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Mais alguns apontamentos sobre o “bullying”

Bullying é uma palavra de origem inglesa que expressa o ato ou efeito de abusar, bulir. O termo é empregado para definir o fenômeno da violência entre estudantes no ambiente escolar, ou ainda, “quando um jovem é alvo de ações negativas” (STOPBULLYINGME, 2004). Esta violência pode ser física, verbal ou simbólica. Exemplos: intimidação, furtos, ofensas verbais, agressões físicas (inclusive sexuais), ofensas via Internet – toda a gama de ações popularmente intituladas no Brasil de zoeira. Há ainda quem prefira categorizar (id.) as ações classificadas como bullying em três gêneros: “alienação social” – comentários depreciativos, exclusão de um grupo, racismo, homofobia etc.; “intimidação” – furtos, esconder objetos, gestos obscenos, extorsão etc.; e finalmente “agressões físicas” – golpes, assédio sexual, vandalismo etc. Tal fenômeno ainda é pouco estudado; pesquisas acerca do assunto concentram-se basicamente na América do Norte e Europa, apontando grande ocorrência tanto no (equivalente ao) Ensino Básico quanto no Ensino Médio.
É um fenômeno difícil tanto para se estudar quanto para lidar-se na escola: as vítimas geralmente não relatam os abusos sofridos nem para os pais nem para os educadores, podendo sofrer as agressões ao longo de toda sua vida escolar. Outra dificuldade é diferenciar as ofensas que de fato humilham ou ferem suas vítimas daquelas comuns, pelo menos em nossa cultura, entre crianças e adolescentes (“xingar de brincadeira”, brigas de futebol, tratamento rude como parte da “camaradagem” entre amigos do sexo masculino etc.) (id.). O bullying entre meninos seria caracterizado por agressões diretas, verbais ou físicas, intimidação, pequenos furtos. Entre meninas, agressões verbais geralmente indiretas – calúnias, fofocas etc. (dados relativos à pesquisas realizadas nos EUA e Canadá) (id.).

No Brasil, uma importante pesquisa realizada por equipe chefiada por Wanderley CODO aponta grande ocorrência desse fenômeno no Brasil, tanto em escolas públicas quanto privadas, sendo mais intenso nas escolas de cidades de grande porte. Em nosso país as modalidades mais freqüentes de vitimização foram o furto de objetos de pequeno valor (48,1% dos alunos), ameaça de agressão (36,5%), pertences danificados (33,1%) e agressão física (4,6%). A pesquisa apontou também que o fenômeno não é evitado a partir de medidas de segurança interna aos estabelecimentos (SPOSITO, 2001). As vítimas mais freqüentes de bullying são aqueles intitulados nos EUA como “losers”, isto é, “perdedores”. Alunos tímidos, com certas características físicas consideradas “feias” (uso de óculos ou aparelho ortodôntico, ser obeso ou muito magro, cicatrizes, acne etc.), negros, latinos, homossexuais etc (STOPBULLYINGME, 2004).

Os algozes ou bullies teriam como características freqüentes: força física aparentemente superior aos demais, proveniência de famílias em conflito, ser ou querer fazer-se popular entre os outros colegas, vontade em manter seus interesses acima dos colegas etc. Contudo, tais características não conduzem necessariamente um aluno a ser um bullie (id.). As conseqüências do bullying para aqueles que o sofrem incluem, dentre outras: • Diminuição da auto-estima, podendo inclusive levar à depressão e, em casos extremos, ao suicídio; • Recusa a freqüentar a escola; • Diminuição do rendimento escolar; • Isolamento (ALBERTA, 2006). Pesquisas na Europa e Estados Unidos apontam correlação entre o bullying e os tiroteios em escolas (dentre os quais o mais famoso caso é o de Columbine). Segundo essas pesquisas, boa parte daqueles que foram os autores desses tiroteios sofriam bullying e incluíram entre suas vítimas alguns daqueles que teriam sido seus “bullies”. Assim, o school shooting seria uma desforra (através de uma atitude extrema, que na grande maioria dos casos inclui o suicídio do autor) de uma longa série de humilhações que o aluno teria passado ao longo de sua vida escolar (RUIZ, 2003). Cada pesquisador aponta diferentes soluções para o problema, que passa por maior vigilância, disciplina mais estrita, campanhas de conscientização, incentivo à denúncia de bullies, entre outros.

No Brasil, foi criado um programa anti-bullying por uma parceria entre a Petrobrás e um grupo de escolas do Rio de Janeiro. Este programa consistia basicamente em cinco etapas: 1. Levantamento de dados: antes de os alunos receberem qualquer informação sobre bullying, realizar um levantamento de dados, que, assim, será mais espontâneo. Esses dados ajudarão a traçar as estratégias para lidar-se com o problema. 2. Formar um grupo de trabalho, com pais, professores, funcionários, alunos e pais. Este grupo irá definir, a partir dos dados coletados, quais estratégias adotar. 3. As propostas definidas por este grupo de trabalho podem ser submetidas a toda comunidade escolar, afim de que surjam sugestões e críticas ao trabalho. 4. Definição de compromissos que devem ser assumidos por toda comunidade escolar. 5. Divulgação acerca do tema, afixando cópias dos compromissos assumidos por toda escola (BULLYINGBRASIL, 2002). Este programa, por fim, foi aplicado apenas em uma escola no município do Rio de Janeiro e, posteriormente, abandonado pela Petrobrás. Pesquisas sobre o assunto têm surgido no Brasil nos últimos cincos anos.

Contudo, seus resultados ainda são incipientes. Problematizar seriamente a questão do bullying é uma necessidade para que se construa uma escola realmente democrática, com um ambiente livre para o aprendizado e o desenvolvimento da criança e do adolescente.

Referências bibliográficas:

ALBERTA, M. M. Comportamiento antisocial en los centros educativos. [on-line] Acessado em 20/11/2006. Disponível na World Wide Web:

BULLYINGBRASIL. Programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. [on-line] Acessado em 19/11/2006. Disponível na World Wide Web:

RUIZ, J. I. (2003) Psicología forense de los francotiradores em la escuela: formulación de hipótesis para la investigación. [on-line] Acessado em 19/11/2006. Disponível na World Wide Web:

SPOSITO, M. P. (2001) “Um breve balanço da pesquisa sobre violência escolar no Brasil”. In: Revista Educação e Pesquisa. v. 27, n. 1, jan/jun 2001. São Paulo, Edusp.

STOPBULLYINGME (2004). What´s bullying? [on-line] Acessado em 20/11/2006. Disponível na World Wide Web:

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