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A timidez sob o olhar da Psicologia

1. Muitas pessoas sofrem com a timidez, em alguns casos isso não prejudica seu relacionamento, mas em outros pode afetar o desenvolvimento afetivo, a socialização, e até mesmo o trabalho e o estudo. Como identificar que a timidez é um "risco"? Em outras palavras, até quando a timidez é saudável e quando é preciso buscar um tratamento?

Como foi muito bem colocado, a timidez é um fenômeno bastante comum e, nem sempre, causador de grandes inconvenientes ou problemas – por vezes é até uma forma de proteção e um necessário timing pessoal para se adaptar a uma situação, ambiente ou pessoa nova.

Porém, quando esta timidez alcança níveis tais, nos quais a pessoa evita e se esquiva de trocas sociais, isto pode evoluir para um quadro de retração social grave, fazendo com que a pessoa perca oportunidades tanto no campo relacional quanto no profissional e cultural.

Muitas vezes o indivíduo chega até a apresentar fenômenos físicos (somatizações) desta retração quando, no momento do contato com outras pessoas, ou numa situação social simples, começa a sentir-se muito ansioso, nervoso, sente calores ou frios pelo corpo, começa a suar muito, tem palpitações, gagueja ou perde momentaneamente a fala, tem dores musculares, sensações de mal estar generalizado, entre outros.

Quando a timidez chega a um ponto aonde o indivíduo apresenta tais fenômenos de sofrimento e começa a isolar-se cada vez mais de eventos e situações de troca relacional ou exposição social, um tratamento psicoterapêutico e, por vezes, psiquiátrico é mais do que indicado.

Preventivamente, quando percebe-se que o jovem ou criança apresenta dificuldades na troca relacional e expressão social que se prolongam por mais de alguns meses, é interessante buscar um profissional Psicoterapeuta para avaliar e orientar a situação, junto aos pais e/ou responsáveis.

2. Quais são as causas da timidez?

Como muitos fenômenos e quadros na psicologia e psicanálise, tal evento afetivo-social tem sua raiz em causas multifatoriais: desde a forma da educação familiar, experiências pessoais negativas no campo social, vivências culturais e sua interpretação no sentido da retração social, auto-imagem corporal à crenças pessoais que remetem ao sentimento de inadequação social, insegurança ou até fobia social.

A avaliação cuidadosa e criteriosa de cada caso singular é fundamental para se encontrar e trabalhar o que causa este afastamento ou inibição na troca relacional daquele indivíduo em particular.

3. Quais são as principais dificuldades de um tímido?

Os rituais e padrões de trocas comunicacionais e relacionais sociais, desde os mais simples aos mais complexos, remetem ao "tímido" muita tensão e, por vezes, mal estar – levando ao afastamento, isolamento e perda de oportunidades.

Por exemplo: um jovem que frente ao apelo cultural de precisar ter um corpo malhado e sarado, percebe-se diferente da imagem esperada socialmente, e julga-se então inadequado e/ou inseguro frente às garotas e aos colegas, evita festas e eventos sociais buscando, ao invés disto, uma atividade física para alcançar o padrão físico desejado – como se esta fosse a ferramenta única que possibilita sua inserção social – o que é um mal entendido, uma crença errônea.

Ou um jovem que por pertencer a uma classe social ou cultural sente-se inferiorizado e não consegue superar o preconceito ou estereótipo social e escolhe manter-se afastado.

Os exemplos são dos mais variados, abrangendo desde questões pessoais à expectativa e padrões sócio-culturais impostos – mas o enfrentamento e superação destes, é uma caminhada individual. Cabe à pessoa superar estas dificuldades, com ou sem auxílio externo.

4. Timidez em excesso pode se tornar um problema grave ou mesmo virar uma fobia? Como?

Sim. Como um ciclo vicioso e repetitivo, a retração, quanto mais cedo na vida do indivíduo se inicia, pior se torna na passagem das etapas e fases do desenvolvimento humano, podendo adquirir características fóbicas ou de total isolamento social – por temor, angústia ou inabilidade na troca afetivo-relacional.

Portanto, se a criança já apresenta traços de retração e isolamento social, é fundamental que a mãe busque o quanto antes uma avaliação psicodiagnóstica.

5. Como é o tratamento para a timidez? Quais são as técnicas mais usadas hoje em dia?

Inicialmente, em todo paciente que vem ao consultório, se escuta quais são as queixas e sintomas; o que o incomoda, como ele enxerga e lida com suas dificuldades, o que ele busca.

