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Implicações da castração edipiana na sociedade capitalista

Tratar-se-à, neste artigo, sobretudo, da sobrecompensação visuo-narcísica como base etiológica do histerismo capitalista, com propostas etiológicas para a ejaculação precoce, para o desenvolvimento de tendências pornográficas, e para a própria histeria. Tratar-se-à, em geral, das implicações da castração edipiana na sociedade capitalista.

Relativamente ao Complexo de Édipo, e decorrente do mito, a ameaça edipiana implícita em relação ao homem será a castração visual, a castração visuo-narcísica. Haverá uma tentativa de fazer regredir o homem psiquicamente, narcisicamente. Isto, tendo em conta que o aspecto visual está associado à voracidade visual da fase que subjaz a posição esquizo-paranóide, caracterizando a estrutura psicótica, com características introjectivas, como faço referência em A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein (Resende, 2010).

Considere-se, para mais, quando Bergeret ( 1997 ) diz que cerca de 50% da população europeia não pode ser considerada normal, por ter caracterização borderline, com nações europeias a serem sociedades capitalistas. Assim, no Capitalismo global, particularmente Estados Unidos e Europa, teríamos, então, os homens como psicóticos, e as mulheres como histéricas, num enquadramento borderline, em que estas terão bases psicóticas, como se pode ver descrito no meu artigo acerca da posição castrativa, acima mencionado. Desta maneira, homens psicóticos borderline e mulheres histéricas borderline seriam caracterizados pela inferiorização narcísica, com tentativa de sobrecompensação visuo-narcísica. Em consequência, o homem capitalista, no enquadramento borderline, como já dito, poderá não sentir-se castrado corporalmente no pénis, não havendo compensação a este nível, mas tentará sobrecompensar-se narcisicamente na promiscuidade sexual característica nas sociedades capitalistas, na procura e obtenção da visualização do orgasmo feminino. Tenha-se em conta as características matriarcais do capitalismo. Assim, este tipo de homem pretende restaurar-se narcisicamente pelo orgasmo feminino. Poderíamos considerar, aqui, nesta sobrecompensação, as bases etiológicas da ejaculação precoce no homem, podendo nós também aqui enquadrar o desenvolvimento da pornografia.

Na mulher, tendo em conta a primazia da sexualidade na histeria e o facto de esta ser mais característica na mulher, enquadrada nas características fisionómicas da mesma, ter-se-à que ocorrerá uma castração visuo-narcísica, com respectiva sobrecompensação narcísica, que estará subjacente às capacidades multi-orgásmicas da mulher, com dificuldade em obter verdadeira satisfação orgástica. Enquadre-se isto nos relacionamentos sociais tipicamente histéricos, particularmente, entre mulheres, e com os homens, em consequência. Perspective-se as bases psicóticas do histerismo, num enquadramento borderline, particularmente numa sociedade capitalista, para ter em conta a importância visual. Consulte-se o meu artigo A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein ( Resende, 2010 ). Ter-se-à que a tendência multi-orgásmica decorrerá da sobrecompensação visual associada à castração visuo-narcísica, vista socialmente, em espelho, ou imaginada na própria. Considerando que a promiscuidade sexual também é característica das mulheres, nas sociedades capitalistas, ter-se-à, como já dito em relação aos homens, a tendência de procura e obtenção da visualização do orgasmo feminino.  Assim, a mulher pretenderá restaurar-se narcisicamente pelo orgasmo, próprio e das outras mulheres. Teremos aqui uma base etiológica dos relacionamentos histéricos femininos, que se fundamenta na frustração narciso-sexual. Deste modo, a histeria é baseada na inferiorização narcísica da mulher, com tentativas de sobrecompensação.

Quanto às características descritas, tanto para homens como para mulheres, particularmente a promiscuidade sexual e a tendência de procura e obtenção da visualização do orgasmo feminino, enquadra-se aqui o ensaio de Albert Camus, O Mito de Sísifo. O mito diz respeito ao trabalho desenvolvido pelo indivíduo de transportar uma grande rocha, pedra, montanha acima, em que chegando esta ao topo, ela rola montanha abaixo até ao sopé, e novamente o indivíduo tem que fazer a mesma coisa. Ora, parte essencial do mito é que o trabalho é contínuo e parece ao indivíduo, ou é, em vão. Assim, características descritas no ensaio de Camus parecem ser coerentemente enquadradas neste artigo. Essas características são a homossexualidade e o D. Juanismo, este referente a D. Juan e à sua conhecida tendência de promiscuidade sexual. Desta maneira, far-se-à uma caracterização sisífica das sociedades capitalistas.

