O objetivo deste trabalho foi fazer uma análise qualitativa do discurso de pacientes com algum tipo de síndrome demencial sobre suas percepções subjetivas de como é estar em uma clínica geriátrica. O público eleito encontra-se internado sob regime de longa permanência em uma instituição particular da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro e é assistido em diversos os aspectos da vida, como moradia, lazer e alimentação. Entre alguns detalhes relevantes, nenhum idoso possui autorização para ir à rua sozinho e a degeneração encefálica que caracteriza sua doença faz com que tanto o discurso como ambiente sejam permeados e repletos de psicopatologias, como delírios, alucinações, etc .
Os resultados ilustraram que 61% dos pacientes sentem-se felizes no ambiente e 39% relataram desconforto ; 55% não revelaram aversão à idéia de idosos residirem em casas geriátricas e 45% discordam de tal opinião . Com relação às perguntas que versam sobre o futuro, 33% dos idosos o consideraram como positivo. Houve até o relato de que “do jeito que está não deve ser melhor”, porém, quando lhes foi dada a oportunidade de fantasiar sobre um lugar ideal para se morar quando mais velho, 67% elegeram bons lugares como “um jardim onde pudesse andar, ficasse andando”.
A partir do exposto, pôde-se perceber que a análise de palavras-chave da respostas ilustra um idoso contente com sua situação concreta, porém, esse contentamento parece ser mais da ordem da fantasia do que da situação real. Essa conclusão é vista, pois 100% dos idosos falaram sobre suas famílias e demonstraram ter a crença irrefutável de que o ambiente que habitam hoje possui alguma relação com seu histórico de vida: amigos, parentes, lugares e situações foram revividos (mentalmente) na instituição.
O delírio que o idoso produz enquanto internado serve como uma fuga de sua situação atual, um remendo no lugar em que originalmente uma fenda apareceu na relação do ego com o mundo externo , assemelhando-se à fantasia que é produzida pelos indivíduos em situações comuns e cotidianas. Na ausência do delírio, o idoso teria de confrontar-se com a realidade de viver numa instituição na qual é constantemente vigiado, cuidado e distante de seus familiares e de sua história pessoal. Destarte, concluímos que a impossibilidade de conteúdo , critério utilizado para o diagnóstico de delírio, acaba por ser a única possibilidade de vida saudável do público pesquisado, o que gera a dúvida de que no delírio também haja um aspecto mantedor da vida psíquica daqueles submetidos a instituições totais.