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Mentes com Esquizofrenia

Primeiramente, gostaria de parabenizar a autora da novela “Caminho das Índias”, Glória Perez, pela abertura que fez ao tratar do tema Esquizofrenia em rede nacional, proporcionando assim, um entendimento, mesmo que superficial, sobre as doenças mentais. O personagem que interpreta o portador da doença é o ator Bruno Gagliasso na figura de Tarso, um adolescente de classe média alta, que sofre de pressão por parte da família e começa a desenvolver sintomas esquizofrênicos.
Stênio Garcia faz o papel de seu psiquiatra e em um de seus surtos, já internado no Hospital Psiquiátrico, Stênio fala sobre a doença sem rodeios e como base, utiliza-se do livro “Mentes com Medo”, de Ana Beatriz Silva, que também merece congratulações pelas várias titularidades que tem escrito a respeito dos problemas de comportamento que acometem pessoas próximas a nós sem que saibamos interpretar ou nos precaver. Na ficção, o garoto, sem saber quem é de verdade (alterações de pensamento e comportamento), ouve vozes sem sentido (alucinação – sobretudo auditiva, delírio), vê deformações em seu corpo absolutamente normal, fica num estado que chamamos de “apatia”, ou seja, parado horas sem se mover falando pouco ou nada (embotamento social, com perda de contato com a realidade), entre outros como: ansiedade, impulsividade, agressividade, discurso desorganizado, etc. Houve negação da família, o que é comum, embora não contribua em nada além de colocar o doente numa situação degradante.

A Esquizofrenia é uma desordem cerebral crônica, grave e incapacitante. As experiências ou sintomas são tão aterrorizantes que podem acarretar medo, recolhimento ou agitação extrema do indivíduo. Habitualmente manifesta-se entre os 15 e os 25 anos tanto em homens quanto em mulheres, podendo igualmente ocorrer na infância ou meia-idade. Sabe-se que ainda não se tem uma causa única que possa ser aplicada para tal desordem e também, que existem vários tipos de esquizofrenia, tornando bastante difícil o seu diagnóstico.

Há sim, um conjunto de teorias e causas que tentam aplicar-se concorrendo entre si para um fim que justifique concretamente o aparecimento da doença. O mesmo acontece com a sua cura. No entanto, existem tratamentos potencialmente eficazes à base de medicamentos antipsicóticos (como Risperidona e Olanzapina, porém o custo da droga é alto se o fator sócio-econômico for relevante) e terapias diversas (como Terapia Ocupacional, Musicoterapia, Psicoeducação, Intervenção Familiar) para o controle dos surtos, principalmente quando em estágio precoce, favorecendo o prognóstico (quando acompanhados por pessoas capacitadas) e proporcionando ao paciente uma vida quase normal.É importante que o tratamento seja contínuo, ou seja, é extremamente necessária a adesão do paciente ao tratamento e por certo, de sua família também.

É útil para todos que convivem com o doente, ter conhecimento sobre a doença e os seus sintomas com o intuito de que o conhecimento possa modificar a forma de encarar a doença. O paciente terá um papel ativo e os demais, colaborativo fundamental de controle sobre a mesma, tendo em vista que a doença pode aparecer e desaparecer em ciclos de recidivas e remissões. E há a possibilidade de entre um intervalo de uma crise a outra, desencadear um quadro de Depressão em função dos estigmas que teve que carregar, a vergonha perante as pessoas, o sentir-se anormal.Outro fator que vale ressaltar a atenção é a comorbidade entre Dependência Química e Esquizofrenia.   

Uma das explicações para o abuso de substâncias em esquizofrênicos é a busca de alívio para efeitos colaterais dos antipsicóticos, como a falta de prazer por exemplo. A nicotina é a droga mais prevalente entre esquizofrênicos, em parte por ser legal e pela facilidade de acesso, mas também porque o efeito da nicotina no cérebro pode aliviar alguns déficits cognitivos. O uso da maconha também é freqüente e ela possui o pior efeito dentre todas as demais. Estudos com ressonância magnética mostraram que com o uso de maconha a perda de substância cinzenta cerebral é até duas vezes maior do que o habitual.

O uso crônico de drogas concomitantemente com os medicamentos psicóticos exacerba os sintomas negativos e cognitivos, prejudicando ainda mais a recuperação da pessoa no sentido de uma vida produtiva e plena.  

Se você conhece alguém dentro ou fora da sua família que precise de uma orientação no sentido de compreender a Esquizofrenia, faça a sua parte, instruindo-o a consultar-se com um psiquiatra e se tiver maior nível de intimidade com esta pessoa, converse abertamente sobre a doença. Embora pareça incomum e assustadora, é simplesmente uma desordem cerebral que pode ser equilibrada sem causar risco a si próprio ou à sociedade. Quanto antes a pessoa se dispõe ao tratamento, mais facilmente e rapidamente ela poderá estar inserida numa vida que a proporcione trabalhar, estudar, viajar, interagir com o mundo a sua volta saudavelmente.

Ana Paula Polato
Psicóloga Clínica

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