O tratamento psicoterapêutico visa encontrar qual a situação que se apresenta e quais são as ferramentas, potencialidades e dificuldades que o cliente possui – o que será necessário fazer e o que ele pode e deseja fazer para a situação em questão – é um caminhar conjunto, psicoterapeuta e cliente. Um caminhar rumo a soluções possíveis, viáveis e desejáveis para o cliente.

As técnicas vão desde dramatizações (Psicodrama) de situações-chave de dificuldade, análise de crenças e do discurso repetitivo e limitante, até visualizações e planejamento de mudança de comportamento e postura – cada linha psicoterapêutica utilizará seus instrumentos e ferramentas clínico-teóricas para obter melhora no quadro patológico apresentado.

6. O que a pessoa que sofre com a timidez deve fazer para tentar vencer, ou pelo menos ter uma convivência melhor, com ela?

O primeiro passo é tomar consciência da dificuldade que se apresenta, ou seja, reconhecer-se como tímido e ter consciência dos desafios advindos desta postura.

Em muitos casos, aulas de dança e teatro são indicadas e surtem resultados fantásticos para os quadros de timidez e retração social.

Além disso, o enfrentamento de situações difíceis e geradoras de ansiedade, sob acompanhamento e orientação de um psicólogo é uma das melhores alternativas.

7. Como uma mãe pode identificar e ajudar uma criança tímida com problemas de socialização?

A observação da atividade lúdica da criança e sua interação com o meio externo sempre são ótimos indicadores.

Como a criança lida com frustrações, com limitações, com situações novas, com os amiguinhos, com as tarefas diárias, sua expressão afetiva e sua comunicação são maneiras de avaliar como a criança está.

É esperado que a criança tenha disposição e rápida capacidade de adaptação, por sua própria natureza infantil.

Se a mãe percebe que há travas, há limitações e que a criança não consegue superar – uma conversa franca no sentido de dar dicas e conselhos sempre é útil. Para a criança, o mundo adulto é muito complexo e, na maioria das vezes, precisa do respaldo, da tradução e da orientação de um adulto.

Atividades sócio-recreativas sempre são saudáveis para uma criança: ir ao parque, ir a uma festinha, estar junto a outras crianças, participar de um grupo de atividades manuais, pintura, esporte, etc.

8. A timidez é comum entre os adolescentes, às vezes impedindo de um menino se aproximar de uma menina (e vice-versa). Como os adolescentes podem superar esse problema?

Digamos que isto é uma prova, um obstáculo natural, no "encontro e estar com o outro", que ajudará o e a jovem a amadurecer e desenvolver suas habilidades sociais, como se fosse um rito de passagem, no qual vemos a evolução do ser criança para o lentamente tornar-se adulto (e não é o único rito, mas é um de grande importância – identidade e marca social.

Após um período afastado do universo feminino, pois estava ocupado em atividades exclusivamente masculinas, no "Clube do Bolinha", o menino, agora adolescente começa a reparar na menina, agora moça, e se interessa por ela de uma nova forma – esta nova forma implica em maneiras diferentes de conversar, puxar assunto, "chegar junto".

A convivência com outros jovens, a possibilidade de desenvolver sua identidade social dentro de um grupo ou "tribo" escolhida, a participação de grupos e atividades jovens auxiliará o e a adolescente a lidar com os conflitos e travas advindos desta nova e, muitas vezes, longa fase.

A fase chamada de "aborrescência" por alguns adultos e repleta de descobertas e sofrimentos, tão bem retratados no seriado brasileiro "Confissões de Adolescente" e no seriado americano "Anos Incríveis" – é cheia de altos e baixos. O psicanalista Cordado Calligaris, no livro Adolescência, aponta alguns dos dramas e dificuldades deste momento crucial na vida do ser em transformação.

 
 
Reportagem sobre timidez foi publicada no Uol Ciência e Saúde no dia 28/11/2009  – elaborada pelo Jornalista Chris Bueno. Realizada com Psicologo Rene Schubert ao inicio de novembro 2009.
 
Link: http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2009/11/28/timidez-atinge-cerca-de-metade-da-populacao-mostra-estudo.jhtm

http://reneschubert.blogspot.com/2009/12/entrevista-completa-acerca-da-timidez.html

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