O agricultor rega o solo. Aduba-o. Afofa-o. A mulher ajuda o útero alimentando-se, cuidando-se, fornecendo ao útero o que este precisa. Mas a mulher e o agricultor não PROVOCAM o trabalho do útero/solo, nem PRODUZEM aquilo que deles surgirá. O psicoterapeuta não CURA o paciente. Apenas lhe proporciona um tipo de ajuda muito especial. O psicoterapeuta SABE o que atrapalha o paciente/semente de criar a si mesmo. E o ajuda a livrar-se disso que atrapalha. Dizendo as coisas que diz, ou calando-se para deixar o paciente/semente se expressar, se manifestar, o psicoterapeuta alimenta/aduba, possibilita/afofa o solo/útero de que o paciente precisa. Porque, se o paciente não precisasse dessas coisas, não estaria lá, no consultório. Se o paciente não fosse uma semente que não teve chance de germinar por inteiro, não precisaria do psicoterapeuta. Se, por alguma razão, a mãe não conseguiu ajudar o bebê/semente a germinar e criar um ser humano, o psicoterapeuta pode ajudar.
No universo da psicoterapia há um termo errado: tratamento. Não se trata de tratamento. O paciente não está doente. O paciente é um ser que só cresceu do lado de fora. O lado de dentro continua uma semente. Que deve brotar no interior do paciente, assim como a semente brota no interior do útero/solo. Não é necessário FAZER o ‘dentro’ do paciente crescer. Basta AJUDAR. E ajudar significa: aceitar o fato de que o paciente ainda não cresceu. E colocar-se em contato com ele para que ele cresça.
Um outro ser humano funciona como útero depois que o bebê nasce. Pode ser a mãe. Mas tem que uma ‘mãe’. Como é a ‘mãe’? Quando a criança chega em casa suja da rua, o pai diz: ‘Vai se lavar’. A mãe diz: ‘Vem, eu vou te lavar’. O pai aponta o erro. A mãe aponta a solução. Então é preciso ser ‘mãe’ para ajudar a crescer. Porque crescer não é aprender a fazer certo. Crescer é descobrir como fazer certo. E descobrir só é possível com calma. Sem pressão. Sem culpa e sem vergonha. Criando um ambiente sem fazer pressão, o terapeuta cria o ambiente em que o paciente cresce. Como um útero, que nada pede e nada impõe. Apenas dá o que é necessário. É claro que dá trabalho – e como! Mas é isso, ou nada. FAZENDO o paciente crescer nós apenas o levaremos a se tornar parecido com o que consideramos bom.
Ele aprenderá a imitar os comportamentos que nos agradam, e a evitar aqueles que não nos agradam. Isso não fará dele um ser humano. Fará dele um clone. É que um ser humano é sempre original. Claro, aprende a jogar o jogo que todos jogam, mas essencialmente é original. E é a parte original que conta. Todo psicoterapeuta sabe disso a partir de si mesmo. Então por que com o paciente seria diferente? Não se pode ensinar ninguém a ser original. É necessário apenas compreender a importância dessa originalidade, e deixá-Ia brotar. É preciso entender que ser humano é algo único, irrepetível. Original. Quando plantamos girassóis, é girassóis que desejamos colher.
Quando um paciente se planta em nosso consultório, é um ser humano que desejamos que brote -, e nós não podemos colhê-lo, é ele que colherá a si próprio. Caso contrário não acontecerá uma psicoterapia, mas uma lavagem cerebral. Precisamos cuidar do paciente/semente, cuidar para que tenha suficiente água e bastante nutrientes, evitar que as ervas daninhas o sufoquem ou roubem dele o alimento e a água. Isso nós podemos fazer, e fazemos. Mas não FAZEMOS o paciente/semente brotar, nem crescer. ESPERAMOS QUE SUA PRÓPRIA NATUREZA CRESÇA E AMADUREÇA. Aí sim, agindo desse modo, estaremos permitindo que o girassol/semente se torne um girassol planta. Sem tentar fazê-lo tornar-se rosa, ou cravo, ou margarida. Ele cresce para ser ele mesmo. Ah, sim, depois ele poderá aprender qualquer coisa. E aprenderá rápido, mais do que se lhe ensinássemos. Se imaginarmos que o girassol sabe tornar-se inteiro, ele se tornará. Se imaginarmos que o bebê sabe tornar-se um ser humano, é o que acontecerá. E como é bonito quando isso acontece.