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Neurocientista nega que cérebro humano seja formado por “casinhas isoladas”

O cérebro humano não é formado por "casinhas" isoladas, cada uma com a responsabilidade de controlar diferentes funções do corpo –na realidade, nossas atividades são definidas em múltiplas partes do órgão. A afirmação é do neurocientista paulista Miguel Nicolelis, que trabalha na Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), e participou de sabatina promovida pela Folha.

 

O cérebro humano não é formado por "casinhas" isoladas, cada uma com a responsabilidade de controlar diferentes funções do corpo –na realidade, nossas atividades são definidas em múltiplas partes do órgão. A afirmação é do neurocientista paulista Miguel Nicolelis, que trabalha na Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), e participou de sabatina promovida pela Folha.

 

Com isso, ele se opõe aos estudos de Korbinian Brodmann sobre organização cerebral, que completam cem anos em 2009. "Estamos à beira de dizer que isso é balela", afirmou Nicolelis. Na visão do brasileiro, as funções do corpo não são determinadas "pela geografia", mas sim "pelas demandas que se impõem ao cérebro". "Se a pessoa perde a função visual, a função táctil se distribui para todo o córtex cerebral –inclusive para o córtex visual", diz.

Segundo o neurocientista, o cérebro tem a função de "remapear o mundo". "A plasticidade é inerente à dinâmica do cérebro, misturando múltiplas visões", informou.

Durante a sabatina, Nicolelis apostou no potencial da interação entre o cérebro humano e as máquinas, abrindo a possibilidade para que alguém "pense" em um lugar e uma ação seja desencadeada por um instrumento em uma localidade distante.

"O nosso alcance vai mudar, no longo prazo, nossa noção de ambiente, de presença física", afirmou. "É como se houvesse uma incorporação ao corpo", afirma. Segundo ele, isso será possível por meio da interação entre as máquinas e o cérebro humano –que passaria a considerar aparelhos, mesmo que estivessem distantes, como se fossem parte do ser humano.

Para isso, é preciso que o cérebro receba e "entenda" os sinais emitidos pelos aparelhos e vice-versa. Segundo ele, isso não está muito longe. "No caso de um tenista, já é como se o cérebro entendesse a raquete como uma parte do corpo", diz.


Lado negro

Essas inovações dão motivos para que os mais alarmados pensem que a espécie humana está próxima de ser subjugada a artefatos tecnológicos que ela própria criou. Entretanto, na visão do neurocientista, não é o caso de se preocupar. Nicolelis vê que grande parte do medo das pessoas em relação à ciência –ou de seu "lado negro"– vem da falta de informação.

"Não podemos mais aceitar uma ciência tão longe da sociedade, que seja algo tão distante, místico, alienado da população", afirma ele. "Não perco uma noite de sono pensando no risco de a tecnologia nos aniquilar."

De acordo com o pesquisador, depois da 2º Guerra Mundial, a mídia, os filmes e a literatura contribuíram para que a ciência fosse vista como algo misterioso, próximo dos filmes de ficção científica, em que as invenções podem ser usadas para o mal. Na visão dele, tudo, em tese, pode ter esse fim.

"Na Faculdade de Medicina eu aprendi 34 meios de fazer procedimentos cirúrgicos usando uma caneta Bic. Aprendi a fazer traqueostomia com uma Bic. Dá para fazer coisas piores."

Interação

Nicolelis também ressaltou aquilo que denominou de "globalização do bem" na ciência, permitindo o intercâmbio e encontro de cientistas de diversas nacionalidades.

O maior exemplo dessa "globalização científica" foi dado quando, ao ser questionado se a pesquisa publicada na revista Science deveria ser considerada como brasileira, Nicolelis afirmou que "o cara que teve a ideia nasceu na Bela Vista [bairro paulistano], mas um dos autores é chileno, outro alemão, outro americano. A ciência não é de ninguém, é da humanidade", observou.

Nicolelis chefia um grupo de 30 pesquisadores no Centro de Neuroengenharia da Universidade Duke. Ele pesquisa as possibilidades de integrar o cérebro às máquinas. Busca o desenvolvimento de próteses neurais para a reabilitação de pacientes que sofrem de paralisia.

No ano passado, a equipe conseguiu fazer um robô de 80 quilos e um metro e meio de altura andar usando apenas a força do pensamento de uma macaca. Detalhe: o animal estava em um laboratório na Carolina do Norte, EUA, e o robô estava no Japão.

Os experimentos são avanços na criação de uma interface entre cérebro e máquina que permita a pacientes paralisados andarem ou se movimentarem, guiando membros mecânicos apenas por meio de ondas cerebrais.

Entretanto, o foco de sua pesquisa é criar opções de tratamento para esses pacientes, e não, desenvolver uma cura. "Você não trata a lesão original, mas cria desvios para permitir uma reabilitação motora", diz. Um exemplo disso é a possibilidade de criação de uma veste robótica, totalmente movida por meio das ondas cerebrais, para permitir que pessoas com paralisias ganhem de novo o potencial de movimento.

Fonte Folha Online
Adalberto Tripicchio (administrador)

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