Para mais, considere-se as sociedades histéricas, particularmente capitalistas, na sua tendência histérica para controlo das massas, no sentido da preservação da unidade das massas, para melhor controlo, como se pode aprofundar em Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque ( Resende, 2010 ), complementando-se a perspectiva da base psicótica do histerismo, num enquadramento borderline, portanto, como enquadrado em A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein ( Resende, 2010 ). É esta perspectiva controlativa que castrará visuo-narcisicamente, tanto homens como mulheres.

Como indicado em Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque ( Resende, 2010 ), o controlo poderá ser feito pelos meios comunicacionais de massas, como a televisão, o cinema, jornais, através da publicidade, notícias, novelas, séries, programas televisivos em geral, podendo mesmo utilizar-se, como se dá o exemplo no artigo referido, guerras para controlar as massas.

Quanto à tendência controladora, com castração visuo-narcísica associada, tem-se que, nos meios de controlo das massas, como a televisão, surgem nos programas de grandes audiências ou canais de grandes audiências, de massas, por assim dizer, situações de excitação sexual com subsequente frustração da excitação. Por exemplo, aparecer um rabo de mulher e a imagem mudar abruptamente, um par de seios e a imagem mudar abruptamente, e, em geral, situações de excitação sexual com mudanças abruptas e/ou indutoras de frustração sexual. Em última instância, haverão sequências no sentido de induzir e manter a sacralização da sexualidade feminina, como o ser inalcançável. Mais à frente, volto ao carácter religioso das sociedades capitalistas. Continuando, dir-se-à que as situações de frustração levarão à insatisfação orgástica das massas, de que Wilhelm Reich nos fala, no seu livro Psicologia de Massas do Fascismo ( Reich, 1976 ). Tem-se, pois, que a insatisfação orgástica das massas leva à psicologia de massas do fascismo, não havendo, nos meios de controlo das massas, uma apresentação saudável e de objecto total da sexualidade, particularmente a feminina.

Voltando ao controlo, através dos media de massas, temos ainda o exemplo da rádio, telediscos, CD's e concertos musicais, o que faz complementar a frustração psicótica derivada do controlo societal das massas, num enquadramento borderline, em que para além da castração visuo-narcísica, e esta frustração auditiva, ter-se-à a frustração oral que levará à obesidade, pela respectiva sobrecompensação, tão contemporaneamente característica das sociedades borderline, com características histéricas. Ademais, na castração oral, sobrevirá uma sobrecompensação narcísica oro-fálica, com a língua enquanto falo, o que levará à tendência para a verborreia, ou seja as características típicas do histérico de falar muito. Isto, considerando as bases orais, visuais e auditivas que subjazem as características esquizo-paranóides, nas primeiras fases do desenvolvimento do bebé humano, que caracterizam os desenvolvimentos psicóticos.

Ter-se-à, ainda, o olfacto, através do nariz, em que tendo em conta as características matriarcais das sociedades histéricas, num contexto borderline, numa perspectiva feminina, teremos que as sociedades capitalistas terão então em conta o carácter religioso que geralmente caracterizam estas sociedades. Teremos, neste contexto, o odor sexual feminino, como relacionado com o olfacto, e enquanto perspectivado enquanto Espírito Santo, considerando que na trilogia, Trindade, particularmente cristã, teremos os aspectos masculinos do Pai e do Filho e os aspectos femininos do Espírito Santo. Relacione-se o líquido vaginal, com o seu odor, que decorre, em particular, da excitação sexual da mulher, com a Água Benta, ou Água Sagrada, que é benzida, e que constitui  a sua epitetomização sacralizada. Considere-se, ainda, as características sexuais femininas, que baseiam o histerismo capitalista, matriarcal, referidas neste artigo, particularmente os fundamentos relacionais e sociais. Assim, pelo já dito, acerca do controlo das massas, a sexualidade feminina, particularmente pelo seu odor sexual, sustentaria as culpabilidades religiosas,derivadas, deslocadas, sobre instituições, pessoas, locais e situações, que caracterizam as sociedades histéricas, num quadro borderline. Tem-se, pois, castração olfactiva que, se considerarmos a constância da presença do odor sexual feminino da própria mulher, perspectivar-se-à a facilidade com que a mulher pode ser controlada em sociedade, mas isto tem repercussões, pelo já apontado neste artigo, ao nível do controlo, em menor grau, é certo, que pode ser exercido sobre o homem que vive na sociedade capitalista, particularmente aquele com tendências religiosas.

