificações anteriores, ou em outras palavras, ele não abandona totalmente aqueles objetos tomados por empréstimo. Acaba modificando-os até integrá-los como se fossem seus.

Em suma, a complexidade do tema é tamanha, que podemos nos defrontar com a seguinte situação desfavorável: o analista pode estar identificado com um analista, que por sua vez encontra-se identificado com outro analista. Notamos que o complicado jogo das identificações afeta diretamente também o analista, referindo-se à sua própria adolescência. Por mais que o profissional detenha um conhecimento teórico abrangente sobre a temática da adolescência, se não puder entrar em contato retroativo com a sua adolescência, não poderá ser de muita ajuda para ao paciente que lhe solicita, uma vez que não poderá se valer de seus recursos contratransferenciais.

Para finalizar, citamos os objetos tomados por empréstimo, os quais passaram por uma 'escolha' por parte do sujeito. Assim, falamos que o processo identificatório ocorre simultâneamente às escolhas objetais, e devem ser analisados conjuntamente. Esse é um fato de crucial relevância e poderá ser observado na clínica dos adolescentes. Freud nos aponta a direção,onde um menino para que venha a ser um homem,terá que ter amado profunda e "homossexualmente" ao seu pai. Assim, simultâneamente, o escolhe como objeto de amor e se identifica com ele.

Para finalizarmos, gostaríamos de retomar o dito por Winnicott no parágrafo VII deste trabalho: "O adolescente não quer apenas ser entendido, mas que essa compreensão venha acompanhada de uma atitude. Desde a óptica psicanalítica, o analista de adolescentes deve funcionar metafóricamente ao modêlo de um "elástico", o qual embora flexível, possui limites bastante firmes( Eduardo Kalina).

Bibliografia Auxiliar:

Aberastury, Arminda: Adolescência Normal.

Aberastury, Arminda e Knobel, Maurício: Adolescência.

Acesso à Plataforma

Assine a nossa newsletter