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Em defesa do papel da psicanálise na contemporaneidade

O que é normalidade ?  Somos seres únicos, apesar de vivermos em sociedade e termos de nos submeter à regras de conduta, moral e ética, que nos fazem prisioneiros de uma forma de viver, que hoje se confunde com aspectos culturais e sociais impostos pelo grupo no qual estamos inseridos.

Muitos problemas e patologias da atualidade são geradas pelo modo contemporâneo de viver.  

Estudos atuais mostram que hoje, o ser humano vive uma crise de identidade e perda de sentido de si mesmo. Ou como categoriza Baumann, (um dos maiores pensadores da atualidade) a sociedade líquida e o amor liquido.  Em busca de nossa afirmação, de não se perder na trama de insinuações coercitivas e segregadoras impostas pelos meios de comunicação, principalmente tv e hoje em dia a internet, o ser humano se agarra ao modo de vida cibernético, criando um mundo mais imaginário que real, vivendo uma verdadeira “vida virtual”.  Este novo modo de viver, não só é algo inevitável como também a sua perspectiva é promissora no campo da alienação humana. Claro que existem fatores positivos no uso da internet como instrumento de comunicação global, acessibilidade e democratização das informações, etc. Mas existe também o fator alienante na medida em que este meio vai tomando cada vez mais importância e por isso, acaba por exigir cada vez mais do tempo que se  dedica à ele, e isso por pessoas de todas as idades, sobretudo os jovens.
 
E por que disso tudo? O que nos motiva a estarmos cada vez mais conectados e cada vez mais “perdidos” no mundo virtual? A internet já é considerada por alguns como um novo “entorpecente” da sociedade moderna. Não é raro, jovens que ficam mais tempo conectado e vivendo suas fantasias narcísicas através de fakes em sites de relacionamento, ou mesmo quando não “falsos”, perfis verdadeiros, onde se vê facilmente a necessidade de afirmação e manutenção de uma imagem idealizada de si mesmo, como necessidade preemente.
 
E de onde vem essa necessidade ?  Se perguntarmos a alguém que fica mais de 12 horas por dia na internet, que ele está viciado, ele nega enfaticamente : “- Não estou, se quiser eu paro.”
 
Mas nunca “quer”… Esse é o ponto chave.   A pessoa “pensa” que pode conter-se, racionalmente mas continua a comportar-se da forma prejudicial a si mesma.  As motivações são inconscientes.  Partem da subjetividade de cada um, que pela pressão sócio-cultural, com objetivo de fazer-nos parte do grupo ( sociedade em que vivemos ), entram em conflito com nossas motivações inconscientes ( estas, nossas mais puras características pessoais ), geram os vários sintomas.  
 
Não somos iguais, mas a sociedade nos impõe que sejamos. È o ideal social.  Para sermos “normais”, ou melhor, estarmos no grupo que mais se aproxima da maioria, estamos bem, estamos certos, somos “bons”…    

E nessa ânsia de não ser negado pelo grupo, seguimos suas regras, e para descarregar nossas tensões psíquicas, geradas pelos conflitos entre nossas demandas psíquicas e a sujeição aos apelos mercadológicos à que estamos sujeitos pelo marketing do “descartável” contemporâneo, nos refugiamos em um mundo virtual ( fantasístico), onde podemos ser outra pessoa, ser quem quisermos, ser quem idealizamos ser.  Viver outra vida diferente da nossa, extravasar nossas tensões, nossas angústias e viver um personagem, através da impessoalidade e até mesmo da homonímia, da invisibilidade e da privacidade pelo não contato visual na comunicação.
 
E quem é esse sujeito do inconsciente que pulsa dentro de nós, e do qual não conhecemos nem um mínimo de suas aspirações, angústias, desejos ?  Ele quer nos dizer algo, ele grita por atenção e por socorro, mas não damos ouvidos à ele.   E assim, ele agoniza tentando se fazer ouvir, através dos sintomas psicossomáticos, das neuroses e das psicoses.   Existe um sentido pra tudo isso. Um sentido que é o mais puro sentido de nós mesmos. Nosso verdadeiro EU só é completo se conhecermos nosso Eu Interior, nosso inconsciente.
 
A psicanálise não busca, como outras tantas técnicas terapêuticas, adaptar o Ego à nossa realidade.   Isso seria mais, como já ouvi em algum lugar : “seguir a boiada”   A Psicanálise é a técnica terapêutica que leva o sujeito a compreender sua singularidade, através da análise das suas motivações inconcientes e suas demandas afetivas.  

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