Voltando especificamente à castração visuo-narcísica, que ocorre nas sociedades capitalistas, teríamos o homem à procura de hiperestimulação visual, em sobrecompensação narcísica. Veja-se o exemplo das tão procuradas festas e discotecas, pelos jovens, particularmente, com luzes estroboscópicas e bolas de espelhos. Estas bolas de espelhos representam simbolicamente a Lua, que, historicamente, tem conotações femininas, com tendências matriarcais. Estas estão presentes no Capitalismo, tendo-se em conta, para mais, a conquista da Lua pelos Americanos, ou, mais precisamente, Estado-Unidenses, estes enquanto bastião do Capitalismo. Mais exemplos, desta procura de hiperestimulação, são o sucesso de Holywood, e dos programas de televisão, por cabo, particularmente, em excessiva oferta de produtos televisivos e de publicidade, em que relativamente a esta última, sempre se caracterizou por ser frenética, pelo frenesim. Outro exemplo desta hiperestimulação visual são o sucesso dos mega-centros comerciais, com suas míriades de lojas, e suas montras. Para além disso, como se complementa adiante, a hiperestimulação visual é estabelecida, desenvolvida e mantida para controlar.

Relembre-se, aqui, o exemplo do famoso filme de ficção- científica " 2001 – Odisseia no Espaço ". Na parte final do filme, o astronauta protagonista chega perto do planeta Júpiter – repare-se o aspecto da sobrecompensação, narcísica, por Júpiter ser o maior planeta do Sistema Solar – e é bombardeado com uma sobrecarga de estímulos visuais, de côres e formas, com a correspondência contextual visuo-narcísica. Posteriormente, o astronauta chega a uma casa, onde vê um homem idoso a tomar uma refeição. Tenha-se em conta a voracidade oral, com a já referida voracidade visual, característica das primeiras fases do desenvolvimento humano do bebé. Isto, relacionado com o facto de esta fase basear as características esquizo-paranóides do psicótico, quer na sua estrutura de personalidade, quer enquadrado numa perspectiva borderline. Como se considera mais à frente, contextualize-se a psicotização dos homens num contexto capitalista e num enquadramento borderline. Veja-se o meu artigo Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque ( Resende, 2010 ). Considere-se, neste enquadramento, que os homens terão tendência psicótica e as mulheres terão bases psicóticas num relacionamento histérico, como se pode aprofundar no meu artigo A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Kein ( Resende, 2010 ). Relativamente ao controlo referido, repare-se o final do filme mencionado, em que associado à morte do idoso referido, aparece de seguida um bebé gigante a observar o planeta Terra.

Pelo já referido, e na contemporaneidade, dir-se-à, como a banda musical portuguesa GNR: " Gajos castrados, gajas na tropa, Americanos bebem na Europa ", em que a referência aos Americanos é relativa à presença de bases militares americanas na Europa. Quanto a isto, particularmente das " gajas na tropa ", mas associado aos " gajos castrados ", é de reparar a tendência mais recente da tentativa de propiciação de oportunidades societais nas sociedades capitalistas, tendo em conta o Capitalismo global, para o homem negro e mulher branca, numa tentativa de sobrecompensação histórica, no sentido de maior poder e oportunidade de desenvolver e aplicar potencial criativo.  Dir-se-à que os homens negros foram castrados narcisicamente enquanto que as mulheres brancas não saíram do mesmo, já que a sobrecompensação fálica do histerismo, com expansionismo capitalista, e seu militarismo, está presente em " Americanos bebem na Europa ", e o que lhe está subjacente. Quanto a este expansionismo, ver o meu artigo A inveja do pénis e a inveja do clitóris e suas implicações políticas ( Resende, 2010 ). Considere-se, ademais, que a ameaça de castração nas mulheres é tida por estas como já tendo sido concretizada, a nível fálico, que só vem ser confirmado pela menstruação, características passadas estas que subjazem a depressividade histérica, pelas suas características regressivas.

Assim, globalmente, e considerando os meus artigos Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque ( Resende, 2010 ), em que perspectivo o controlo das massas, na histeria de massas, pelo ataque histérico, e A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein          ( Resende, 2010 ), em que perspectivo as bases psicóticas do histerismo, num enquadramento borderline, tem-se que o Capitalismo global contemporâneo caracteriza-se por psicotizar os homens e manter o histerismo nas mulheres, com suas bases psicóticas.

Bibliografia

Bergeret, J. ( 1997 ). A personalidade normal e patológica        ( tradução portuguesa ). Climepsi Editores

Reich, W. ( 1976 ). Psicologia de Massas do Fascismo              ( tradução portuguesa ) ( original de 1933 ). Publicações Dom Quixote

Resende, S. ( 2010 ). A inveja do pénis e a inveja do clitóris e suas implicações políticas in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 15/10/2010

Resende, S. ( 2010 ). Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 15/10/2010

Resende, S. ( 2010 ). A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 08/11/2010

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