Por exemplo, no caso de sensações internas conscientes ou inconscientes que levem o cliente a sentir e relatar “receio” ou despeito de certos afetos alheios em função de não serem exclusivamente para eles, podemos dizer singelamente, que este cliente está sentindo e vivenciando uma gama de relações comportamentais que trazem como sub produto o rótulo do sentimento de ciúmes (uma espécie de generalização de vários comportamentos), o que não significa que tal sentimento seja um repertório de comportamentos 100% contingentes e reais, pode certamente estar sob efeito de relações de contigüidade alterando na mesma proporção das relações contingentes, as regras / cognições deste cliente na forma de atuar no mundo.
Contingente ou contiguo, o cliente que busca ajuda em psicoterapia para trabalhar o sentimento de ciúmes, já está dando dicas que estas relações com o mundo estão de alguma forma gerando estimulação aversiva, freqüentemente rotulada e manifesta como “dor e sofrimento”. Não é papel do psicólogo, independente de vertente teórica, ingressar em discussões de valores, bem como certo x errado, verdadeiro x falso, entre outras.
Há décadas, as vertentes teóricas de psicologia trabalham direcionando suas técnicas à amplitude da promoção de saúde, qualidade de vida, prevenção e tratamento de psicopatologias e não apenas à modificação de comportamentos alvos ou isolados taxados por instituições, sociedades ou agências controladoras como certos x errados. Tendo em vista o sentimento de ciúme como algo doloroso trazido como queixa pelo cliente em clinica comportamental, o psicólogo rapidamente iniciará junto a ele, uma série de avaliações funcionais que tragam à consciência do mesmo, a sua forma particular de agir no mundo, de agir junto as demais relações sociais e afetivas e que tipo de conseqüências são geradas nestas ou em formas alternativas de se relacionar, que possam de alguma forma, trazerem comportamentos adjuntos traduzidos como “dor e sofrimento” ou como “prazerosos ”.
Como dito anteriormente, o ciúmes tenderá a aparecer em algumas situações cujo afetos (reforço) não serão apresentados ao cliente, como se isso não bastasse, em concorrência, o reforço que era do cliente, será apresentado a alguma outra pessoa. Tal cliente, a depender de sua história de regras / cognições, interpretará ações do parceiro como algo aversivo ou neutro (relações contingentes x contiguas), concepção que vai de encontro com outras abordagens de psicologia, como evolucionistas Daly, Wilson & Weghorst (1982, citados por Buss, 2000), onde o ciúme consiste em um estado que é despertado por uma ameaça percebida para uma relação ou posição valorizada e motiva comportamento apontado para se contrapor à ameaça, por Pines (1992), representante da Psicologia Social, onde o ciúme é uma reação a uma ameaça percebida – real ou imaginária – a uma relação valorizada ou de sua qualidades e pela própria abordagem comportamental em De Silva (1997), definindo o ciúme como uma espécie de expectativa / apreensão ou sinalização em perder o parceiro, o seu lugar de afeição por parte do mesmo, e assim por diante.
Skinner (1991), ainda pela ótica da analise do comportamento defende que o ciúme enquanto gama de relações de eventos privados, do tipo sentimento, é produto tanto de condicionamento reflexo como operante. O condicionamento reflexo dá conta de explicar as reações fisiológicas que são sentidas quando um indivíduo descreve estar com ciúme, por exemplo, quando o cliente diz que está se sentindo um “lixo”, sensação de nó na garganta, outras. O mesmo autor e Tourinho (1997) defendem que o condicionamento operante permite compreender como se estabelecem as relações entre o que ocorre fisiologicamente com o indivíduo e o que ele faz quando está diante dessa sensação, assim como tentar avaliar funcionalmente o que e por que faz o que faz.
Cabe ao terapeuta, discutir e refletir junto ao cliente, não apenas as ações dos seus parceiros (ou falta delas), mas as suas propriamente ditas (ou falta delas), como é a intensidade, a magnitude, a proporção, o contexto e freqüência destas, e assim por diante. Discutindo tais ações, estratégias de modelagem de regras e comportamentos operantes, estabelecimento e fortalecimento de vínculo terapêutico, remoção de estímulos aversivos, promoção e acesso de reforçadores positivos, ampliação de quadros relacionais, propostas de aceitação e compromisso, entre outras, entram em cena de forma personalizada, ou seja, o ciúme pode ser algo generalizado tratado em sociedade, taxado como certo x errado por agências controladoras, pode ter um valor evolucionista filogenéticamente, mas, sendo o homem é único em sua complexidade e totalidade, evitar-se-á o julgamento de valores, afim de que os manejos clínicos – comportamentais focados neste tipo de sentimento possa tomar forma positiva na vida do cliente e das pessoas com o qual ele se relaciona.
Exemplos de algumas relações e topografias que compõe o ciúmes e podem vir a ser objeto de trabalho em clinica:
Fazer inúmeras perguntas a (o) parceira (o);
Proibir de sair;
Brigar pelo afeto que foi direcionado a um terceiro;
Proibir determinadas amizades;
Proibir determinadas vestimentas;
Agressão física ou verbal direcionada à relação do parceiro com terceiros;
Sentir-se ameaçado pela relação (por exemplo amizade) do parceiro com outros;
Sensação de haver um rival real ou imaginário;
Sensação de perda do objeto amado e / ou de seus reforçadores;
Depressão;
Raiva;
Desejo de eliminar o possível rival;
Baixa auto – estima;
Etc.
Bibliografia
Buss, M.D. (2000). A paixão perigosa. Rio de Janeiro: Objetiva.
De Silva, P. (1997). Jealousy in couple relationships: nature, assessment and therapy. Behaviour Research and Therapy, 35, (11), 973-985.
Pines, A. M. (1992) Romantic jealousy – the shadow of love. Psychology Today, 25 (2), 48-55.
Skinner, B. F. (1991). Questões recentes na análise comportamental. Tradução de A.L. Neri. Campinas: Papirus. (trabalho original publicado em 1989).
Tourinho, E.Z. (1997). Eventos privados em uma ciência do comportamento. Em R.A. Banaco (Org), Sobre comportamento e cognição: aspectos teóricos, metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista, vol.1. (pp. 174-187). Santo André: ESETec Editores Associados.