A subversão que Lacan quer indicar e debater é a subversão do sujeito cartesiano, com sua presumida identidade da subjetividade e do pensamento consciente. A ruptura instituída pelo saber trazido por Freud e que teve sua continuação com a psicanálise de Lacan, interrompe a marcha autárquica do saber grego e ocidental, com a vinda em cena da noção de Outra cena.
O prêmio, o objeto secreto e cobiçado pelo pensamento ocidental, a questão da verdade, com a ínsone atividade de produção de ferramentas no interior da oficina da filosofia para atingi-la, sofre assim, a partir do saber da psicanálise, uma difração considerável.
A questão da verdade, enquanto telos e justificativa da empreitada da filosofia, agora é considerada como somente sendo um processo que deve levar em consideração, inicialmente, que a verdade somente é acessível por um meio dizer, que ela não pode ser inteiramente dita porque, para além de sua metade, não há nada a dizer. Tudo o que se pode dizer é isto. Aqui, por conseguinte, o discurso se abole.
Para Lacan, não se fala do indizível, por mais prazer que isto pareça dar a alguns. Para Lacan, o elemento ficcional que nos impulsiona a perseguir o saber, como se estivéssemos no caminho de encontrar verdades eternas, deve ser localizado em nossa herança cristã. Este horizonte metafísico do cristianismo, que institui um mundo de essências a atingir, coloca e auto-legitima a marcha do arsenal do saber filosófico, em sua tarefa de, através do pensamento, produzir um saber sobre a verdade. Lacan radicaliza o estatuto do procedimento do pensar. Para ele os homens só pensam raramente. Neste sentido, é absolutamente pertinente sua crítica aos filósofos que desconheceram o fato de que a realidade humana é irredutivelmente estruturada como significante.