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Pos-modernidade a realidade virtual, e as barreiras da liberdade na cultura da “cerveja sem álcool”

“não se quer apenas ser compreendido, quando se escreve, mas, do mesmo modo, também não ser compreendido”. NIETZSCHE,F., A gaia ciência, p.381
O mundo virtual, a realidade simbólica, afasta o eu do outro, o tornando “Outro” ainda mais distante do Eu, e do Outro lacaniano. Ao se deparar com esse outro distante e tentar encontrá-lo no eu, percebe que, o rei só é rei porque seus súditos o tratam como tal, mas o reinado desmorona quando o rei percebe; aquele que realmente crê ser um rei é nada mais que um “louco”. Esse outro é fruto da realidade virtual, da realidade sem o ser, o mundo Matrix.
 
A hipermodernidade,as sociedades pos-idustriais,onde uma mobilização frenética onde “tudo que é solido desmancha no ar”Karl Marx O Manifesto Comunista, encobre a mesmice básica do capitalismo globalizado. Tornando a pos-modernidade um paradoxo, onde a liberdade de pensar, de escolher “ser ou não ser” engessa a própria liberdade. na falta de verticalidade ,na quebra dos padrões,se fez um só.
 
Fundamentalista como todo os sistemas patriarcais, a sociedade pos-moderna virtual tem
como verdade absoluta o livre comercio,o livre pensamento,a livre escolha que nada mais é que um unifundamentalismo global,onde se espera fazer uma revolução sem revolução, onde se deseja a catástrofe mundial como uma gota de sangue do Real, como o corte feito pelos jovens para sentir o alivio da dor,transbordando o real e ligando o ator ao corpo,e a dor da realidade Real.pois não queremos a morte, não morremos pela causa,queremos ir ao limite e dele não passar.queremos chegar perto do fim mas não acabar, quase tocar o Real e sentir sua dor, como justificativa do mundo virtual da realidade ilusória, ou seja, do corte sem morte, da cerveja sem álcool, do café descafeinado, do cabelo bagunçado feito mecha por mecha, do doce sem açúcar, ou seja, o bem sem o mal, como afirma Slavoj Zizek em Bem vindo ao deserto do real!
 
“a realidade virtual simplesmente generaliza esse processo de oferecer um produto esvaziado de sua substancia: oferece a própria realidade esvaziada de sua substancia, do núcleo duro e resistente do real – assim como o café descafeinado tem o aroma e o gosto do café de verdade sem ser o café de verdade, a realidade virtual é sentida como a realidade sem o ser.mas o que acontece no final desse processo é que começamos a sentir a própria “realidade real” como uma identidade virtual.
 
 
A realidade pos-moderna nos distancia do Real disforme, em sua forma bruta, que não pode ser adequada aos símbolos, muito menos formulada por palavras. Esse Real que vem forte, que choca, que dói e fascina. Se tornando uma forma de justificação a realidade, o perfil do Orkut onde se pode ser o “pintudo” sem castração, onde se pode ser tudo, brilhante como photoshop, mas ilusório e artificial como na economia, onde se constrói um mundo sobre uma ponte vazia, um mundo no qual ao ser colocado diante do espelho não se aceita ,não quer viver o torto ,quer esconder o vazio, esquecê-lo, encobri-lo. Dessa forma, aceita ser sujeitado, aceita que falem por você, aceita que lhe dêem voz, para que as interprete e siga uma linha imaginaria. Mas a angustia é real , e o ser pos-moderno ainda não soube aceita-la e reconhecê-la como elemento único fundador da criatividade humana, a angustia é a principal diferença entre você e seu cachorro. O ser na tentativa de castrar a angustia, construiu um mundo virtual, construiu personagens sobre si mesmo, interpretou tais papeis e passou a acreditar na realidade artificial como real e ver o real como artificial , construindo verdades absolutas e embutindo essas no signo da liberdade, não soube fazer do eterno vazio metamorfoses criativas.pelo contrario, se sujeitou  a estagnação, ao engessamento aos novos padrões que confunde mundos reais e virtuais, e usa a liberdade como algemas dessa mesma.
 
“Em termos gerais, podemos afirmar que o livre pensamento é a melhor de todas as salvaguardas contra a liberdade. aplicada conforme o estilo moderno, a emancipação da mente do escravo é a melhor forma de evitar a emancipação do escravo. basta lhe ensinar a se preocupar em saber se quer realmente ser livre, e ele não será capaz de se libertar”. Gilbert Keith Chesterton,Orthodoxy,San Francisco,Ignatius press,1955 p114
 
O individuo pos-moderno,o jovem popular,o perfil do Orkut ambulante, ,tem conhecimento do seu Eu,mas tem medo deste,e o esconde em arquivos secretos,que são deletados.mas,um dia esse lixo se volta contra seu produtor ,se joga sobre ele de forma grosseira e marcante ,trazendo-lhe o Real,castrando-lhe,muita coisa pode desencadear tal castração,principalmente aspectos físicos,considerados como defeitos.já a sociedade como um todo se confronta com seu lixo ,e sonha com o encontro desse como em uma espécie de circulo vicioso no qual a sociedade precisa de sentir o Real como reafirmação para o artificial ,para que digam – porque fazem guerra,porque matam ,porque não nos deixam em paz.- dessa forma o Real serve como “mal” necessário para reafirmação do “bem”,assim como  cantou Raul seixas  “nunca se vence uma guerra lutando sozinho” e ainda lembra o cantor que “a guerra é produto da paz”.

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