Ludmila da Silva Tavares Costa;
Rosana de Fátima Possobon.
Departamento de Odontologia Social, Área de Psicologia Aplicada, Centro de Pesquisa e Atendimento Odontológico para Pacientes Especiais, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas.
As crianças podem manifestar o medo do tratamento odontológico por meio de comportamentos de não colaboração. Estes comportamentos podem ser considerados respostas típicas de estresse, ou seja, conseqüências comportamentais da exposição a estímulos aversivos. Isso sugere a necessidade da realização de intervenções psicológicas a fim de diminuir o nível de estresse da criança exposta à situação odontológica. O objetivo deste estudo foi investigar a eficiência da estratégia psicológica de introdução gradual ao tratamento, com sessões planejadas para a adaptação da criança à situação, visando a diminuição do nível de estresse, verificado pela variação do nível de cortisol salivar e pelo aumento do grau de colaboração do paciente durante o tratamento preventivo. A amostra foi composta por 10 crianças (40-52 meses) participantes dos programas oferecidos pelo Cepae-FOP-Unicamp que manifestavam comportamentos de não colaboração durante os procedimentos odontológicos preventivos. As sessões experimentais foram planejadas com passos de aproximação sucessiva ao objetivo final, que era a realização de todos os procedimentos preventivos com colaboração da criança. Os resultados mostraram diferença significativa entre a média de comportamentos de não colaboração emitidos pelas crianças nas sessões inicial (44,6 ± 16,72) e final (5,40 ± 3,92) e diminuição da média da concentração de cortisol salivar entre a consulta inicial (0,65 ± 0,25 µg/dL) e final (0,24 ± 0,10 µg/dL). Após as sessões de introdução gradual ao tratamento, houve diminuição significativa dos comportamentos não colaboradores tais como movimentos de corpo e recusa em sentar na cadeira ou abrir a boca, evidenciando a eficiência da estratégia. Conclui-se que a atuação de um profissional de Odontologia, preparado para lidar com questões comportamentais, pode contribuir para diminuir o grau de aversividade relacionada à situação de tratamento, melhorando o comportamento da criança durante a realização dos procedimentos clínicos e evitando a sua exposição à situações estressantes.